Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jan 15

O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,

Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele

E ele?

Incrédulo,

Vocês. Aqui?

Sim, pá, nós aqui,

António florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e regressava,

Não,

Não acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,

Não,

Um cigarro, tem lume? Que não, que não,

Vocês aqui...

Meus Deus, tanta solidão, frio, fome...,

Foste tu que quiseste, ou não?

E António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,

Eu é que quis...!

Quase como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois

Não, não acredito,

Os Primeiros cheiros de Lisboa,

O fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...

 

 

(…)

 

 

(Texto ficção)

25/01/2015

Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:51

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