Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mai 17

Os dias passados

Esqueleticamente abraçados aos dias sofridos

Quando bem lá no alto das montanhas cansadas

Os dias argamassados aos dias coloridos…

 

Safados.

 

Os dias perdidos na esplanada do adeus

Quando sobre uma pobre mesa de sombra, um livro, voa nos dias premeditados

Por uma lâmina finíssima de luz…

Os dias entre dias,

Os dias encalhados nos petroleiros da fortuna…

Os dias revoltados

Com a forma circunflexa do sangue perfumado,

O dia apaixonado,

Ou coisa nenhuma…

Os dias as mãos e as mãos dos dias,

A forca dos dias desesperados

Numa árvore dispersa na alvorada,

Há dias assim,

Como hoje,

Dias de alecrim,

Dias de clarinete…

E assim,

Os dias dos relógios moribundos,

Meu Deus! Meu Deus, tantos mundos…

Com dias,

Sem dias,

Cem dias dispersados pelas tristes avenidas dos dias desalmados,

E eu, minha querida, por aqui… brincando com os teus dias…

Os dias sem melodia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Maio de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:22

29
Jan 15

A1_041.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Perco-me nas avenidas de cartão,

levo nos ombros o peso das tardes húmidas,

carrego a insónia madrugada

como se fosse um corpo invisível,

sem palavras,

perdido,

a humilhação do amanhecer

quando eu não queria acordar

e olhar

as avenidas de cartão,

e perde-se o cansaço

num simples sorriso de luar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:53

28
Out 14

Os relógios enferrujados

encolhidos nas tristes alvenarias

as janelas escondidas...

no olhar da serpente

 

as estilhas adormecidas

nos pregos dentados

os relógios... os relógios encalhados

em rochedos rendilhados

 

o pólen de um olhar

semeado na escuridão

e os relógios sem fôlego

e os relógios... e os relógios sem pão

 

e a paixão?

matriculada nas putas avenidas

correndo

saltando... os muros embriagados dos ossos embalsamados

 

os relógios...

escrevendo na pele da solidão

horários enlouquecidos...

sem vontade de sonhar

 

sonhar a paixão?

há cadáveres perdidos

na eira da infância...

colchas de linho... suspensas nas árvores tombadas no chão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 28 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

16
Jul 14

A terra que te prometi, existirá?

o chão lapidado onde rolavam dois corpos de arame, como era o seu nome...

esqueci o significado de noite,

esqueci o horário nocturno das avenidas em flor,

a terra, a terra que te prometi... não, nunca, nunca mais a observei,

antes brincávamos como duas crianças em frente ao mar,

e hoje,

e hoje o chão lapidado onde habitavam os nossos corpos deixou de existir,

havia uma cama fictícia com duas lanternas de silêncio...

havia um apito que assinalava a nossa partida,

partir,

não regressar, nunca, e nunca mais a observei.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 16 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:48

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