Radiografia de orgasmos
Acompanhando os ossos do sofrimento
Descem à tua mão os lábios
Que o beijo pintado
Nas veias do vento
Escreve na caneta de tinta permanente
As palavras
As palavras que não consigo dizer
Porque a minha boca
É uma prisão
Em sabão
Sem nunca ter regressado
Às coxas
Tuas pinceladas coxas
Meu amor
Ou não meu amor
Tanto faz
Na minha idade
Ser amado
Amar
Ou… um palhaço pintado
No olhar da serpente de ferro
Nas sombras de Lisboa
Meu amor
Ou não meu amor
Amo
- A mim?
Amo Lisboa e o seu rio
Os marinheiros embriagados pelo fado nocturno do silêncio
A morte da guitarra
Meu amor
Ou não meu amor
Eu
Perdido
Numa estrada curvilínea
Assassina nas horas vagas
Faz uns bicos
Gama umas carteiras vazias
E foge
Leva os filhos e os não filhos
Leva as sebentas
Recomeça o curso
Uma treta
Comparando um curso
Com… com a tua letra
Das cartas rejeitadas
Meu amor
Ou não meu amor
A música cansada das tardes de Domingo
A fotografia da Igreja junto à lareira
Ouvia o sino enquanto lia no quarto
Três da madrugada
Tu à janela desenhando cigarros na fome melancólica da paixão dos pássaros e dos peixes desta ilha funda e deserta, coitados dos homens apaixonados, compram livros, vestem as personagens de noite
E
Engate
O automóvel alicerça-se ao asfalto do prazer
Lá dentro
Gemem poemas
E engate
Às três da tarde
Consultório
A clínica esperando o engatado
Uma coisa simples
Bom homem, culto, esbelto… e… uma coisa simples
A liberdade de amar
A liberdade de ser amado
Ou
O engate
Odiado
Como as candeias da prisão de Caxias…
E coisas
Coisas de coisas.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 16 de Abril de 2015