Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Mar 20

O tempo silencia os teus lábios de cereja adormecida,

Quando a nuvem da manhã,

Poisa docemente no teu sorriso;

Há palavras na tua boca,

Que absorvo com saudade,

E, nada me diz, que amanhã será uma manhã enfurecida pela tempestade.

Subo à sombra do teu olhar,

E, meu amor,

O cansaço da solidão deixou de acordar todas as manhãs.

Fumamos cigarros à janela,

Dentro de nós um volante de desejo,

Virado para a clarabóia entre muitas janelas,

Portas de entrada,

Escadas de acesso ao céu,

E, no entanto, o fumo alimenta-nos a saudade,

Porque lá longe,

Um barco de sofrimento, ruma em direcção ao mar.

É tarde,

A noite desce,

O holofote do silêncio, quase imparável, minúsculo, visto lá de cima,

Ruas, caminhos sem transeuntes, mendigos apressados,

Vagueando na memória.

STOP. O encarnado semáforo, cansado dos automóveis em fúria,

Correm apressadamente para Leste,

Nós, caminhamos para Oeste,

E, nunca percebemos as palavras que as gaivotas pronunciam,

Em voz baixa,

Com os filhos ao colo,

Sabes, meu amor?

Não.

Amanhã há palavras com mel para o almoço,

Dieta para o jantar,

E beijos ao pequeno-almoço;

Gostas?

Das nuvens da manhã?

Ou… dos pilares de areia que assombram a clarabóia?

Nunca percebi o silêncio quando passeia de mão dada com a ternura,

De uma tarde junto ao rio,

Ele, folheia um livro,

Ela, tira retractos aos pássaros,

E, porque te amo,

Também vagueio,

Junto ao rio,

Sem perceber o meu nome,

Que a noite me apelidou,

Depois do jantar,

Numa esplanada de gelo.

O ácido come-me, a mim, às palavras, como a Primavera,

Num pequeno quarto de hote,

Entre vidros,

Livros,

Palavras,

E, desenhos.

(aos depois)

Nada.

Brutal.

Os comprimidos ao pequeno-almoço.

Fim.

Amanhã, novo dia, nova morada, beijos,

Cansaços,

Abraços,

E, portas de entrada.

O amor é luz.

O amor são flores, árvores e, pássaros.

E pássaros disfarçados de beijos.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/03/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:47

20
Dez 15

Neste porto onde me encontro fundeado pareço um pergaminho desgovernado,

As palavras fugindo para o Cais dos Afogados

Como se houvesse um silêncio em cada palavra escrita,

Deixei de pertencer ao meu corpo,

Deixei de ter corpo,

Para alimentar o desassossego da solidão,

Neste porto

Um infeliz marinheiro sem Pátria,

Em busca da sua embarcação…

Fundeada nos meus braços,

Carrego nos ombros a morte,

O infeliz destino de ser menino,

 

Carrego nos ombros a forca

Dos telhados de vidro…

E o triste destino.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 20 de Dezembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:27

20
Nov 15

Este triste rio

Que desabraça as suas margens

Que troca o silêncio da noite

Por gaivotas em papel

E barcos de sombra

Agacha-se quando a solidão brinca no vento

Sorri quando a melancolia voa sobre os coqueiros

Este triste rio

Que habita no meu peito

Não dorme

Não come…

Mas ama

E sofre

Como eu

Uma caravela sem destino

No estrelar do desejo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 20 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:43

08
Nov 15

não sei quem és

porque me desejas

o que queres

aspiras

inspiras

deste meu corpo desajeitado

desassossegado

triste

abandonado

não sei quem és meu amor

não sei se és uma árvore

uma flor

não sei quem és

meu amor

quando o dia se alicerça nos teus lábios

os beijos

a boca semeada na seara distante

o infinito

longínquo

distante

de mim

de ti

meu amor

senti

sem ti

o infinito

desgosto

da madrugada ente soníferas equações

e seios desnudos

camuflados na espelunca cânfora manhã indivisa

o sono

a brisa

em ti

e de mim

um abraço…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:37

08
Out 15

Invento as lágrimas da solidão

Sobre o papel amarrotado da paixão,

O significado da morte esvaece-se no corpo de um sonâmbulo,

O mar que desenhei no teu olhar…

Não existe mais,

Nem o mar,

Não existe mais,

Nem o teu olhar,

 

Invento as lágrimas da solidão

Antes do regresso da noite vestida de canção,

Perdeu-se nas palavras adversas, perdeu-se nas planícies submersas…

Dos jardins suspensos da madrugada,

 

Visivelmente cansado…

 

Inventar objectos estranhos como as lágrimas da solidão

Em combustão,

Sobre o papel amarrotado da paixão,

Visivelmente cansado,

Sem destino,

Sem uma mão,

Caneta…

Para escrever no coração da tristeza…

 

Este menino,

Visivelmente cansado,

Sem destino…

Dorme docemente na sombra do abismo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 8 de Outubro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:15

29
Ago 15

desenho_30_08_2015.jpg

(desenho Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)

 

Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,

Longínquas do olhar da madrugada,

O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,

O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…

O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,

E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,

Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…

E este mar, meu amor,

Crucificado nas espingardas do coração abandonado,

Semeado nas searas do cansaço…

É triste, meu amor…

Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

É triste, meu amor…

Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,

E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Agosto de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

31
Mai 15

Este negro espelho

Abraçado à solidão do cansaço

O sonho embainhado nos alicerces da noite

Como se a noite fosse o cobertor

Protector

Da alegria

Não sentida

A vida a escoar-se montanha abaixo

E o rio enforcado no socalco esquecido pelo homem

Dos sonhos

Entre sonhos

A poeira das fotografias,

 

