Deixaste de me ouvir
E destruíste os muros invisíveis da paixão,
A árvore da madrugada silencia-se
Das palavras da enxada que desbasta a montanha do amanhecer,
Deixei de ter corpo,
Deixei de pertencer aos habitantes desta cidade em ruinas…
Onde habitava desconhecendo o sabor do poema,
Os lábios,
Os beijos prisioneiros dos lábios
E todos os alicerces da tarde em construção…
Morreram como morrem todos os bichos que brincam na minha mão,
Deixaste de me ouvir…, e mesmo assim, vives dentro de um pequeno cubo de vidro,
Tens no olhar as fotografias da tristeza
E na boca as sombras da noite,
Deixaste de me ouvir
E ficamos apenas com alguns pedacinhos dos muros invisíveis da paixão,
Caminho sobre a estrada do sonho,
Desenho círculos no peito da areia como se fossem cadáveres sem nome,
E nos meus braços
A felugem argamassa do prazer
Sangrando pelas feridas do abismo,
Fiquei sem apeadeiro
Quando a locomotiva da dor zarpou em direcção ao mar…
E tu, deixaste de me ouvir.
Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2016