Os sítios comuns
sempre a mesma rua
o mesmo cigarro
o senhor da esquina
jornais
sapatos
trapos
livros
velhos
o mesmo fumo
todos os dias
o horário nocturno,
as filas invisíveis para ancorar o sono
a cama
o sofá
velhos
iguais
feios
imundos como os meus poemas
os sítios comuns
em círculos de espuma
uma janela doente
o reumático
nunca se abre,
os ossos em papel
ardem
desassossegadas palavras
na algibeira do senhor da esquina
o corpo que se vende
e as estátuas que se compram
ninharias
coisas pequenas
pedras
barcos
cidades a apodrecer
sexos complexos nas montras do abismo,
acreditar
e desacreditar
nos livros
dos livros
e das jangadas de silêncio...
a mão poisa no ombro da manhã
afaga-lhe a cabeça
desenha-lhe no olhar a solidão dos panfletos adormecidos
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vende-se apartamento junto ao mar...
e sempre a mesma rua
sempre o mesmo cigarro.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Março de 2015