Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Ago 15

Pedido nesta avenida

Recheada de cacos e velharias,

Mendigando palavras,

Fumando cigarros imaginários,

Perdido,

Achado,

Escrevendo no teu rosto poemas envergonhados

Que só tu

Consegues perceber…

A vida parece um carrossel enferrujado,

O teu corpo fundeado no meu peito

Como se fosse uma serpente de tristeza,

Perdido,

Achado,

Na algibeira alguns sorrisos de riqueza…

Mas tu sabes que nunca quis ser rico,

Mas tu sabes que nunca quis ser nada…

Apenas me apete estar qui,

Sentado,

À tua espera…

Como um barco que regressa do Ultramar

Trazendo gaivotas

Caixotes poucos…

E recordações em pedaços de papel,

Perdido nesta avenida

Recheada de insónia

E sonhos inventados por uma criança,

Hoje, hoje aqui sentado…

Espero-te sem saber se vens

Ou se pertences às lápides da madrugada,

Não me importo com as fotografias rasgadas

E deixadas nos braços do vento…

Perdido,

Achado,

Aqui… como um rochedo sem coração.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 22 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:35

14
Mai 11

Todas as terras têm uma rua ou avenida vinte e cinco de Abril, e todas elas com vista para o mar onde dormem barcos, onde brincam peixes, e todas elas, e todas elas no fim de tarde à espera do silêncio que desce devagarinho pelas árvores do jardim, os pássaros ficam assustados, de um prédio com janela para a rua uma menina experimenta a lei da gravidade, tropeça no vento, cai, morre, os barcos assustam-se, os barcos cruzam os braços, os barcos,

 

- tão novinha,

 

Até parece que para morrer é preciso ter idade, proibido bebidas alcoólicas a menores de dezasseis anos, fumar mata, e tão novinha, e tão doce menina em queda livre por desgostos de amor, e o amor agradece, na morte sempre uma culpa, os barcos encalham sempre na areia, e tão novinha,

 

- o cortinado ainda tentou segurá-la mas em vão, escorregou-lhe a mão, e não conseguiu inverter os nove virgula oito metros por segundo quadrado,

 

E tão novinha, e maldito Newton deitado debaixo da macieira, e pumba, leva com uma maçã na pinha, e hoje para subir ao quarto andar preciso de escadas, o maldito ascensor com o nariz entupido nos dias em que chove,

 

- e se não fosse o Newton eu levitava, e quando pertinho da janela, a janela abria-se, e ela escondida no quarto a espetar pregos nas oliveiras, na banheira, na banheira Arquimedes a lavar os testículos, e enquanto pega neles, quando pega neles o princípio da impulsão, os barcos caminham no mar…

 

E todas as ruas com vista para o mar onde dormem barcos, onde brincam peixes, onde se abraçam árvores depois do jantar, e todas as ruas têm medo de morrer,

 

- tão novinha.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

14 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

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