Atormentado pela insónia da noite, o Mantinhas, saltitava no sorriso de uma linda bela Princesa, e de olhar em olhar, voava em redor do seu castelo, onde se encontrava aprisionada, e só o Mantinhas a fazia feliz. Na alvorada uma gaivota poisava no parapeito do sonho, que todas as noites, invadia o quarto e a linda bela Princesa fixava o olhar num ponto de luz invadido pela saudade, momentaneamente, feliz.
Passava horas acordado, passava horas olhando o infinito, e ao longe, quando o amanhecer parecia acordar, respirava fundo, deitava a cabecinha nos braços da linda bela Princesa e adormecia; viajava em direcção às arcadas do paço, escondia-se entre o amontoado de silêncios que por aquela altura deambulavam ao sabor da noite, esquecia-se das horas, dos dias, esquecia-se da madrugada, esquecia-se que seu nome era simplesmente, Mantinhas, e que amanhã novo dia acordará.
E quando o sol acordava, lá estava ele nos braços da linda bela Princesa, e em silêncio pintava na tela do seu pensamento o sorriso mais belo, mais lindo do reino, da ilha construída na imaginação do sonho, a minha ilha, só minha, perdida no mar, à espera desse olhar que só ele podia ouvir nas noites de insónia…, quando o meu sonho, só meu, juntamente como os poemas de Pablo Neruda entravam pela claridade do desejo, seguiam na direcção dos teus braços, tu, olhavas para eles como se fossem rosas amarelas acabadas de acordar, e eu, maravilhava-me com o Mantinhas pendurado no teu sorriso, e brincava com o se fosse uma criança, menino de rua.
De vez em quando uma nuvem cobria o castelo de sorrisos e de beijos imaginados de véspera, quando ainda o dia não tinha terminado, quando ainda na minha ilha, eu, caminhava à procura de uma tempestade de vento deixada na palma da mão, a minha mão, cremada pela ausência ausente de mim, longe ou perto, nas velas de um veleiro em construção; e eu aproximava-me do veleiro atracado dentro de mim, e ele, fugia, e rebocado pelo vento, acabou por encalhar junto aos alicerces do castelo, foi quando vi o Mantinhas sorrindo à janela, e a seu lado, a linda bela linda Princesa.
O Mantinhas é um gatinho, é muito feliz; tem insónias, também as tenho, mas ele, tem o olhar da linda bela Princesa…, e eu, não tenho nada.
(texto ficção)
Luís Fontinha
Alijó