Dançavas-me entre sombras de prata
E nuvens de silêncio,
Snifávamos o sorriso do rio,
Fumávamos os barcos aportados num qualquer coração sem alma,
E éramos felizes,
Como são felizes todas as marés curvilíneas da saudade,
Como éramos felizes embrulhados no fumo do “Texas”… meia-noite em ti,
Uma da manhã em mim,
Bebíamos todas as palavras poisadas em cada mesa,
Amávamos todos os abutres da noite
Que deambulavam sobre nós,
Dançavas-me…
E nuvens de silêncio,
E beijos,
Líamos e inventávamos círculos de papel,
Escrevíamos em todos os corpos dos corpos sem corpos.,
E não sabia que existiam beijos de esperança
E cabelos de infância,
À nossa volta,
Gajas,
Gajos como nós,
Voando em direcção ao mar,
Desenhávamos o abraço numa qualquer lápide,
Uma fotografia tua…
Olhos verdes,
Olhos castanhos,
Olhos… olhos enfeitados de naftalina,
Dançavas-me,
E eu não sabia que o amor se escrevia na margem esquerda do teu peito,
Ouvia-o…
O teu coração de pedra,
Ouvia-as…
As tuas coxas suspensas na mão de um qualquer gajo,
Como nós,
Gajos como nós,
E gajas,
E gajas como tu…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 24 de Junho de 2015