Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Perspectivo-me sobre a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso

há uma linha transversal que nos separa e aproxima

como uma fotografia sem nome na mão do louco muro em xisto

desço às fronteiriças margens do desejo

desço até que sou engolido pelo cosseno de trinta e cinco graus dos teus lábios...

desejarás-me ainda depois das equações diferenciais dormirem dentro dos quadriculados cadernos?

Invejo-te a liberdade

e os voos nocturnos quando se esquecem de ti e tu

e eu

suspensos no estendal das sílabas poéticas que o veneno da tua boca alicerçou na tempestade

há em nós uma circunferência de luz com braços de areia

húmidas todas as palavras dos anzóis do medo das sanzalas com vozes de zinco

com olhos de fome...

e chove

chove sobre o teu corpo de nylon onde se abraçam os barcos desvairados quando o vento se entranha no amor e nos transporta para o infinito

e lá ao fundo... a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:29

01
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

As cerejas de Deus que nos teus lábios comem as minhas palavras

que das tuas mãos Deus colocou sobre o meu rosto de pergaminho

as sílabas transparentes dos degraus impossíveis de transpor

pelos teus sonhos em silêncios azuis

como as pétalas da rosa esquecida no muro em frente à tua alegre casa,

 

Tínhamos um telhado

onde nos escondíamos nas tardes de solidão

e depois de alicerçares nos teus braços os cadernos de nós

ficávamos assim livres a olhar as nuvens

e a inventar histórias que um jornal de província nos comprava,

 

Tínhamos dinheiro para o pão

e para comprarmos novos cadernos

tinta

e às vezes

sobrava-nos algumas moedas para fingirmos que fumávamos flores enroladas em marés de Inverno,

 

Víamos os barcos a morrer como gente desesperada

cansada de trabalhar

cansada... de viver

as cerejas de Deus... comem as minhas palavras

e deixam os caroços sobre a terra semeada,

 

Víamos os barcos em círculo na janela da solidão

barcos que escreviam histórias

nos corpos amarrotados como o papel higiénico da pastelaria

entre migalhas de torradas e o cheiro a chá de hortelã...

vivíamos felizes sem percebermos que éramos miseráveis.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:34

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