Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

21
Mar 18

(21 de Março, dia Mundial da Poesia)

 

 

 

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Boneca de trapos, entre livros e plátanos,

Entre farrapos e palavras adormecidas,

Que só o vento sabe esquecer.

Tão magras as tuas mãos sapientes,

Quando tocam a minha face de xisto,

Grito, grito…

Existo!

Tão melódica a tua voz de cantadeira,

Quando o mar sobe a calçada,

E traz no ventre a despedida,

Triste, amargurada.

Dentro do parêntesis da madrugada,

A simplicidade do teu sorriso,

Tão simples o teu desejo,

Quando o beijo, enraivecido, se abraça à noite,

Tão simples o teu cansaço,

Nesta terra de ninguém,

Alguém,

Quase nada,

Perdido no espaço.

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Quando a alegria parte, morre…

E poisas eternamente numa fotografia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Março de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:17

24
Dez 14

Tínhamos no olhar o silêncio da noite

caminhávamos desordenadamente como dois pontos perdidos no espaço

procurávamos o invisível cansaço

que só as tardes de Dezembro conseguem alimentar

e no entanto

pegando na tua mão...

não havia luar

nem palavras na ardósia dos teus cabelos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:26

06
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Vivíamos perto da fronteira com a loucura, havia flores que nunca acordavam, e quando o faziam, sonolentas, pareciam vadios homens deambulando as paredes frias, finas e escuras, do corredor com acesso a lado nenhum, um postigo embriagado, todas as manhãs se abria como os olhos das borboletas quando as pálpebras do silêncio se dilatam, aumentam de volume e começam a chorar, o dia clareava em duodécimos, e pouco depois, digamos que

Tempo de mais,

Elas apareciam vestidas com roupas leves, de cor branca, com o aqui e além, dispersas em sacrifícios de momentos devastados pela chegada da tempestade e partida da solidão, dizia eu, algumas rosas em puro linho, que ao longe mais pareciam janelas, ainda mergulhei-me em pensamentos parvos

Será que ela tem janelas no peito?

Claro que não, claro que não, e pitosga como sou, facilmente confundiria uma palmeira com um beijo, ou

Será que ela ainda pensa em mim?

Ou

Claro que não, claro

Que esperavas, tu?

Eu?

Sou um tipo porreiro, tenho amigos em todo o lado e ainda ontem

Claro que não, Alice, claro que não,

E ainda ontem recebi uma carta (mesmo carta, em papel, com letras desenhadas a caneta e perfumada) cujo remetente era algures da Lua..., como vês, minha filha, o teu pai começa a ficar famoso,

Se eu penso em ti, Alice?

Claro que sim, claro que sim, não, não é engano, o remetente é mesmo da Lua...,

E ainda ontem, Sábado, vi pela ultima vez o teu corpo nu e estranhamente escrito com as minhas palavras, estranho não é? Se eu penso em ti, querida Alice? Claro

Mas ontem foi Sexta-feira..., então foi hoje,

Claro que penso, claro que penso nas palmeiras esperando o regresso do final do dia, o velho Francisco desce cuidadosamente os cortinados do desejo sobre as labaredas do teu corpo a transpirar poesia e pequena literatura, diga-se

(de merda)

Diga-se que sim, que tenho saudades das palmeiras, e da tua voz quando disfarçada me melancolia, quando timidamente me dizias

Amo-te João,

Me dizias que as palmeiras inventavam fotografias, e que ainda hoje, Claro que sim, querida Alice!, que ainda hoje espero pela chegada da tenda do circo onde vivem as tuas mãos, aquelas, Recordas-te, querida Alice?

Sim, aquelas que te afagavam o cabelos...

E depois de me cerrares as pálpebras... eu adormecia no teu débil peito de seios minúsculos, como o vento, aturando limões contra os vidros das janelas, aquelas que eu pensava serem janelas, e que nunca passaram de rosas bordadas pela tua avó...

O que será feito da tua avó, Alice?

Um dia, como nós, simples partículas de poeira viajando pelo espaço escuro e frio, e responder-te-ei...

