Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Jan 16

Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão

Amanhã, meu amor, amanhã haverá madrugada,

No chão, as mortíferas cancelas do sofrimento, amanhã não acordarei para te beijar, os beijos, o jantar… não existem neste corpo, e brincam, e sofrem, e brincam como crianças esfomeadas pelo cansaço da brincadeira, a ténue Primavera, as andorinhas em papel penduradas nos atorges gonzos da memória, sinto-o, a tua presença

Entranhadas no chão, recheadas de amendoeiras em flor, palavras e cor...

No chão, a desgraça manhã confundindo o corpo com o pequeno-almoço, a sinfonia da saudade,

Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade

Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão, a sinfonia da saudade, o abismo mosquito saboreando a noite recheada de abelhas e estrelas, de estrelas e abelhas, mosquitos apavorados, e corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia,

Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade

Da aldeia dos sonâmbulos corpos de cera, a oração sempre na ponta da língua, o insignificante orgasmo literário de mão atadas a um blogue, a noite escura, a escura maldição nos confins do alarmismo, sempre, regressam os candeeiros da alvorada

E corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia, o sino da igreja vestido de sentinela, os foguetes, a raiva, e o sofrimento da medusa escuridão dos musseques fotografados pelo olhar,

Os candeeiros da alvorada… mortos… término.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 2 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:37

13
Nov 15

o viver do sofrer

no corpo do sofrido

a partida de um amigo

querido

sem fronteiras as imagens do silêncio

querendo fugir da multidão

quando ele

sente-se acorrentado ao luar

e tem não mão

uma rosa em papel

e tem nos lábios

um beijo de amanhecer

o viver

do sofrer

no corpo clandestino do sofrido…

o querer

não o poder

viver

sem ter

de mendigar o corpo do amigo

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 13 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

30
Set 13

não sei se me ouves

nas cinzas clandestinas das tuas mãos

não sei se recordas os momentos que passamos

e as conversas que desperdiçamos à volta de um copo de qualquer coisa

fumamos muita merda

dormimos noites invisíveis sem percebermos que a noite era a noite

 

sem percebermos que o dia

que o dia era uma gaja cheira de manias

travestida...

uma gaja mendiga

 

porra... porque partes sem nada dizer

sem deixares sobre as planícies graníticas

as palavras

coisas

desenhos

abraços

nada

nada

partes...

partes como se esta merda de vida fosse uma viagem

um panfleto de heroína voando em direcção ao Sol

debaixo do mar

 

a tua dor

as tuas paixões confessadas em noites de embriaguez

flutuam

e vivem

e amam como amaram as primeiras letras da tua boca

 

não sei se me ouves

 

não sei se algum dia conseguirei olhar-te

não sabendo que a viagem que agora preparas

termina

não termina

 

não sei se me ouves

 

mas se me ouves...

que descanses em paz...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha- Alijó

Madrugada de Segunda-feira, 30 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:02

07
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi

E

Pouca coisa, em três ou quatro linhas,

E depois vesti-me, saí de casa pensando que te encontraria sentada no colo dos plátanos, não era verdade, o meu sonho tinha-se destruído como acontece com as teias de aranha, quando alguém lhes toca, e desiludem-se os corpos mergulhados em fenol,

E,

E pouca coisa, em três ou quatro linhas, curtas e magras, despedi-me de ti...

Olhavas-me nas poucas palavras que me escreveste, percebia pela forma do teu corpo que seria o fim, uma anunciada despedida, e das esponjosas cavidades, inutilmente desejadas pelos desconhecidos novos habitas de ti, partiste sem dizer até amanhã,

Parti sem dizer nada, lançando-me do cimo do Inverno... até encontrar uma Primavera de claridade, até perceber pela forma do teu corpo..., que havia uma outra estrada paralela à que deixamos adormecer,

Hoje

E pouca coisa,

Hoje olho-te nas poucas palavras que pensava ter-te escrito e que dou-me conta, nunca o fiz

Porquê?

