Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Jan 20

Não me digas as palavras que eu te prometi.

Ontem, reinava o silêncio, no interior do teu abraço,

As flores, cansadas de dormir, acordaram com o teu sorriso,

Dilacerado nas manhãs de Sábado.

Não gosto dos Sábados, meu amor.

Fico estúpido, burro,

Durmo na despedida do Adeus,

Às vezes, esqueço-me de almoçar,

Lanchar,

Ou… jantar,

Coisa pouca,

Ninguém morre por não comer.

Não me digas as palavras que eu te prometi,

Porque este livro em solidão,

Assusta-se com a minha voz,

Foge de mim,

Como um mendigo,

Ou… sem-abrigo.

Não,

Não me digas,

As palavras,

Em voz alta,

As palavras que eu te prometi,

E mesmo assim, hoje, escrevo-as no teu olhar.

Sinto-me cansado dos dias,

Das noites,

Sem dormir,

Vagueando num corredor escuro,

Sombrio,

Que me traz à lembrança, a morte.

Essa mesmo,

O final do dia,

O eterno desgosto,

Que abraçam os livros de poesia.

Oiço-te,

Lá longe,

Nas páginas esquecidas da sonolência das palavras,

E mesmo assim,

Grito,

Sufoco com os gritos das pedras,

Também elas, tristes, gastas, e, cansadas.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

15/01/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:47

30
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sacias-te na minha sede mergulhada em perfumados cachimbos de prata,

encontras em mim a doce corrente do aço clandestino da saudade,

sei que existo porque escrevo-te palavras, vãs palavras que o tempo come, e alimentam as tempestades da dor,

sacias-te em mim como se eu fosse um marinheiro escondido na escuridão da cidade,

procurando engate, procurando o prazer sem o prazer... no inanimado mundo da morte,

procurando mãos silenciosas para argamassarem o meu corpo aos cais do desgosto,

e sinto-me uma ténue folha de papel esquecida no teu ventre,

sacias-te nos meus olhos, e cerro-os para me ausentar de ti,

palavra, palavra do engano que sente o sofrimento,

e... dizes-me que todas elas são inconstantes equações trigonométricas,

cansadas,

tão cansadas como as tuas mãos poisadas no meu rosto de lata...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 30 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:54

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