Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Set 14

Não digas o meu nome,

nunca...

rasga-o e lança-o ao vento,

não digas o meu nome na vã esperança,

porque o cansaço alimenta...

e a noite come os êmbolos do meu silêncio,

sou uma máquina em aço laminado,

o meu esqueleto é composto por rodas dentadas,

roldanas...

e milímetros de fio desengonçado,

não,

não digas o meu nome,

amanhã acordarei?

sem nome,

idade,

altura...

amanhã nunca,

o meu nome lapidado...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

30
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Ofereceu a bala inseminada com as impressões digitais do poema em construção, poisou os cotovelos sobre a iluminada folha de papel com meia dúzia de palavras, leu e releu e puxou o gatilho da caneta de tinta permanente sobre a secretária em pinho, voaram sobre a biblioteca todas as gaivotas de porcelana que permaneciam entre os livros e outras bugigangas, aos poucos, como silêncios de um pêndulo cansado, foram cessando as agonias do homem poeta da caneta de prata, uma bala silenciada adormecia-se como flores numa jarra, dentro dele apenas se ouviam as esquina de luz do espelho prateado,

A saudade submergiu do corpo caído sobre a secretária, ouvias as minhas preces como quem escreve um livro infinito, uma estória que só termina quando duas rectas tristes e sós se encontram

No infinito,

Dizem-me, eles,

A saudade é filha da balda da caneta de prata, as palavras morreram como morreram os teus sorrisos e como morreram as tuas caricias e como morreram as tuas mãos sobre o meu peito em feitiço... e como morreram

Quem quem morreu?

Como morreram os fantasmas dos roseirais de Luanda, e há uma filme escondido nas paredes de um casebre, na parede traseira uma placa com a inscrição de “FIM” aparece

Desaparece

E morreram os teus lábios nos meus lábios quando entrelaçados nos meus cabelos as lições de piano, o som melódico das teclas borbulham nos alicerces da madrugada, ofereceu a bala e suicidou-se com a caneta de prata

Sentia o cheiro intenso da tinta derramada nas alvenarias como desenhos abstractos que os teus olhos inventaram nas prateleiras velhas, nas prateleiras caducas, morreram os teu seios nos meus lábios, morreram as tuas cintilantes pálpebras nos cadeados de estanho, e ouvia-te das lágrimas os aplausos nas cantigas dos rabugentos e enferrujados barcos,

O aço é um corpo só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim

Quem quem morreu?

A bala, procuravam em mim a caneta de prata o suicídio fictício das palavras,

Quem quem morreu?

A bala, procuravam em mim as sombras desnorteadas das tardes de Segunda-feira, e eu, eu sabia-o, admitia-o... que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu silêncio, um dia, tu, eu, que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu sofrimento de lírio apaixonado, deitado sobre a secretária da

Saudade?

Que morreram as tuas peugadas absorvidas pelo meu pesadíssimo corpo em aço, só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim

Quem quem morreu?

A saudade,

(só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim)

Quem quem morreu?

Quem quem morreu?

O amor das pedras cinzentas...

FIM.

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 30 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

28
Jun 11

Não cai a noite,

E o céu não tem estrelas,

O espaço fica vazio e o vácuo em quadraturas circunflexas nos braços entreabertos quando o tronco em madeira se afunda no lodo do rio, os braços dele um perfil metálico aparafusado a sábados nocturnos e domingos na cama, uma cruz crucificada disfarçada de homem todo o terreno, tracção às quatro rodas, GPS e computador de bordo, e nos lábios um parafuso em aço a disfarçar o cigarro esquecido no bolso, e o calor é tanto e o calor é tanto que o tronco de árvore começa a derreter, e os braços gravíticos de sorriso lei da gravidade separam-se dos alicerces magoados nas profundezas da terra, as equações da estática tombam e a tensão arterial do esforço transverso esconde-se sorrateiramente entre o esqueleto encardido da pele lilás do eucalipto, doente, do eucalipto encurralado na floresta dissidente de gritos ásperos e afoitados da voz decrépita, e a equação da dinâmica,

- O que é o Amor?,

Uma roda dentada de mão dada com um veio excêntrico,

As carnes aproximam-se e fervem num tacho de alumínio, a liga das meias o elástico que surpreende a energia potencial em sopros a uma folha de papel, e as estrelas começam a elevar-se como grãozinhos de poeira no sentido contrário ao da rotação dos ponteiros do relógio,

- Não cai a noite,

E o céu não tem estrelas,

O espaço-tempo de Einstein em curvas nos seios da manhã, todos os corpos e todos os objectos sugados do hipercubo, e no vácuo o crucifixo pendurado na parede da escola, a fotografia do orelhudo, e uma ardósia com luzinhas que acendiam no escuro, a tabuada do oito aos pontapés à tabuada do cinco, e na prova dos nove sobrava-lhe sempre um,

- Cinco vezes quatro a dividir por dez,

E dois senhora professora,

Que tombam no lodo do rio, os braços, as pernas senhora professora, as pernas que tropeçam no rego de água e atrapalham-se com a rama das batatas, e a cabeça senhora professora, a cabeça está pendurada no recreio junto ao pinheiro,

- Bichos,

Muitos senhora professora,

Muitos dias sentado no mesmo xisto, muitos dias a olhar os mesmos socalcos, e muitos dias o céu sem estrelas, e muitos dias senhora professora, e muitos dias que não cai a noite,

E se cair senhora professora, se cair a cabecinha partida nas pedras da calçada, os caixotes do lixo remexidos pelas mãos dos monstros adormecidos, sem medo senhora professora, sem medo da fotografia do orelhudo que me olha na parede, e com sete anos questionava-me,

- O que faz aquele filho da puta pendurado na parede,

E ainda bem que se fodeu,

Ainda bem senhora professora,

Gostei de a reencontrar senhora professora.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

27
Mar 11

Sou uma estrutura construída em aço

Alicerçada na noite

Quando das estrelas acordam silêncios

E o meu braço

 

Se esconde na neblina

Oiço os espinhos da rosa

Que ferem a minha mão

E a minha mão afundada na prosa

 

E a minha mão construída em aço

Resistente à madrugada

Sólida quando vem a tempestade

Sou uma estrutura muito bem calculada

 

Sorridente à imtemperie

Ninguém, ninguém conseguirá derrubar.

Sou feito em aço e sei chorar

E de aço também posso vergar

 

Sou uma estrutura construída em aço

Alicerçada na noite

Filho das nuvens…

Sou uma estrutura… perdida no cansaço.

 

 

 

FLRF

27 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:59

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