Coisa, pouca, quase nada, porque a morte se apressa, e a vida se esgota como pequenos silêncios nas mãos de uma flor, a morte vai levar-te, tal como a mim, e depois, encontrar-nos-emos entre o Jardim Doutor Matos Cordeiro e o infinito, fumaremos cigarros inventados e conversaremos de coisas banais, o relembrar de memórias, pequenas longas histórias, palavras deixadas cair nas minhas confidências que me ouvias... e falávamos, e fumávamos, e bebíamos..., se partires, partirás como sempre o desejaste, simples, simples demais,

Hoje,

Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi, e que ele sabia da tua existência,

Meu Deus, quantas noites ele passou a ouvir os meus lamentos, quantas noites vimos nascer o sol, e esperávamos o regresso do mar, que ainda hoje,

Porquê?

Porque a vida é assim, uns partem e regressam, outros partem sem nunca mais regressar..., e tu, e eu, um dia, viveremos entre um banco de jardim e o infinito amanhecer..., se partires, não deixes que te encerrem as janelas viradas para o mar, e nunca, nunca deixes de olhar as rochas... e os barcos de papel como gaivotas a virem comer nas tuas mãos.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:50

17
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Gosto da tua amizade, precisamente, pela tua franqueza e sobretudo optimismo, claro que é bom regressar a Lisboa, e treinar a caligrafia para prováveis autógrafos, ainda melhor,

Enquanto lia o teu coração, lembrei-me de um Livro de José Luís Peixoto “Dentro do Segredo”, sobre a viagem que ele fez à Coreia do Norte, autógrafos, fazem-me lembrar os Norte-Coreanos, e claro, todos eles são muito baixinhos, agora, imagina tu, que eu imaginei, que enquanto autografava um livro, aparecia-me uma Norte-Coreana, puxa a t-shirt e diz-me

Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,

Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?

Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…

E nunca mais utilizarei a minha caneta de tinta permanente, apenas um corpo poético consegue sobreviver às palavras, apenas este corpo consegue embrulhar-se entre a poesia e o sonho, ou entre a noite e a madrugada..., às vezes, entranha-se no prazer, e voa, voa como uma gaivota desgovernada

E agora, Francisco? E agora? Que faço com este corpo poético, literário e desejável? Transformar-se-á em palavras, no verdadeiro poema? Ficará corpo de mulher com formato de livro, terá mãos para me acariciar o rosto desgrenhado pelos socalcos do Douro? Terá olhos, pálpebras e lábios para me beijar? E agora... Francisco...

Gosto, do autógrafo semeado na areia molhada da feliz gaivota desgovernada, gosto da tua pele misturada em melódicos sons embainhados dentro da manhã, ela dança, e mexe-se com a ligeireza de uma andorinha em pequenos círculos, perguntas-me

Qual é o perímetro de um círculo, sei, mas simplesmente não me apetece responder-te, perguntar-te-ia, para que desejas saber o perímetro de um velho círculo, imobilizado pelo gesso do hospital, alguns dos ossos não sobreviveram às rotações em redor de uma eira granítica, e no seu centro de massa, o canastro, o milho, o teu

Corpo?

Em fatias poéticas, dentro de dois pedaços de papel, açúcar sobre a pele complexa dos cansaços à beira rio, e em dolorosos soníferos entram e saem barcos de ti, imaginava-te um socalco esculpida na montanha com acesso ao rio Douro, imaginava-te a tal Norte-Coreana,

Quero um autógrafo no meu seio esquerdo,

Boa, penso eu, e agora? E Agora Francisco?

Pego na caneta, e tremulamente, escrevo... Francisco Luís Fontinha, com amizade, e claro, ela sorriu, e foi-se embora…

E

E ainda...

Corpo?

