Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jun 14

foto de: Stéphane Spatafora Photographe

 

O vazio,

e falsas esperanças mergulhadas no buraco da solidão,

o vazio que se traveste de dor, o silêncio que embrulha o sofrimento,

este rio que são as tuas mãos, perdidas no musseque anónimo da paixão,

as crianças saltam até agarrarem as flores que habitam o tecto da noite,

vazio, sisudo... sentido proibido de amar,

o vazio imprevisto, descontínuo... o vazio agreste dos olhos da estátua de granito,

há sombras que embriagam os teus seios de porcelana e eles, eles a construir sorrisos desde...

 

(desde o último luar)

 

O amor,

também ele, vazio,

pobre,

ângulo obtuso quando alimentado pelo púbis da madrugada,

 

(hoje não corações, hoje não beijos – a esplanada recheada de vampiros)

 

O vazio,

homem rude, homem dos sete ofícios, o homem mendigo que descobriu a falsa esperança,

o fantasma,

o vazio dos telhados que a cidade ignora, despreza, que a cidade... não quer,

 

Que cidade é esta?

 

Vazia,

sem pessoas, sem imagens, sem..., sem nuvens,

o sombreiro carnívoro que devora todas as palavras que a tua pele transpira,

gotículas de poesia descendo o teu corpo, até que a falsa esperança ilumina o teu cabelo,

e sei que deixou de viver,

hoje... nada, a cidade provocadora, a cidade dos teus suspiros,

uma porta que se encerra, e morre, e levita,

a lanterna do Adeus, sempre acesa, sempre pronta a suicidar-te com os beijos de alvenaria cansada,

 

(hoje, hoje não)

 

Que cidade é esta?

 

(desde o último luar)

 

Que deixei de amar a espuma dos espelhos de amanhecer,

e sem o perceber,

descobri que a falsa esperança... que deixei de amar, não existe mais,

o vazio, o vazio corpo da sílaba encarnada...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:05

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