A casa amarela
Dos segredos invisíveis
A impossibilidade de amar
Quando o vulcão da esperança
Em línguas de fogo
A aventura de cessar
Todos os prazeres da vida
Deixar de viver
Meu amor
Estando vivo
Deixarei de pertencer aos sábados melancólicos
Se me abraçares no espelho da paixão
Deixei de perceber o amor
E perdi-me no tempo
Não sei o que é amar
Quando amado fui
E amado não serei mais
As mãos
As tuas mãos pinceladas no meu corpo
A atmosfera embriagada das cancelas do amanhecer
O amor imperfeito
Ingénuo
Ambíguo…
Amanhã
Meu amor
Domingo
Sem sentido
Perdido
Eu
Nas tuas sombras de incenso
Pego nas tuas asas de papel
Escrevo uma mensagem
E voas
Como corpos em cinza
Levados pelo vento
Das tristes insígnias
Tenho medo
Meu amor
De amar-te
Quando percebi
Que não sei amar
Sou um imbecil
Um… um vulto de nada
À janela
Olhando a tua alegre beleza
Na escondida esplanada
Sentados
Brincamos às escondidas
Eu escondo-me
Tu escondes-te
… e ele
Eu
Escondido no teu peito
A masturbada cintilação
Das palavras em flor
Os livros comprados
Meu amor
As palavras penhoradas
Por ti
Quando a minha vida
Valia quase nada
Não tenho preço
Nem idade
Nem fotografia
Sou um triângulo apaixonado
Pelas janelas das equações diferenciais
O caderno
Em quadrados
O teu corpo
O meu corpo
Em pedaços de rectas
Sem destino
Tu
Ao acordar
A carta de despedida
Envidada
Do cansaço
Atravessava a eira
Sentava-me
Meu amor
Ouvia o sino de Carvalhais
Meu amor
Oito horas da noite
Vejo-a
Sinto-a
Quando a janela em liberdade
Me trazia o som das cigarras
Pensava em ti
Pensava na Teoria da Relatividade
Ai…
Meu amor
A saudade
Caminhava sobre o teu corpo de gesso
A iluminação da alegria
Hoje
Não
Meu amor
Hoje eu não te mereço…
Tenho em mim a tua morte
Sílaba apaixonada
Das pedreiras abandonadas
Vou
Não regresso
Meu amor
Aos teus braços
Sei que a noite me mantém vivo
Porque cerro os olhos
Pego numa tela vazia
E desenho o teu sorriso de granito…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Abril de 2015