Não me contes a estória
Aquela
Do coitadinho sem dinheiro
A sua riqueza era a literatura
E a poesia
Tínhamos construído a tenda do silêncio
Alicerçada às tuas coxas
Como serpentes em aço
Voando
Gritando…
Não
Não me contes a estória
Aquela
De…
A tarde mergulhava no sémen da tristeza
Os barcos brancos
Roucos
Sós
Caminhando nos teus lábios
O poema habita no sexo do poeta
O teatro encerrado
A casa de putas embrulhada na insónia
Não tenho palavras
Para aliciar o teu cigarro
A morte vive nesta casa
E nesta casa vivem
Livros
Velhos
E loucos
Jardins de naftalina
Escrevo-te
Meu amor
Vivo apressadamente no intuito de um dia
Amar-te
Não acredito
Nas palavras
No chocolate derretido entre quatro paredes
O colchão envenenado
Morto
Amado
O teu corpo de mogno
As flores
E os socalcos envidraçados do abismo…
Não sei… meu amor
O que é o amor?
Uma espingarda
Um canhão de beijos…
… ou… o amor
A paixão tridimensional da razão
O coração arde
E lança-se ao povo
Gritam
Choram
As luzes da aldeia
E sem o saber
Ele
Desculpe… quem é ele?
O esqueleto de pano…
Do meu sonho
Nublado…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 20 de Março de 2015