Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Out 15

Esqueci-me de amar-te

No esconderijo da noite

Dormias nos meus braços

Como dormiam os vampiros das searas envenenadas

Pegava na tua mão

Alicerçava-me a ela como se fosse uma âncora invisível

Para me aprisionar

Sempre

Eternamente sempre

E esqueci-me

Do esconderijo

Que habitava a noite

Amava-te sem o saber

Sabendo que te amava

E dormias

E pegavas na minha mão…

E sempre

Amanhã

Depois de amanhã…

O amor encastrado na montanha da solidão

Tinhas as pálpebras em combustão

Tinhas o silêncio suspenso nos teus lábios

E um beijo acordava na claridade do desejo

Sou um pedinte diplomado

Que não se cansa de encontrar o amor na madrugada

Quando há madrugada

Quando há o amor

O amor da madrugada

Sentias, acredito que sentias os meus olhos nos teus olhos,

Cegos

Esperando o regresso do alpendre abandonado

O mar

O mar, meu amor, dançando nas tuas coxas,

Saltando os muros de xisto da paixão

Que divide o prazer da ilusão

Amanhã

Depois de amanhã…

O amor ancorado aos insignificantes corpos de desilusão

O mar

E o amar

No sono da lentidão.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 28 de Outubro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:44

18
Jul 15

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 Desenho de Francisco Luís Fontinha - Alijó

 

Não me conheço neste espelho desventrado pela dor,

Não mereço o teu sorriso,

Misturado nos orgasmos em delírio com a minha ausência,

Com a minha dor,

Pertences ao silêncio das rochas apaixonadas,

Suspendo-me nos teus lábios,

Galgo as montanhas dos marinheiros sonolentos,

Sem rumo,

No espelho…

Impostor

Amor

Sem pertencer aos Oceanos de medusas desenhadas nos teus seios,

 

É tarde,

Não te pertenço,

Não me pertenço,

Sou um palhaço sem dono,

Um circo arruinado,

A arte…

Arde no meu peito de cerâmica envenenada,

E sem rumo,

 

Sou um falhado.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Julho de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 09:05

08
Dez 14

Não sabia que o teu nome

era apenas um nome

uma solitária palavra

sem alma

sem coração

sem... sem barcos ao anoitecer,

 

não sabia que o teu nome

era apenas um nome

sem corpo

sem sombra...

 

não sabia que o teu nome

era apenas um silêncio

sem imagens

sons

ou... ou fotografias

em constante mutação,

 

não sabia

não sabia que o teu nome

era apenas uma assombração

uma cidade esquelética voando no pôr-do-sol,

 

(Não sabia que o teu nome

era apenas um nome

uma solitária palavra)

 

como as pálpebras do poema antes de ser o poema,

 

não sabia que o teu nome

era apenas um nome

um soluço mastigado nas sílabas do Diabo...

não sabia

que... que o teu nome

é como a areia húmida

e o mar apaga todos os seus desenhos

como a morte... apaga todos os seus corpos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:04

16
Jul 14

A terra que te prometi, existirá?

o chão lapidado onde rolavam dois corpos de arame, como era o seu nome...

esqueci o significado de noite,

esqueci o horário nocturno das avenidas em flor,

a terra, a terra que te prometi... não, nunca, nunca mais a observei,

antes brincávamos como duas crianças em frente ao mar,

e hoje,

e hoje o chão lapidado onde habitavam os nossos corpos deixou de existir,

havia uma cama fictícia com duas lanternas de silêncio...

havia um apito que assinalava a nossa partida,

partir,

não regressar, nunca, e nunca mais a observei.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 16 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:48

15
Dez 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

Desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso..., sentíamos o vento dançar sobre a neblina madrugada,

No pulso as pulseiras das feridas cansadas,

A madrugada entretinha-se com um baralho de cartas, meia dúzia de azeitonas e algumas rodelas de linguiça..., havia chouriço assado e pão de centeio, música desgovernada que a menina com pulseiras das feridas cansadas deliciava-se a ouvir, encerrava os olhos e

Voava...

Sobre os plátanos maternos dos dias nublados o mar da saudade entrava-nos dentro da cabana com telhado de colmo, nunca vi a chuva dentro do corpo dela quando a roupa desaparecia do estendal e um emagrecido esqueleto de desejo deambulava em cima do cobertor de lã que alguém nos tinha oferecido, ainda muito antes de ela ser ela, ainda mesmo quando não tínhamos, ainda mesmo quando não usávamos...

Beijos, e margaridas nas jarras em porcelana,

E

Voava o cretino calendário com a fotografia do espantalho de palha, junto à eira uma pequena fogueira alimentava a canção dos grilos aflitos dentro da cratera terra onde brincavam espigas de milho, feijão e aqui e além...

O centeio vivia sufocado com as auroras boreais das latidas palavras caninas, o burro culminava a exuberante letra do poema abandonado, fotografias infinitas zurravam nas labaredas da fogueira que a eira gritava

São minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras,

Ninguém se mexia, ninguém acreditava em fogueiras, círios e desenhos inscritos na docas árvores com espelhos de prata

Eu + Tu,

Dois parvos,

Amor de...

Outra parvoíce... amo-te... nunca mais...

(desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso)

Eu + Ele,

E

voava, e são minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras, aquelas que escrevia no corpo dele enquanto o tempo morno

Morno?

Não, não morno...

Morto, matávamos o tempo escrevendo versos no corpo um do outro, ela dizia que as árvores estavam agoniadas com tantas

Tontas?

Não, não tontas, com tantas velhas inscrições...

Eu + Tu,

Será, não será, e uma seta aproveitava a esplanada da paixão e alojava-se no coração desenhado do velho tronco, a navalha entrava corpo adentro, a navalha recheava os telhados amaldiçoados das ruas com janelas...

E

Os cortinados

Da cidade

Da cidade dos cães, latidos, uivos, suspiros...

A paixão?

O amor morto depois de assassinado pela canção da menina com pulseiras... no pulso as pulseiras das feridas cansadas, e cansadas elas percebiam que éramos sombras à espera do desarrumado relógio de pulso, o mesmo que esteve presente na noite de núpcias, o mesmo que presenciou o primeiro “charro”, aquele que assistiu à primeira “chinesa”... aquele que acreditava na menina com pulseiras

Parvas,

Monas,

Tolices em palavras depois de mortas.

 

 

(não revisto - ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

16
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer

não sendo eu um homem como os homens das bandeiras embriagadas

porque me procuram nas entranhas manhãs de cacimbo

eu escondido no zinco telhado do musseque alvorado

porque sou assim

um casebre sem esqueleto e ignorado

um imbecil que em tudo acredita

e que procuram como se fosse um objecto para reciclagem

usa-se

deita-se fora

e nasce em ti o dia ensanguentado das tristezas noites junto ao Mussulo

porque sou um um monstro vestido de negro

 

(como o dizem quando me chamam

e acordam

em todos os silêncios do medo...)

 

porque finjo que sou amado

porque acredito eu no amor

quando o amor é uma caravela à deriva no triste Oceano

porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer

porque sou um canino disfarçado de desenho animado

porque me dizem que sou um poema odiado

palavras da merda escritas por um gajo de merda

porque acredito

se nunca deveria acreditar nas manhãs sem nuvens

porque são falsas

e logo em seguida

ejaculam as gotinhas amargas da chuvinha colorida...

 

(como o dizem quando me chamam

e acordam

em todos os silêncios do medo...)

 

sou um gajo porreiro como o são todos os cadáveres da morgue do púbis amanhecer

porque sou um imbecil sentado num banco de jardim

espero as ripas madres em madeira apodrecida

finjo que sou amado

e todos o sabemos que não o sou

porque apenas pertenço aos corpos dilacerados

dos musseques adormecidos

doridos

mórbidos entre as espadas dos livros em poesia

e as palavras semeadas nas tuas coxas de terra fértil...

esperam as sementes da alegria

como se fossemos apenas vozes entrelaçadas como dedos em vaginas acorrentadas às sílabas inanimadas...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 16 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:33

14
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

prometidas equações de prata nos olhos da cidade agoniada

da boca os sinceros mergulhos de solidão

como simples quadrados traçados no térreo pavimento do desejo

há nela uma janela com vidros de sémen

que caminham

e vivem no Mosteiro da insónia

prometidas coisas

sem sentido sem sentido...

simples

simples anexos de chita

sobre o nu travesti que as coxas do silêncio absorvem antes de terminar o dia

e prometidas linhas de fino ouro que atravessam as ruelas dos sonhos

e infestam de palavras as mãos ensanguentadas das mulheres-sombra

alimentam-se de pedaços papel e singelas migalhas de areia da algibeira da agonia

sentíamos os velozes corpos transatlânticos vestidos de aço como líquido esquelético dos alicerces de vidro

e amávamos-nos quando nos embrulhávamos nas montanhas das gaivotas em cio

prometidas equações que o teu corpo seduz como a Professora quando do aluno fantasma

ossos e pregos e madeira ressequida saltitam no recreio da escola

há árvores sobre os diques do prazer quando ejaculam as searas os palhaços de trapos de cetim

e amávamos-nos sobre quatro rodas em movimento curvilíneo

um pêndulo e um cordel

e tudo o que nos restou da tempestade de zinco aos telhados engrenados no teu ventre

chovia enquanto desenhávamos sexo nas frestas do gesso

às paredes argamassadas das esquinas iluminadas pelo teu olhar de manteiga...