Abandonadas

E perdidas,

 

Este negro espelho

Sem coração

Que o dia entristece

E aquece

Na lareira da dor,

 

E há uma fogueira no meu peito

E há um esconderijo nos meus braços

Prateados

Das doces pálpebras do destino,

 

O menino,

 

Este negro espelho

Espantalho do sofrimento

Que só o sono consegue alimentar

E na lareira da dor

As cinzas parcas dos eléctricos

A cidade ignora-me

Mas não me importo com as cidades

Os rios

O mar

Os barcos

O menino…

Perdido na esperança de acordar.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 31 de Maio de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:29

16
Mar 15

A melodia nocturna da aventura

os esteios do silêncio abraçados ao cansaço

desespero

e espero

que acorde o dia

sem amargura

sem... sem cortinados de penumbra

baloiçando no pescoço da saudade

os cigarros entre as estrelas

os dedos mergulhados nos teus seios

acesos

em espuma

palavras

números

portas

e ruas

despidas

nuas

e sinto do outro lado do rio

os guindastes da solidão

voando como gaivotas

livres

como os barcos

sem marinheiros

sem...

acesos

os ossos em papel

das migalhas invisíveis do voo

o infinito

destino

das mãos

quando alguém desiste do luar

e sem... acesos

os ossos

o infinito destino

das mãos no leito do sono...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 16 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

31
Jan 15

Pintura_55_A1_Nova.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Roubaste-me o sorriso nocturno dos beijos em flor

pegaste nas minhas palavras e transformaste-as em solitárias andorinhas

depois

trouxeste a Primavera

e o amor

do poema

de amar o poema

e sentir no peito as equações do destino...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 31 de Janeiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:35

15
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Onde me levarás quando eu descer os cortinados da dor, comíamos sandes de livros com molho de poesia e tantas migalhas em palavras, que hoje, nos esquecemos dos momentos ínfimos que a noite nos proporcionava, acreditávamos em silêncios e desenhos nas paredes do sono, lápis de cor, caixas de seis, doze ou... vinte e quatro, e sonhávamos com um corredor fino, alto, e escuro, e havia uma porta envidraçada, uma porta de entrada para o nada, e ninguém nos perguntou porque vivíamos obscuros, fingíamos-nos também nós, de pequenos cubos de vidro, fingíamos-nos também nós, de porta com o espaço reservado aos nossos corpos de vidro, livres, não opacos, transparentes e flutuantes como as folhas das árvores do jardim

o destino é fodido, dizias tu...

Do jardim das grandes amoreiras, as tuas sandália jaziam sobre o tapete de ardósia, voando, subindo veredas de carvão, o suor do teu corpo parecia papel de embrulho, ofegante, dilacerante, oitenta e quatro metros por segundo quadrado, tu, descias, descias até mergulhares nas

destino, é, hermeticamente fechado como as caixas de porcelana onde guardavas os guardanapos, alguns anéis e outras bugigangas sem interesse, como tu, para ti, sem interesse, como eu, como são as portas depois de encerradas, pregadas do lado exterior, como são os olhos das fechaduras, quando dilaceram um corpo nu, ou quase nu, suspenso nas mãos de oito estrelas com cinco cordéis de algodão, cinco, quatro, alegrias de viver e uma janela de Inverno com sombras para o mar das sílabas cansadas pela tua doce boca de lentidão, beijos, e víamos a tua face rosada mergulhar no candeeiro sobre a mesa-de-cabeceira,

o

é, dizias-me tu,

E como eu te percebo agora, porque sempre fui um filho bastardo do maldito destino, e sempre gostei de ti, como o sabíamos depois das tristes palavras que deixaste penduradas num pequeno cartaz junto ao frigorífico, irritei-me, peguei nele... e andar abaixo, rés-do-chão esquerdo, a vizinha por milímetros não atropelada por um amontoado de sucata, velharias, como eu, aqui, sentado, a tentar perceber o maldito destino de mim, sabendo eu, que eu, não, nunca, existi

acreditarás no meu pequeno corpo?

E pior do que isso... é que nem sou em ferro, porque os sucateiro davam-me um euro por cada quilo, ora isto perfazia cerca de setenta e nove euros, não era muito, sempre será alguma coisa, por enquanto, espero, porto ancorado às ilhargas elásticas dos azuis camarotes de veludo, havia champanhe, caviar, e o melódico som poético do homem das sete luas gordas, recheadas com pequenos pássaros das árvores do quintal coberto por mangueiras, criança triste fazendo-se passar por estilista, desenhava e costurava vestidos por medida, e nas horas vagas, escrevia poesia nas paredes do quarto, desenhava nas paredes da casa de banho, e irritava-se quando não o levavam a olhar o mar, domingos de manhã, escondia-se entre os barcos atracados no Porto de Luanda, e sonhava

um dia vou ter uma porta com muitos vidros, e debaixo da ombreira, uma linda mulher, com panos brancos, ou quase nua, ou ambas, ou nenhuma delas... um dia, vou ter uma porta, vinte e quatro, vinte e cinco, pequenos vidros, quadradinhos de ternura e açúcar prateado porque os teus lábios são como os pasteis de nata, comem-se, e depois... depois sentimos-nos leves como as gaivotas, passamos debaixo das portas com pequeníssimos vidros, e voamos sobre o Tejo...

Acreditas nos destino, amor meu?

E saboreava-os na boca como se fossem beijos teus...

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

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