Eu nas ruas da cidade
Mal tratado pelos paralelos da calçada
No candeeiro do jardim
Um pássaro olha-me
E defeca sobre a minha cabeça
Passo a mão
E na minha mão o presente envenenado
A tão desejada “merda”
Nas ruas da cidade
Quando o mar fica furioso comigo
Eu mal tratado
Eu sem abrigo
Eu cheirando a “merda”
Eu sou a “merda”.
Nas ruas da cidade
Eu saltitando de rua em rua
De tasca em tasca
De “puta” em “puta”
E “puta” nenhuma
Nenhuma na esquina da pensão
Quando o mar entra pela janela
E na minha cama a tão desejada “merda”
Eu mesmo…
Deitado seminu e sonâmbulo
Com três cabeças
E cinco pares de asas
E de mim acorda o fedor
Deixei de tomar banho
Não desfaço a barba
E vou dar lustro ao cabelo
Nas ruas da cidade
Eu saudade
Eu à espera de petroleiros
Que me olham como “paneleiros”
Eu engasgado
Nos paralelos que me comem aos pedacinhos
Me engolem devagarinho.
Eu com cinco euros
Dois maços de cigarros,
Digam-me senhores e senhoras
Rapazes e raparigas da esquina
Digam o que me interessa a mim o FMI
Vão tirar-me o subsídio de férias?
Vão tirar-me o subsídio de Natal?
Quero tanto rir-me… eu nem vencimento tenho
Venham esses “filhos da puta”
Quero lá saber.
Eu nas ruas da cidade
E a cidade aos poucos cospe em mim
A cidade revoltada com o meu cheiro intenso a “merda”
Mas eu tenho direito a voto
Não pago impostos
Não recebo subsídios de “merda” nenhuma
Sou muito feliz
E sou Libertino.
(Ao grande Luiz Pacheco)
FLRF
28 de Março de 2011
Alijó