No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,
Um número esquisito suspenso na ardósia da tarde,
O mar está calmo, meu amor,
Tão calmo que podia suicidar-me nele sem ser percebido pelos seus lábios,
Dormir até à próxima maré de solidão que se enrola no meu corpo,
Um ninho de pássaros nunca visto por mim
Vive no meu jardim,
Cantam, brincam… e cagam todo o pavimento…
Mas gosto deles como gosto do teu sorriso na mácula presença de “Deus”,
Um abraço, o desenlace florido dos canteiros, sabes, meu amor, amanhã não haverá flores nos teus cabelos,
E a Madame sem nome entre gritos histéricos ao pôr-do-sol…
Salva-me, salva-me meu amor deste cansaço provisório que escreve nas minhas mãos os “poemas perdidos”, os poemas que ninguém lê e não gosta.
No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,
E não saberei se estarás cá quando eu partir,
Detesto despedidas, meu amor, junto ao Tejo…
O cheiro dos barcos.
O perfume das gaivotas em revolta,
Que dormem junto à minha janela,
Quando nos espelhos do corredor acordam os esqueletos do sofrimento,
As estrelas são o teu olhar camuflado na escuridão da feira da vaidade,
Remeto-me ao silêncio, sabes meus amor, os jardins debruçam-se nas tuas coxas de xisto, e do rio regressa a ti a hipnotizante palavra do “Adeus” …
O cheiro dos barcos.
Junto ao tejo, meu amor… junto ao tejo…
O feitiço da Madame sem nome.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 10 de Junho de 2017