Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Acreditava que o sonho se vestia de branco

que em todos os jardins existiam esqueletos de aço com coração de veludo

e que em todas as palavras pronunciadas...

escritas

e apaixonadas... habitavam as mãos do delírio sono extinto das noites circunflexas

tínhamos no sono a ânsia de viver dentro dos poços das amoreiras em flor...

crescíamos

e vivíamos...

e éramos vultos comestíveis como as folhas dos plátanos adormecidos

queríamos a paixão e vinha até nós a solidão

desejávamos o prazer

e acordava em ti a desilusão de deambular sobre os coqueiros em papel...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:21

03
Nov 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

acreditava que eras em pedra maciça e que tinhas no cabelo uma seara de trigo

havia nuvens de poeira que envolviam o teu olhar

e sempre que chovia

uma janela acordava no teu peito

acreditava que não choravas porque as flores não choram

e eu

acreditava

que eras em pedra maciça

e eu

acreditava

que eras uma flor

com perfume de desejo

 

acreditava que pertencias às gaivotas de asas em papel

que vivias no mastro dos barcos doentes

e que amavas os homens como eu

esqueletos vadios

rolando as calçadas em direcção ao Tejo

acreditava que tu eras diferente

e que a escuridão da tua pele sangrava espinhos de chocolate...

doces desenhos no suor cuticular da vaidade solar

e tinhas na boca as palavras de vento que vomitavam bandeiras brancas em dias de tristeza...

acreditava

que eras uma flor

acreditava

 

que eras... um desejo

um corpo

um beijo de sílabas enlouquecidas numa tarde de Sábado

e no entanto

a tua escura pele adormeceu nos agrestes desenhos do Baleizão

que eras uma flor

lábios pintados de encarnado

beijos doirados

acreditava

e tudo parecia a mão da Inquisição sobre o púbis da saudade

havia ruas da cidade submersas em ti

como cordas de nylon aprisionando pêssegos carcomidos dos pássaros pretos

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:29

16
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Como acreditar... como confiar... como? Apenas acreditando e confiando..., apenas navegando, apenas, sem mais, nada mais do que, como? Apenas, e muito, os livros e as personagens dos livros, os livros e as estórias dos livros, os livros, as mulheres, as mulheres e o corpo das mulheres, sós, apenas, como?

Como ser feliz quando não se é feliz, como, como acreditar... como confiar... como?

Sendo,

E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando?

Sendo, parecendo ser e não o ser, esperar, esperar, só, sentado, numa banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas

Palavras?

As loucas palavras?

Sendo, eu sei, voando, se eu soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e ficando, e deixando

As loucas palavras?

Como retirara venda dos olhos, se ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas dos céu, servindo, como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores, as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo como tu, apenas, assim... como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos na fogueira, sendo, acreditando e

Palavras?

As loucas palavras?

Sofrendo, e ardendo em ti quando transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?

Acreditando,

E

E como confiar?

Confiando,

Não o sei, apagando esse fogo, ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e

Acreditando?

E acreditando...

Acreditar? Brincando como palavras sós, desejosas de serem desejadas, brincando, brincando sós, nós, entre árvores e rios, e socalcos como telas envelhecidas das paredes novas do amor, acreditando?

Acreditar... que, talvez, o amor, viva como vivem os homens e as mulheres, brincando, e sofrendo, e acreditando... confiando, vendo e sendo, uma noite vestida com pregos e tábuas finas, e as lâminas de água, e os barcos envenenados com saudade e o silêncio,

Confiando?

Como confiar se amanhã pode não ser Sábado?

Sendo,

E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando? Acreditar, sim, sim sendo, sentados como ontem, sentados a ver o mar, a regressar de longe, apenas e sós, sendo, eles,

Acreditando,

Acreditando?

Acreditando que assim sendo, amanhã, amanhã regressará para nós, os ditos sonhos, que vimos fugir, que vimos partir... como um tornado correndo montanha abaixo, sós, nós

Acreditando?

E em acreditar... eu... sofrendo, sofri, não dizendo que... amanhã poderá não ser Sábado,

Quem o garante?

Ele?

Ela?

Ou... vós, vós que sois cortinados de uma janela à beira do precipício...

Esperando

Acreditando que acreditar,

Não,

Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nãos mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos desejando, corpos... acreditando.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:38

19
Jun 13

foto; A&M ART and Photos

 

Via a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei

É o fim, o eterno fim,

As nuvens tristes, prontas a comerem-me, saborearem-se com a minha carne em cadáver, como o fazem os abutres (aves e humanos), das poucas gotas de chuvas que sobejavam dos lobos dispersos pela montanha, ainda coberta pela neve do Inverno, havia um que me chamou à atenção, e de tão distraído que sou, só depois de o observar, uma, duas, três... talvez quatro vezes, percebi que ele trazia na lapela uma folha de papel com um desenho ilegível, perguntei-lhe

Querido lobo, que desenho é esse?

Cerra os olhos, finge que eu sou uma pedra, um arbusto ou pior, que eu não existo, deu meia volta e desapareceu entre os outros companheiros, como quem foge do silêncio quando as palavras apenas servem para interromperem a noite, desviarem todas as estrelas dos espelhos côncavos das cidades sem rios, e

Querido lobo, que desenho é esse?

