Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Dez 14

Sou um ignóbil cemitério de cinzas

recheado de falsos amanheceres

e de tristes madrugadas,

sou um pirata

que tem medo da noite,

sou... um pirata

de lata,

que chora e branca

nas sanzalas da infância,

sou uma sombra com odor a insónia

que não se cansa de lutar,

sou um ignóbil cemitério de cinzas,

 

prateadas

amadas

e cansadas...

 

arde a cidade do meu corpo

como plumas de sílabas enraivecidas,

tenho um livro na algibeira

sem palavras...

sem... sem brigas, sem... sem vírgulas,

sou um covarde vestido de luar

sou um desalmado com medo...

com medo de amar,

 

sou um ignóbil cemitério de cinzas

recheado de falsos amanheceres

e de tristes madrugadas,

 

sou a bailarina do desejo

em busca do sexo barato,

sou rua,

sou... sou lagarto,

sou... sou prostituta,

sou a âncora dos teus abraços

quando emerge em ti a sinfonia da paixão,

e todo o amor morre em tesão...

 

simplificado

os meus lábios inseminados pelos teus seios,

esta cidade que saltita no meu amor...

e me acolhe nos seus rochedos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:57

02
Dez 14

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão

que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar

não permitas que entre o mar dentro de ti

e se alicerce aos teus desejos

não tenhas medo dos cortinados cinzentos

que a madrugada esconde nas pálpebras do vento

como quem morre

em sofrimento...

 

Não saboreies os meus lábios encaixotados

como pedaços de cacos e miudezas...

que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração

não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...

 

Não

não saboreies os meus tentáculos de espuma

como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar

não confundas o amor com a amizade

não

não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas

pelo cansaço

ou... ou pelo Inverno em desassossego,

 

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,

 

Inventa amanheceres de cartão

gaivotas de porcelana...

mas... não

não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:32

20
Jul 14

Aos dias ímpares, as horas que me são roubadas por uma mão sem nome,

as sílabas disparadas pela espingarda das sanzalas embalsamadas,

o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço, ele evapora-se, ele... ele transforma-se em zinco lamaçal,

há uma criança inventada, uma criança perdida na saudade...

aos dias ímpares, as horas malvadas,

que alimentam a dor,

que... que engolem todos os amanheceres,

e do meu corpo, apenas o coração de pedra ficou adormecido na eira da poesia,

 

Aos dias ímpares, o triste calendário envergonhado,

a desassossegada fantasia de um texto alienado, quando arde na fogueira da tua pele,

uma cidade nos espera, uma cidade em papel...

 

Aos dias ímpares, as horas, os minutos, e os... e os milésimos de segundo,

alguns em liberdade, e outros... e outros acorrentados a um envelhecido veleiro,

hoje não há vento,

hoje... hoje apenas a límpida tarde de pano a soluçar sobre as árvores do triângulo equilátero,

é este o meu Mundo?

ter uma cidade sem candeeiros em desejo,

ser filho de um desenho que o tempo apagou numa longínqua parede,

e contento-me com todos os dias ímpares, as horas que me são roubadas...

 

E a tua mão... e a tua mão, um dia, terá um nome, idade, raça, sexo... religião,

 

Aos dias ímpares, a geometria na doçura da caligrafia,

um poema morto, um poema descendo a calçada em direcção ao infinito...

e o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço...

 

E o poeta permanecerá eternamente nas sanzalas embalsamadas!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 19 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:27

16
Mai 14

dizem-me os teus olhos

pequeníssimos lençóis de solidão

fios de seda em desejo coração

manhãs adormecidas e sem poiso

dizem-me os teus olhos

que há madrugadas quadriculadas

e amanheceres triangulares

dizem-me...

quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada

e uma criança abandonada

aprisiona o teu olhar e me diz...

o que dizem os teus olhos.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:27

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