Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Jun 17

Neste cansaço dia

Sinto o abraço da alegria,

Sou um homem desajeitado

E sem sono,

Sou uma pedra imperfeita,

Sou uma nuvem desfeita…

E este corpo ancorado,

E este corpo cruxificado ao teu olhar madrugada,

O feitiço de amar,

Na planície magoada

Pela bela trovoada…

Sou um homem desiludido com a cidade dos Deuses Tristes de Morrer…

Uma amêndoa apodrecida jaz sobre a minha mão de escrever,

Sempre me recordam as cinzas do teu silêncio amanhecer,

Neste cansaço dia

Sinto o abraço sem perceber o que sentia,

As albufeiras da solidão

Descem a montanha até ao meu coração,

Irritado,

Sou uma pedra de granito

E grito…

E sinto sem sentir…

A alegria de sorrir,

Na tristeza do grito.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:13

11
Jun 17

O delírio fantasma que a paixão oferece nas noites de melancolia,

Vivo nesta cabana encerrada e sem alegria,

Entre livros e papelada,

Entre copos e corpos sofridos na madrugada,

Tenho nas veias o teu nome,

E na algibeira as réstias da fome…

Do mendigo ancorado às esplanadas de lata,

O Domingo termina na sanzala…

No capim brincam as minhas mãos de fada…

Que um papagaio de papel inventou na alvorada,

Sinto neste meu corpo desajustado da realidade

O vício sintético da falsidade…

O orvalho clandestino,

O sorriso do menino…

Na praia do Mussulo,

Só e abandonado,

Só e amedrontado,

Só nos rochedos pincelados de palavras mortas

Pela caneta do poeta,

Fracassado,

Pateta…

O delírio fantasma

Dos arraiais da felicidade,

Foguetes, e pó de enxofre na claridade nocturna do sentimento,

Sofro, sofro e guardo no sorriso a tua despedida…

Sangrando as avenidas

Desta cidade perdida,

Um diário disperso, um livro desassossegado,

O vazio buraco negro do desgraçado…

Mendigo da multidão,

Haja alegria e pão na eira,

Que no corpo da feiticeira

Argamassam os lábios da solidão,

Não durmo, meu amor, deixei de dormir, meu amor…

E passo a horas a desenhar,

No teu corpo, meu amor,

O delírio fantasma da paixão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 11 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:17

02
Jan 17

O sentido proibido da vida

no sonâmbulo silêncio da agonia

a cidade evapora-se na solidão nocturna do sofrimento

como uma lamparina acesa

esquecida junto ao mar

o corpo levita

o corpo exerce o seu esplendor no sexo lunar da Via Láctea

e eu sinto o regresso da dor

misturada com as amêndoas

e todas as rochas da madrugada

habito neste cubículo ensanguentado de ferrugem

que abraça os meus ossos pergaminhos

os famintos dias

nas famintas tristezas

pergunto onde está neste momento a alegria

o sorriso que iluminava o meu viver

sem saber

sem perceber…

os candeeiros do desejo

acredito nos horários primos e primas das constelações incendiadas pelo orgasmo…

e nada é mais complexo do que a vida

em sentido proibido

como a minha.

 

Desalinhadamente só.

 

 

Francisco Luís Fontinha

02/01/17

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:27

11
Mai 16

A vida é construída de pequenos retalhos,

Corpos em geada

E orvalhos,

Farrapos entre velharias

E trapos,

A vida pertence ao luar,

Quando de um suspiro

Grita em mim o mar,

E num sorriso

Tu sentias

O sabor do madrugar,

Que a vida, construída de pequenos retalhos… consegue abraçar,

 

Cansado, não respiro,

E insisto na vida sem despertar,

 

Os livros,

As palavras esmagadas no silêncio da alvorada,

O corpo cessa de respirar,

Levita

Madruga

E inventa barcos de brincar,

 

A vida é construída de pequenos retalhos,

Corpos em geada

E orvalhos,

Gente simples dormindo na calçada,

Meninos de sombra que desenham na mão o sol,

Aldeias sós, homens confundidos com aldeias sós…

A vida atrapalha,

Esmaga a penumbra madrugada,

E a canalha

Toca com os lábios

O rio entre rochedos

E brinquedos,

 

Cansado, não respiro,

E insisto na vida sem despertar…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 11 de Maio de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:18

08
Abr 16

ela partiu numa manhã de neblina

levava na bagagem a solidão dos dias e das noites acorrentada à minha mão

olhou-me pela última vez

(alguma vez te disseram que tens o coiso grande?)

Disse-me adeus

E quando alguém nos diz adeus é para sempre

Aos poucos desapareceu na neblina

Sentei-me num banco de pedra

Cruzei os braços

Puxei de um cigarro na esperança que alguém me oferecesse lume…

Pequei num livro que ela me tinha oferecido no dos outros encontros furtivos

Sempre em esconderijos

E vi o mar deitado a meus pés

Que mais eu poderia querer?

neblina

sentado

um livro

e uma ausência programada

a falsa partida

o dia mais feliz da minha vida

saltava

dançava de alegria

esta finalmente livre…

e foi a manhã mais linda de Lisboa

num qualquer Novembro cinzento e escuro

as gaivotas poisaram sobre mim

transeuntes sorriam-me e eu sorria-lhes

a felicidade era tanta que tinha medo de ser mentira

felizmente

não o era

tinha-me libertado da menina mimada

 

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 8 de Abril de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

