Não tinha quase nada, e do pouquinho que tinha, possivelmente perdi-o. É como uma gaivota quando se lhe tira as asas e começa a afundar-se no oceano, aos poucos mergulha, deita-se no chão e abraça-se à maré.
Olho o horizonte, nada.
Olho para o céu, nada.
Olho a minha mão, e na minha mão nada, apenas as asas da gaivota.
Chamo por ela, não responde.
E partiu sem se despedir, e partiu sem me dizer adeus.
Corro apressadamente pela areia fina da praia, e não me canso de chamar,
- gaivota, gaivota… gaivota,
E a gaivota fundeada nos lençóis do mar, cabecinha deitada numa rocha e as pernas enterradas no lodo; perdi-a.
Desisto de procurar, desisto de caminhar, desisto do mar que tanto amei em Luanda, desisto do circo, dos palhaços, desisto da Mutamba, dos machimbombos, desisto do hóquei nos Coqueiros… desisto de sonhar, desisto do capim e dos papagaios de papel.
E nunca vou desistir de aprender a voar…
(texto de ficção)
FLRF
29 de Março de 2011
Alijó