Palavras que acordam à mesa das palavras
Palavras suspensas nas nuvens do céu
Em silabas e vogais e chovem palavras
Nos jornais
Em livros que ninguém lê
Palavras com véu
Na porta da igreja
Palavras das cartas ao léu
Quando do Pacheco morrem de inveja
Palavras no meu jardim
Em pétalas de rosa
Em suspiros de alecrim
Com prosa sem prosa
Palavras que acordam à mesa das palavras
Palavras suspensas nas nuvens do céu
Triem-me a vida
Tirem-me os sonhos
E não preciso de nada
Mas nunca nunca me tirem as palavras
Palavras que dão nome à rua sem saída
Palavras agachadas na calçada
Quando junto ao tejo
Me sentava
E olhava as palavras no sorriso das gaivotas…
Um cacilheiro às voltas
Das palavras que acordam à mesa das palavras.