07
Dez 15

A morte desliga-se do corpo

Interrupção da vida entre momentos e obscuros silêncios

Oiço a tua voz poisada no espelho do guarda-fatos

Sentes no cabelo a tempestade dos órfãos parágrafos

Apenas palavras, meu amor, palavras sem nexo

Para pessoas sem nexo

Como tu

Como eu

Sempre no esquecimento de viver sem perceber o significado da vida

Uma passagem

Uma pequena passagem…

Para o húmus

A terra incendiada pelos teus gemidos

O borrão da caneta de pinta permanente sobre as sanzalas da tua adolescência

Foste feliz, meu amor,

O homem mais feliz de todos os homens felizes

Que eu conheci

Tinhas um crocodilo em pão-preto

Algumas fotografias a preto e branco

Um carrossel de cartão

E eu era feliz nos teus braços

A morte desliga-se

Foge

Covardemente

Foge

Sem deixar rasto

Endereço

Número de polícia

Rua ou calçada

Tanto faz

Não existes

Deixaste de pertencer às manhãs televisivas

Sentavas-te no sofá

Incrédulo

Rabugento

Nas finíssimas lágrimas da tristeza

Que o teu rosto transportava

O engano

A mentira

O sofrimento do Adeus quando a presença é desconhecida

De mim

De ti

De nós…

Às vezes acreditava que conseguias voar

Mas logo percebi que era impossível voares…

Apenas os pássaros o sabem fazer tão bem

Que

Que sempre duvidei que o conseguirias

Felizmente

Não o conseguiste

Eu não o consegui

Que

Amanhã perceba porque não o consegui

Escrevo-te sem saber porque o faço

Não me importa a solidão

E as noites sem ninguém

Não me importo com o amor

A paixão

E a ressurreição dos panos de linho

Não me importo, meu amor, não me importo com as coisas simples da vida

Os livros

Sentado numa esplanada com sabor a Tejo

Uma cerveja, um prato de caracóis, e nada mais…

Amava a tua alegria

Amava os teus braços na minha face…

E nunca me disseste que ias partir!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 7 de Dezembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:36

29
Nov 15

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

Sento-me e espero o regresso do teu olhar

Que vem do outro lado do Oceano

Trazes-me o sonho e a saudade dos musseques sombreados

Trazes-me a voz e o desejo

E eu sentado nas asas em papel que inventaste apenas para mim

Olho-as e vejo nelas a desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade

Uma criança entre baloiços e sobejantes sorrisos prateados

Espera-te junto a um portão imaginário

Entras

Ela abraça-te e afogas o cansaço do dia na minha face

 

Não tenhas medo do mar

Nem dos barcos invisíveis

Não tenhas medo das árvores

Nem dos pássaros amestrados que brincam nas mangueiras

Desenha na terra húmida os círculos os quadrados e os triângulos da alegria

Depois vais conhecer o amor

E a paixão de amar

E a solidão do amanhecer

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

E pareço um marinheiro aportado em Cais do Sodré…

Vendendo insónia e coisas enigmáticas de chocolate.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 29 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:22

07
Ago 15

Sinto as garras dos teus ossos no pano encarnado da minha solidão,

Quero fugir do teu olhar,

Sem sorrir, nunca sorrir…

Partir,

Em direcção ao mar,

Descalço,

Bandido…

Anexo perdido sobre uma secretária de vidro,

Hoje,

Partir,

Sentir dentro de mim a alegria do luar,

Quero,

 

Sem sorrir…

Partir,

Fugir dos teus lábios,

 

Afogar-me nas tuas coxas rochosas,

 

Quero,

 

Sentir,

 

Partir…

 

Fugir…

 

E sinto,

E minto,

 

Às amoreiras em flor

E às pedras chorosas,

 

E sinto, meu amor,

Que a terra é uma lápide de lágrimas,

De dor,

E pedras preciosas encharcadas…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:43

11
Fev 15

Desenho_A1_16.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Hoje há festa

nas paredes da minha biblioteca oiço baixinho os sorrisos invisíveis da alegria

pela primeira vez ouvi o metro do Porto como se fosse uma orquestra

... imaginava-o uma lagarta

feia

triste...

e hoje

tão belo

e hoje

tinha poesia

e canções

e... e alegria.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:33

09
Jul 14

Esta pedra de sentar,

o sonho quando se apaga e voa sem que ninguém o consiga alcançar,

esta poeira cristalina sem encontrar o mar,

este verso prisioneiro da maré, pontapeando a sombra do sono,

uma cama me grita, e eu, eu obedeço,

me deito, adormeço,

esta pedra de sentar,

alucinada como os botões de rosa de odor a madrugada,

este meu corpo acorrentado ao velho Cacilheiro,

correndo, andando, estropiando o Tejo envergonhado,

este meu olhar cerrado,

como nuvens de papel, como algodão doce na mão de uma criança...

 

Pedra de sentar,

 

Esta pedra de sentar,

disfarçada...

disfarçada de amar,

 

A morte alicerça-se-lhe e ele acredita na pedra de sentar,

vai à janela... sem se levantar,

das árvores que observa, há uma que lhe acena, e o cumprimenta,

come uma sopa, e... e ela, o alimenta,

ele acredita que no próximo amanhecer, uma gaivota o vai visitar,

então, ele, fica esperando na pedra de sentar,

como um rio, ou... ou como um mendigo saboreando a noite,

vai às putas, e esquece-se de regressar...

 

Esta pedra de sentar...

deprimente sobre a pele encaracolada da tempestade,

ele, ele não sabe que do outro lado do rio, há uma cidade,

ele, ele não sabe que do outro lado da cidade, há um esconderijo,

um jardim empedrado, e que na lapela usa um lenço colorido,

detesta todas as gravatas,

detesta todos os lençóis com o aroma a cansaço,

detesta um simples abraço,

esta pedra de sentar,

irrita-me, e até parece um esqueleto com pernas de chocolate,

com olhos de solidão...

esperando, esperando... esperando a alegria acordar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 9 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:16

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