E ainda hoje não entendo muito bem as t-shirts que enrolam corpos poéticos, literários e afins...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

15
Nov 12

Digo-o porque assisti ao romper desmesurável das mãos entrelaçadas nas lanças de aço que profundamente entram no coração doirado do velho com óculos, oiço-lhe os gemidos cansados dos alforges doces sargaços que o mar desencontra nas tardes de solidão, digo-o e oiço-o, e às vezes apressadamente contra o muro da paixão, nunca soube, ele, que me tinha apaixonado e loucamente caminhava no arame que atravessava a rua deserta de palavras, ficticiamente adornada com oiro e cinza de olhos encarnados que os mendigos construíam com as migalhas de vidro, gostava dele, muito dele, digo-o enquanto lá fora chove, e a luz silenciosa da morte alicerça-se nas palavras escritas na ardósia extinta da infância,

 

não me ouvirás mais, doce pergaminho dos dias acorrentados aos negros e pasmados buracos que a noite transpira, digo-o, oiço-o, pensando que amanhã me sentarei no teu colo infinitamente débil dos versos traduzidos e semeados nas searas longínquas da saudade, e um dia perceberei que as estrelas são de papel, e as nuvens, no entanto, hoje, são de lágrimas janelas que a maldita cidade esconde nos jardins com flores de mármore, porque assisti ao romper desmesurável das mãos entrelaçadas de aço que profundamente entraram no teu coração de vidro frágil como a água dos rios antes de encontrarem o oceano,

 

gosto tanto de ti,

 

digo-o, oiço-te, loucamente percebias as minhas palavras, loucamente davas alegria às minhas loucuras clandestinas nas areias finas do Mussulo, gosto tanto de ti, e os meus machimbombos continuarão a saltitar de paragem em parem, de berma em berma, e de candeeiro em candeeiro, a morte desce do tecto da madrugada, cai sobriamente nas algibeiras das montras doiradas onde um louco vende poemas e sonhos, e inventa a amizade, e inventa a saudade, e as flores e as pedras e os socalcos,

 

gosto tanto de ti,

 

e os socalcos desaparecem nas fresta do velho NOGUEIRA, escrevo-te, hoje, como se amanhã todos os rostos de uma cidade perdida na escuridão fossem alegremente as palavras dos teus medos, anseios, e no entanto, no entanto, hoje, são de lágrimas janelas que a maldita cidade esconde nos jardins com flores de mármore,

 

gosto tanto de ti,

 

digo-o, oiço-o.

 

(texto não revisto)

 

Francisco Luís Fontinha

15-11-2012

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:55

À via láctea da saudade

aporta a dor indesejada das veias mergulhadas na insónia

das palavras semeadas nas avenidas

ruas desertas

cansadas

das meninas

sem janelas para as andorinhas do silêncio eterno

quando dorme a cidade na tua mão de marinheiro sem porto nem barco nem destino,

 

sem dinheiro

à via láctea da saudade

a viagem para a outra distante margem

funda

imunda

nos cigarros inventados pelo louco jardineiro do amanhecer

quando dorme

sem janelas,

 

e sonha com o mar de pérolas desenhadas na areia

funda

imunda

a saudade

na partida

quando cessa o regresso

e todas as árvores

e todas as árvores tombam sobre a noite de ninguém...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:19

14
Nov 12
publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:31
tags:

08
Abr 12

AMORES de MERDA

com AMIGOS de MERDA

em PAIXÕES de MERDA…

 

(quando o NAVIO começa a NAUFRAGAR)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:59

11
Dez 11

Aos poucos corri com os amigos da minha vida,

Hoje, hoje limito-me a ouvir os pássaros e a olhar as árvores e a recordar uma calçada frente ao rio,

Aos poucos fiquei pendurado entre o silêncio e a noite, aos poucos, aos poucos desapareceram os sonhos… e sentado na solidão pinto o mar de Luanda nas minhas mãos.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:26

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