Se possível, mesmo antes de acordar a manhã, fazer com que todas as lâmpadas da cidade se apaguem, como os corpos putrefacto, dentro de um congelador gigante, numa qualquer morgue, onde existe sempre uma flor não identificada, à espera, que desespera a chegada de um abutre, e assim, aliviar todo o sofrimento dos corpos sem cabeça, sem braços, sem leme que seja possível prosseguir viagem,

Há uma lenda que alimenta desde os primórdios os mosquitos de asa tricolor, e sobre o fino prato de sopa, infelizmente, apenas só, em permanente solidão, que como o corpo putrefacto, espera e desespera pela chegada..., neste caso da dita sopa, não do abutre (ave ou homem), apetecia-me ouvir POP DEL ARTE, e como teimoso que ele é

Acredito,

Acreditar, porque não? Até prova em contrário, todo o réu é inocente, como assim?

Acredito, eu acredito,

E como teimoso que ele é, acredito que passe o resto da noite a ouvir POP DEL ARTE, depois, depois pegará num livro de poemas de AL Berto, entre um poema ou três no máximo, deliciar-se-á como um pássaro a atravessar o Oceano, lê os poemas, ouve a música, adormece suavemente como

“Vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei

É o fim, o eterno fim,”

Como se tudo em si fosse um misero sono dentro da cabeça de um mosquito com asas tricolores, dentro de um prato de sopa, sem sopa, como à janela da solidão, e o desgraçado do lobo, até hoje, nunca me saciou a curiosidade e me contou o significado do desenho ilegível que trazia na lapela...

É o fim?

Eu, acredito, acredito que não..., vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei

Vi o céu a desaparecer, e pensei

Vi, e pensei...

Hoje, POP DEL ARTE e AL Berto, porque não? Acreditar...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:17

31
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Acreditava no silêncio

e perguntava-me porque todos os ausentados

esqueciam as pequenas rochas às palavras acorrentadas em pedaços sofrimentos

entre aços veleiros e panos transparentes suspensos sobre a cidade das colmeias adormecidas,

 

Acreditava na madrugada

quando eu próprio mergulhava nas suas garras como um vampiro desalmado

triste

cansado,

 

E mesmo assim eu acreditava

no silêncio

nas palavras

e nos muros de vedação,

 

Acreditava no betão

e nos telhados de areia

nas nuvens e na chuva miudinha dos Sábados à tarde...

… acreditava que o teu corpo era uma fina folha em papel crepe,

 

Distante

fundida como as lâmpadas da sala de jantar com pratos embriagados

e talheres roubados

da mesa de um ricaço qualquer...

 

Acreditava como serpentes em madeira

correndo no corredor da vizinha

e do apartamento ao lado

eu acreditava nas imagens negras em sabão clarim...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:35

24
Jun 12

ao longe

longe muito longe

longínquo

vivem as palavras “acreditar” e “ter esperança”

ao longe

corro

corro desalmadamente

e não lhes consigo tocar

 

ao longe

longe na ardósia da saudade

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

 

ao longe muito muito longe

longe vivem as palavras

longe dormem as sílabas

de longe longínquo vai o meu corpo à fornalha da solidão

do dia e da noite

as luzes suicidam-se no precipício do oceano

 

ao longe

choro e chora e choro

e mingua e minguo e mingua a charada da vida

na cidade pobre

da cidade perdida

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

da solidariedade

 

(palavra filha da puta)

 

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

que um dia

acorde o sol dentro de mim

que um dia

seja sempre dia

debaixo dos plátanos do jardim

que um dia que um dia as estrelas sejam de papel.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

31
Mai 12

eu não acreditava

que o mar era quadrado

que a terra chorava

eu

não

eu não acreditava

que o meu coração

palpitava

galgava

porque era quadrado

o mar

onde eu me banhava

 

eu

não acreditava

que onde eu me banhava

o mar

eu não sonhava

acreditava

o mar era quarta-feira

antes de me deitar

e eu e eu acordava

não sabendo que brincava

com uma abelha

na minha cama deitada

 

não

eu

não eu acreditava

 

que o mar

que o mar quadrado

que o mar quadrado apaixonado

não

eu

eu não

me cansava

de abraçar o vento cansado

 

não

eu

não eu acreditava

Eu não acreditava

que o mar era quadrado

que a terra chorava...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:16

01
Jun 11

Dizem-me para acreditar

Ter esperança…

E pergunto-me ao acordar

Enquanto o sono se despede dos meus olhos

 

Eu vagabundo à nascença

Como poderei acreditar

E ter esperança?

 

Dizem-me para acreditar

Ter esperança…

 

E eu acredito que a lua é quadrada

E o sol construído de lágrimas

Eu acreditar

Eu ter esperança

 

Que amanhã no meu corpo

Uma rosa encarnada

Gritará na alvorada

- Foda-se a esperança

- Foda-se o acreditar

 

Para viver preciso de comer

E para comer preciso de dinheiro…

E ninguém vive da esperança

Tão pouco de acreditar

 

Para viver, para viver preciso de trabalhar.

 

 

Luís Fontinha

1 de Junho de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:31

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