Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Jul 14

Aos dias ímpares, as horas que me são roubadas por uma mão sem nome,

as sílabas disparadas pela espingarda das sanzalas embalsamadas,

o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço, ele evapora-se, ele... ele transforma-se em zinco lamaçal,

há uma criança inventada, uma criança perdida na saudade...

aos dias ímpares, as horas malvadas,

que alimentam a dor,

que... que engolem todos os amanheceres,

e do meu corpo, apenas o coração de pedra ficou adormecido na eira da poesia,

 

Aos dias ímpares, o triste calendário envergonhado,

a desassossegada fantasia de um texto alienado, quando arde na fogueira da tua pele,

uma cidade nos espera, uma cidade em papel...

 

Aos dias ímpares, as horas, os minutos, e os... e os milésimos de segundo,

alguns em liberdade, e outros... e outros acorrentados a um envelhecido veleiro,

hoje não há vento,

hoje... hoje apenas a límpida tarde de pano a soluçar sobre as árvores do triângulo equilátero,

é este o meu Mundo?

ter uma cidade sem candeeiros em desejo,

ser filho de um desenho que o tempo apagou numa longínqua parede,

e contento-me com todos os dias ímpares, as horas que me são roubadas...

 

E a tua mão... e a tua mão, um dia, terá um nome, idade, raça, sexo... religião,

 

Aos dias ímpares, a geometria na doçura da caligrafia,

um poema morto, um poema descendo a calçada em direcção ao infinito...

e o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço...

 

E o poeta permanecerá eternamente nas sanzalas embalsamadas!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 19 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:27

03
Jul 14

Um fino lençol de areia embrulhava a triste caligrafia,

nas minhas pálpebras de papel um poema crescia,

e sentia-me absorvido pelo silêncio do algodão vestido de chuva,

uma vezes sentia o cansaço disfarçado de melodia,

outras... outras eu sofria,

cantava,

chorava,

inventava beijos de alegria,

e de alegria não tinha nada,

a caligrafia derramava-se nas encostas íngremes da montanha adormecida,

e o papel onde eu escrevia...

amarrotava-se... e... e ardia...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 3 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

24
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

 

Desço da tua árvore em desejo como uma serpente sem veneno...

 

sou a tua caligrafia quando a noite se perde em ti

 

e tu

 

tu pareces um pedaço de papel sem palavras

 

paixões de areia que voam com a tempestade

 

amores de gelo que acordam entranhados em geada

 

saudades e saudades e saudades...

 

saudades de não ter saudade...

 

de ti...

 

… de ti quando eu era o teu corpo mergulhado no cacimbo desempregado

 

triste...

 

tão triste como os candeeiros da cidade do mendigo embriagado...

 

 

 

Desço da tua árvore

 

visto-me de caligrafia gaivota sobre os telhados da penumbra madrugada

 

oiço-te em gemidos vagabundos e das alegres naftalinas que o dia contempla... sofres

 

e finges que a Primavera inventou a caligrafia das tuas mãos envelhecidas,

 

 

 

Vai e sente a deslumbrante areia branca com janelas de xisto viradas para os socalcos da dor

 

e que em ti cresçam e se alimentem as ardósias tardes em literatura

 

não

 

não te revoltes

 

não

 

não tenhas medo das gaivotas em caligrafia desgovernada... quando das flores cardumes de abelhas

 

invadem os enxames de peixes que a manhã constrói depois dos pingados beijos descerem...

 

descerem da tua árvore em desejo

 

em silêncio

 

o medo

 

a boca que arde e em jeito de meia-caligrafia...

 

oiço-te em torradas e chás de menta... eis o desejo como uma serpente sem veneno...

 

 

 

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

 

Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014

 

 

 

(por razões de ordem pessoal, nas próximas semanas, não publicarei... poesia, texto...)

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:39

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