Não vou ter tempo para desenhar o tempo no silêncio da noite teu corpo,
Não vou ter tempo para semear nas tuas cochas o mais belo poema de amor…
Porque não sou poeta,
Porque não sou desenhador,
Não vou ter tempo para ver o nosso filho escrever no pavimento térreo do quintal,
Porque nem sequer temos um filho,
Porque nem sequer temos um quintal,
Não vou ter tempo para acariciar a chuva miudinha que se entranha no teu cabelo,
Não vou ter tempo para ir à lua e trazer-te um beijo…
Porque sendo astronauta não tenho esse desejo,
Não, não vou ter tempo!
Não vou ter tempo para te desejar,
Não vou ter tempo para no teu corpo brincar…
E juntos, sem tempo, olharmos o mar,
Não vou ter tempo para muito viver,
Já muito vi sem querer…
Não, não vou ter tempo!
Não vou ter tempo para escrever,
Tempo para amar,
Tempo para ver nascer…
Nascer no tempo… no tempo de sofrer.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Junho de 2017