Este amontoado de sucata que apelidaram de corpo
Enferrujado como os ventos que assombram a montanha
Encurralado nos rochedos desde o amanhecer
Até ao sol-posto,
Não quero querer
Que este corpo pertence à geada
Que este corpo é feito de velhos papeis e ossos em poeira
Esquecido numa velha calçada,
Não quero querer
Que este corpo brincou na eira
E hoje faz-se transportar pelas palavras envenenadas
Entre marés de sono e noites cansadas,
Ai… ai este corpo amontoado de sucata amordaçada
Vivendo da escuridão da cidade
Sem janelas para o mar
Sem vida, sem idade,
Este amontoado de sucata
que apelidaram de corpo…
não é de prata
nem sequer oiro maciço…, mas é o meu corpo, o corpo de matar!
Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 18 de Janeiro de 2016