Habito neste labirinto de lata.
Desta pobre sanzala abandonada.
Habito neste corpo de ossos,
Alicerçado às muralhas dessa pobre calçada.
Habito neste corpo de chapa,
Cansado da tristeza.
Vejo-me no espelho da beleza…
E apenas observo sombras, linhas rectas envergonhadas.
Habito neste poeirento cansaço,
Nas tardes infinitas,
Que os meus lábios vomitam…
Palavras malvadas.
Palavras bonitas.
Habito no teu cabelo desgovernado pela doença,
Entre gemidos e demência,
Habito na tua boca engasgada na madrugada,
Quando o silêncio não é nada,
Quando a vergonha,
Envenenada,
Dorme na tua mão calcinada.
Habito, meu amor, neste palácio assombrado,
Dentro de livros com personagens moribundas,
Entre xisto e calçado,
Nas montanhas fundas.
Habito.
Habito nos duzentos e seis ossos Outono,
Quando as árvores se despem, e o teu corpo, longe do mar,
Enaltece a maré de chorar.
Habito sem parar,
Neste labirinto do sono.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
01/12/2019