Finalmente o fogo.
A vaidade da pobreza quando o homem acorda no teu peito,
As lágrimas da escuridão são capazes de dilacerar as tempestades de Verão,
O cansaço disfarçado de mendigo,
Acordar cedo,
Não comer,
E acreditar na saudade.
O fogo.
Lâminas de prata nos teus lábios,
Palavras desastradas no teu olhar…
Quando o poema se prostitui nas tuas mãos.
Invade-me a saudade de partir para a montanha,
Levar comigo os teus livros,
Viver sentado na sombra do ciúme,
Como campânulas de sono e drageias de sorriso…
Oiço o mar.
Os barcos encalhados nos meus dedos,
Vestidos de cetim nos seus ombros,
Cacilheiros,
Aldabrões…
E outros cabrões…
E mesmo assim,
Ao nascer do dia,
Sou confrontado com os teus beijos,
Poeirentos,
Com cheiro a naftalina,
Vaidosos segredos,
Nos muros de xisto do teu coração,
Anima-te rapaz.
Porque o fogo,
Esse animal de estimação,
Um dia,
Vai acordar na tua boca.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 21 de Abril de 2018