Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Fev 13

Um pouco tarde para quem acaba de perder a casa, a vida, os olhos livres que mergulhavam nos lábios sangrentos dos telhados de vidro, um pouco ou nada, ou tudo, porquê? Muito perfeito como os diamantes das cansadas videiras sobre as mesas de xisto com vista para o rio Douro, cansei-me deste rio tristemente aprisionado numa fotografia esquecida na parede da cozinha, lá fora, há um distante silêncio que atravessa as lâmpadas incandescentes dos braços da água, aos poucos, poucos, quando chegas a casa e eu tristemente, aos poucos, lá fora, esperando o desespero de uma sandes de queijo com azeitonas e vinho, um pouco, tarde, perde-se a vida crescida nas leituras litúrgicas dos candeeiros a petróleo, gargantas ocas que flutuam no susto meteorológico das dentaduras com sílabas de prata, e quando percebíamos, ouvíamos um pigmeu cambaleando nas pedras desordenadas da calçada, um

Hoje vi a mais linda flor dos meus últimos minutos de silêncio junto a um chafariz, por sua vez, este, junto, a uma árvore, por sua vez, todos e ela inclusive, no centro de um largo com cerca de três metros e cinquenta centímetros de Raio, talvez mais, ou pouco, um

Ou dois, o chafariz e a árvore, esperavam o autocarro, a flor, provavelmente esperava pela minha passagem, todos os dias, uma vezes vou como sou, outras disfarçando-me de vento, mas vou, e passo lá, e vejo-a, com sete pedras em placas finíssimas como o fios de geada pela madrugada, o telegrama esperava-me, e ela olhou-o como se ele fosse um pedaço de aço aos tropeções pela cidade dos anjos caídos, mortos de cansaço como as pessoas de bom senso, dizem que estou mais mal educado, pudera, um

Não percebi,

Onde estão os sonhos prometidos? Não sou rapazola para fazer promessas que não posso cumprir, e as cumpridas vontades do povo encurralado nas compridas camas espalhadas pela montanha do círculos com árvores e chafarizes no centro, em redor, uma

Flor linda com pétalas de cristal, estava só e provavelmente esperava o autocarro da carreira, ou, pela passagem do machimbombo da catorze horas, um rua curva, estreita, como os seios metafóricos das tuas palavras em ressonâncias magnéticas, oiço-os quando viro levemente à direita, e sinto, sei que da esquerda, um

Comboio fantasma alerta-me que no final da linha, quando chegar ao apeadeiro em ruínas, um

Círculo, uma árvore, um chafariz e uma flor, sem que eu perceba, o que é uma flor linda com pétalas de Cristal, o que faz ali, porque está ali, de onde é e para onde vai, se se pode saber, sem o descaramento de o Cristal das pétalas estilhaçarem-se, e os braços da prata geada solidificarem-se, sós, como todos os dias quando chego ao final da linha, poiso os carris sobre a mesa, e da marmita oferecida pelo Excelentíssimo Senhor D. Joaquim Francisco de Francisco e Fernando Domingos de Solidão com Insónia, os meus pais diziam-me

Cumprimenta o Senhor,

(e eu comprimentava, e eu fingia-me de morto para não ouvir as preguiçosas mangas de camisa do dito Cabrão que todos os dias fazia questão que eu, quando estivesse no alcance do seu mais secreto círculo, me humilhasse, me

Boa tarde Excelentíssimo Senhor D. Joaquim Francisco de Francisco e Fernando Domingos de Solidão com Insónia, e ele umas vezes parecia um pedaço de rocha, outras

Vai com Deus meu rapaz, vai com Deus),

E educadamente cumprimentava o dito Cabrão com olhos de açúcar e recheados com amendoins importados das ex-colónias nunca nossas, como aprendíamos na escola, como aprendi com outro rapazola que a terra de facto é de quem a trabalha, mas o fruto, esse, pertence a quem o colhe, sempre foi assim, é assim com os pássaros negros dos finais de tarde, foi assim com os pedaços de cartolina onde eu desenhava laranjas e limões, e cidades como petroleiros flutuantes antes de regressarem os loucos ruídos das noites embebidas em pequeníssimos círculos, curtos, curtos cada vez mais, até que a árvore e o chafariz e a linda flor com pétalas de Cristal, apenas um

Ponto,

Final

Sem paragrafo.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

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