Suspendo nos teus olhos todas as palavras que não quero escrever,
Porque tenho o tempo limitado nas mãos do luar,
Suspendo nos teus olhos todos os sonhos que não quero viver…
Abraçado ao mar,
Recordo os barcos em papel que construías só para mim,
As ruas desertas e o som do capim…
Agora sou um desiludido com a vida suspensa no teu olhar,
Um homem que olha para a forca e para a faca invisível do sofrimento,
Construído em alumínio calcinado pela tempestade,
Adoro o vento,
E a cidade saboreando o vento…
Quero dormir e deixei de ter sono,
Porque nesta montanha onde habito,
Eu grito,
E escrevo nas sombras do destino,
Ai quando eu era menino…!
Ai quando eu era um vagabundo ouvindo o sino…!
E tinha sempre comigo a saudade.
Saberei esquecer nos teus olhos todas as palavras que não quero escrever?
Vejamos.
Ontem sonhei que fui atropelado pelo teu amor,
Um ramo de flores que trazias na tua lapela…
Como trago na minha um ramo de dor…
Ou uma canção tão bela,
Hoje termina o dia como terminam todos os dias…
Tristes e com chuva invisível,
Vejamos.
As laranjas são doces,
Perfumadas,
Encosta abaixo recordo as palavras assassinadas
Nas encostas das janelas entreabertas para o luar…
Vejamos.
As laranjas são doces,
Encantadas,
Quando o rio esconde madrugadas…
E nos teus olhos…
Suspendo todas as palavras.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 4 de Junho de 2017