Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

26
Mar 14

Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,

vives pedindo-me palavras, vives... regateando silêncios entre carris de aço,

dizes-me que sou um cadáver embriagado,

triste... triste e sem cansaço,

sem o cansaço pedestal do azoto,

 

Dizes-me que amanhã não há paixão,

que todos os rios são solitários e casmurros, e... e sem mãos para as caricias do amanhecer,

sinto-te embalada no gatilho do incenso coração,

sem a espingarda neblina teu olhar, sem... sem flores a envelhecer,

e mesmo assim, dizes-me que sou um transeunte envenenado pela solidão,

 

Dizes-me que sou a tua nuvem colorida,

mas apenas o dizes quando te convém,

dizes-me que na madrugada nua...

não há nada, nada, nem ninguém,

porque me dizes ser eu uma estrela de algodão?

 

Dizes-me que não entendo os teus lábios em puro cristal,

que sou desastrado, ingénuo... que sou um falhado,

que sou o teu livro do mal...

como petroleiros da insónia esperando o marinheiro apaixonado,

como o triste vagabundo... no Inferno da cidade dos canibais,

 

Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,

pergunto-te se nos teus seios habitam jasmins, amoreiras... rosas encarnadas,

respondes-me que não, e dizes-me que há em ti o sorriso envelhecido,

como gelatina encaixotada nas janelas desalmadas,

e depois, depois... desapareces entre as rochas e os cadeados invisíveis do desejo.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 26 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:25

08
Abr 11

O cadáver de um poema

Exposto sobre a mesa

Nas paredes crucifixos arrogantes

Crucifixos com fome

 

Das palavras em decomposição

Apodrecidas sobre uma folha de papel

O cadáver

Aos poucos em pó

 

E do poema apenas a luz do dia

Repartida pelas clareiras da noite

O cadáver de um poema

Que se esconde nas frestas da solidão

 

Exposto sobre a mesa

Misturado com os óculos embaciados

O poema chora

E das lágrimas soltam-se palavras no fim da tarde

 

O poema sofre

O poema morre

O cadáver de um poema

Poisa na minha mão

 

E nas minhas costas

As palavras agarram-se-me nos ossos

Comem-nos ao pequeno-almoço

Fico cadáver como o poema…

 

 

FLRF

8 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:01

Agosto 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
12
13
14
15

16
17
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO