Decididamente ninguém, ninguém gosta de mim. Decididamente nada, nada gosta de mim.
Detesto a chuva, e a chuva não de mim, e a chuva entra-me pela porta dentro sem a ter convidado, gosto do sol, e o sol não de mim, esconde-se por entre as nuvem e não aparece, gosto dos pássaros e os pássaros não de mim, cagam-me na cabeça e eu com a mão a cheirar a merda, gosto muito do meu cão e o meu cão não de mim, e quando pode ferra-me os poucos dentes que tem nos meus tornozelos, e depois, de barriga para o ar, eu sendo um parvalhão, ainda lhe vou coçar a barriguinha, não digo que gosto de dinheiro, e o dinheiro não de mim, e há muito que não o sinto na algibeira…
Decididamente ninguém, ninguém gosta de mim. Decididamente nada, nada gosta de mim, e brevemente andarei livremente pelas ruas de Lisboa, cabelo comprido, barba grande, rosto de fome, e de papelão na mão à procura do melhor sítio para dormir; e estes sim, estes gostam de mim (as ruas, o papelão e o sítio onde dormir).
Decididamente sinto-me só.
FLRF
29 de Março de 2011 Alijó
Alijó