 

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 14 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:12

27
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

dois pontos de ténue nua luz

esperando pela abertura da triste janela

dois corpos vestidos de onda

caminhando nas tuas costas de porcelana

voando sobre a doce cama

onde se escondem os homens de palha com palavras inaudíveis

fracas

terríveis

 

dois pontos teus hoje na roda da fortuna

rodando como milagres indefinidos no altar das Marias adormecidas

vaiadas

cansadas

correndo ruas despidas

descendo e subindo calçadas

como tu

como eu

 

à sombra

dois pontos de ténue nua luz

comendo sílabas enlatadas

e bebendo

chá de ervas enraivecidas

sumarentas

na caverna da Dona Joaninha...

e uma ferradura pendurada à porta

 

e um velho letreiro recordando

barbas e cabelo

barbeiro

oficina de beleza

pintor de jóias roubadas...

barbeiro feiticeiro

barbeiro literário... poeta

dois... dois pontos de ténue nua luz

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 27 de Agosto de2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:49

08
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Inventava cavernas na tua garganta

percorria as entranhas rochosas da tua pele de cogumelo acabado de nascer

via na tua língua as migalhas de incenso

trazidas pela insónia

inventava barcos no teu púbis como os desenhos das gaivotas sobre os teus seios de silêncio

ao cair a noite sobre o Castelo da Solidão,

 

Inventava um divã semi-nu em busca de corpos crucificados pelo suor da noite

e das pedras as encarnadas palavras copiando veias e artérias dentro do medo

vinha até nós a escuridão dos areais cinzentos com plumas adormecidas

vinhas-me do espelho e dizias que eu parecia uma lanterna poisada sobre um pedaço de espuma

que o teu nobre corpo degolava como sílabas num texto embriagado

pela minha triste mão,

 

Sabias-me a neblina quando palmilhava o teu corpo com os meus lábios

escrevia meros poemas em poucas palavras de argamassa orvalhada

sentia-me entre dedos e marés

como ventos ciclónicos depois de partir o último comboio para o Castelo da Solidão

puxava o último cigarro

e agarrando o último suspiro... cerrava os olhos até adormecer eternamente só... dentro do teu peito...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:26

23
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Sinto-me como um panfleto manuscrito, rasurado em determinados centímetros quadrados de área, sinto-me uma pulga vagueando no interior do pêlo fiel amigo meu canino, escondo-me das luzes, escondo-me dos paralelos desconformados, defeituosos, alicerçados a um passado que nunca, nunca existiu em mim um mar verdadeiro, silencioso, com ondas coloridas, calmas, docemente cinzentas como as flores do teu olhar, sento-me e esqueço-me da tua existência como mulher, criança, menina mimada, sempre em revolta, a brincar, às vezes, dentro da minha oca cabeça, recheada, a minha oca cabeça, com papel de parede floreado, que me servirá para alimentar o medo do quarto onde me deixam adormecer, deixavam? Também o desconheço, o ignoro, penso nas mãos dele e tenho-lhes medo, medo de ser acariciado como uma rosa quando acorda no jardim em desejados corações de incenso,

Tenho-os dentro do meu esqueleto os antigos panfletos manuscritos, rasurados, nojentos, tenho-os, mesmo antes do nascimento do amor, em mim, recordo a primeira paixão, talvez fosse o mar, o meu primeiro amor, ou... as mangueiras, ou... o meu fiel amigo chapelhudo, ou o abraço do velho Domingos quando regressava a casa, abria-me os braços... e eu, entrava dentro dele, até ao dia seguinte, até ser novamente manhã,

Lembro-me das tuas carícias, recordas-me tu em apenas três imagens, três simples desenhos inventados por ti numa noite de desenhos com literatura e vodka, ouvíamos “Dire Straits” sentados numas cadeira com uma estrutura flácida, como o sexo em noites de embriaguez, deitavas a cabeça no meu ombro, e voávamos sobre um Lisboa acabada de descobri, eu imaginava-te dançando sobre uma mesa num bar em Cais do Sodré, tu, não me imaginavas mas sabias que eu era um panfleto manuscrito, rasurado, como a montanha quando nascem os pássaros e a olham pela primeira vez, sorriem e exclamam...

Amo-o,

As tintas alimentava-te,

Amo-a,

Também, vestia-se de tela, e do corpo cresciam raízes pedestais em cúbicas cidades de areia, dançávamos como se não existissem madrugadas de poesia, como se não existissem rosas no jardim do amanhecer para alimentar-te os lábios pincelados de encarnado sangue, fluidos derramavam-se-te como espelhos em pedacinhos de luz, que reflectiam nos tectos das noites ausentadas, e percebia-se figuras não geométricas nos teus lençóis de insónia,

Hoje,

Amo-o,

As tintas alimentava-te,

Amo-a, o cansaço equacionado em triplas integrais numa ardósia junto à pastelaria onde comíamos os fabulosos pasteis de nata, Belém, a nossa casa, um relvado infinito de sombras, de braços entre beijos e sonhos, as árvores despiam-se e deitavam-se connosco, éramos muitos, muitas, o quê?

Amo-o, dizias-me tu enquanto te masturbavas no espelho invisível da noite, e no entanto, reconhecia os meus desenhos no teu corpo bronzeado, escuro, como os livros acabados de arder sobre as tuas coxas de silício, e ias à janela, e desaparecias como desaparece o fumo dos cigarros que hoje não fumo...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

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