Não consigo encontrar os alicerces do dia
das crateras da tua voz oiço o salivar ciúme da solidão
viver dentro de uma caixa em cartão
e a noite desaparece na carlinga do beijo
descem sobre os teus ombros os rochedos da paixão
as palavras emigram como sementes de vento
contra as ruínas do teu peito
ausente
as pessoas
os dias
as viagens sem regresso
na ponte metálica das marés de vidro
há na tua voz um círculo de luz
que vagueia entre o luar
e a sofrida canção da madrugada
o xisto poisa na tua mão
como se ele fosse uma rosa embalsamada
folhear os joelhos dos livros enganados
o rio em suicídio contra a montra do sofrimento
e dos teus seios
oiço...
o salivar ciúme da solidão
na cárcere
doido
perdi-me neste emaranhado complexo de equações
sem solução
o quadriculado papel em chamas
ardente dos lábios em fuga
e não suporto as lâminas de aço do medo
perdi-me
doido
na cárcere das ardósias clandestinas e vaidosas da tarde
a tarde...
é tarde meu amor
é tarde
quando adormeço nos teus braços.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Março de 2015