foto de: A&M ART and Photos
levaria comigo as recordações
e alguns cachos de uva moscatel
desisto de “O medo – AL Berto” porque no paraíso não existe medo
amor
ou paixão
porque no paraíso apenas existem recordações
e a saudade
levávamos os cheiros de uma cidade em ruínas...
levávamos os sonhos desfeitos
e os desenhos para pintarmos quando chegasse a noite
levaria uma caneta de tinta permanente? lápis de cor?
não
talvez
as recordações adormeçam na mão da insónia
disfarçando-se de solidão
como árvores tombando sobre os velhos bancos em madeira
sonho connosco sentados a uma lareira
invento dentro de mim Invernos
e livros que poisarão nas nossas trémulas mãos
sonho com as conversas de dois velhos rabugentos
sempre discordando por tudo e por nada
sempre
sempre com uma mantinha sobre os joelhos
e com a esperança de que um dia o mar entre pela janela
(o leite e as bolachas)
sonho
levaria comigo as recordações
e alguns cachos de uva moscatel
e esperava infinitamente que se extinguisse a lareira
que cessassem todas as luzes do Universo
que morresse a Lua e o Sol
e que em todas as flores com coração de chocolate...
uma rosa absorvesse os teus molhados lábios
e te erguesses das cinzas cíclicas e sinusoidais do cosseno do desejo...
os teus seios fungiformes mergulhariam no “momento fletor” das tuas coxas
e uma viga regressada das lágrimas tangenciais do silêncio... a cor dos teus olhos
sonho
levaria comigo as recordações
e alguns cachos de uva moscatel
a cor dos teus olhos
verdes? castanhos? negros? desculpa-me... esqueci-me e nunca soube as cores
e nunca percebi os túneis de vento
ou... os buracos de minhoca
ou a tão afamada partícula de deus
eu sei eu sei
eu sei que para nós isso não tem importância...
porque levaríamos apenas as recordações e alguns cachos de uva moscatel
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Setembro de 2013