Não,
Não regresses nunca aos meus braços de silêncio prensado,
Não digas
As palavras que não escrevi,
Nem aquelas que pensei algum dia escrever,
Não,
Não regresses,
Aos meus braços,
De silêncio,
Prensado,
O meu corpo envenenado pelas sanzalas de verniz,
O capim incendiado dentro de mim,
Não,
Não regresses,
Não regresses aos meus lábios de noite prostituta,
Na boca de todos os transeuntes sombreados das avenidas em cio,
Não,
Não entres pela minha janela desenhada numa qualquer parede invisível,
Sem nome,
Nome…
(Francisco Luís Fontinha)
Um criado ao seu dispor,
Um mendigo embrulhado nas palavras,
Regressar,
Não venhas,
Há na madrugada uma fendilhada manhã ainda não nascida,
Uma criança de lodo…
Brincando junto ao mar,
E eu pensando em regressar,
Não,
Não regresses nunca
Aos meus braços prensados pelos infelizes dias sem o teu rosto,
Os cadeados de néon saltando os muros embriagados da cidade fotografada
Pela mão de um louco,
A loucura a dor o sofrimento a morte…
Regressam sempre,
Sempre,
Como o rio regressa ao mar…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Junho de 2015