Claro que sim, Alice, claro que sim, as palmeiras.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:08

08
Dez 11

No centro da galáxia

As tuas mãos prisioneiras no infinito

Um orgasmo curvilíneo

Dorme dentro de um cubo de vidro

E as tuas mãos acariciam-no

E às tuas mãos regressa a luz

 

Que à velocidade de trezentos mil quilómetros por segundo

Evapora-se do cachimbo de Einstein

Os uis e os ais do orgasmo curvilíneo

Que fogem do cubo de vidro

No centro da galáxia

Descem

 

Descem e escapam-se

Escapam-se por um buraco de minhoca

E acordam sobre o silêncio do mar

Onde os teus seios de malmequer

Esperam pelas tuas mãos

Prisioneiras no infinito

 

Estará o criador dentro do buraco de minhoca?

E se o criador não passar de uma complexa equação matemática

Que dentro do buraco de minhoca

Brinca com os uis e os ais do orgasmo curvilíneo

Que fugiram do cubo de vidro

No centro da galáxia?

 

No centro da galáxia

As tuas mãos prisioneiras no infinito

Um orgasmo curvilíneo

Dorme dentro de um cubo de vidro

E do buraco de minhoca

Vêm até mim as espátulas da noite recheadas de cereja e morango…

 

Cerro todas as luzes

E fecho todas as portas

E todas as janelas

Sento-me sobre o cubo de vido

No centro da galáxia

E conto as carícias do vento que poisam no meu peito

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:22

28
Jun 11

Não cai a noite,

E o céu não tem estrelas,

O espaço fica vazio e o vácuo em quadraturas circunflexas nos braços entreabertos quando o tronco em madeira se afunda no lodo do rio, os braços dele um perfil metálico aparafusado a sábados nocturnos e domingos na cama, uma cruz crucificada disfarçada de homem todo o terreno, tracção às quatro rodas, GPS e computador de bordo, e nos lábios um parafuso em aço a disfarçar o cigarro esquecido no bolso, e o calor é tanto e o calor é tanto que o tronco de árvore começa a derreter, e os braços gravíticos de sorriso lei da gravidade separam-se dos alicerces magoados nas profundezas da terra, as equações da estática tombam e a tensão arterial do esforço transverso esconde-se sorrateiramente entre o esqueleto encardido da pele lilás do eucalipto, doente, do eucalipto encurralado na floresta dissidente de gritos ásperos e afoitados da voz decrépita, e a equação da dinâmica,

- O que é o Amor?,

Uma roda dentada de mão dada com um veio excêntrico,

As carnes aproximam-se e fervem num tacho de alumínio, a liga das meias o elástico que surpreende a energia potencial em sopros a uma folha de papel, e as estrelas começam a elevar-se como grãozinhos de poeira no sentido contrário ao da rotação dos ponteiros do relógio,

- Não cai a noite,

E o céu não tem estrelas,

O espaço-tempo de Einstein em curvas nos seios da manhã, todos os corpos e todos os objectos sugados do hipercubo, e no vácuo o crucifixo pendurado na parede da escola, a fotografia do orelhudo, e uma ardósia com luzinhas que acendiam no escuro, a tabuada do oito aos pontapés à tabuada do cinco, e na prova dos nove sobrava-lhe sempre um,

- Cinco vezes quatro a dividir por dez,

E dois senhora professora,

Que tombam no lodo do rio, os braços, as pernas senhora professora, as pernas que tropeçam no rego de água e atrapalham-se com a rama das batatas, e a cabeça senhora professora, a cabeça está pendurada no recreio junto ao pinheiro,

- Bichos,

Muitos senhora professora,

Muitos dias sentado no mesmo xisto, muitos dias a olhar os mesmos socalcos, e muitos dias o céu sem estrelas, e muitos dias senhora professora, e muitos dias que não cai a noite,

E se cair senhora professora, se cair a cabecinha partida nas pedras da calçada, os caixotes do lixo remexidos pelas mãos dos monstros adormecidos, sem medo senhora professora, sem medo da fotografia do orelhudo que me olha na parede, e com sete anos questionava-me,

- O que faz aquele filho da puta pendurado na parede,

E ainda bem que se fodeu,

Ainda bem senhora professora,

Gostei de a reencontrar senhora professora.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

18
Abr 11

Hoje sinto-me um ponto material

Que vagueia no espaço infinito.

Ao longo da minha caminhada pela escuridão

Deixo de ter massa

 

Aos poucos fico suspenso no olhar

De uma estrela que brinca na luz

E a velocidade começa a tender para zero…

Fico submerso no limite do irreal

 

E o mar entranha-se na minha mão

Como se fosse uma doença

Um sismo de grande dimensão

 

Fico apenas a contemplar o escuro que se reflecte em mim

Um jardim de rosas encarnadas

Simples

Perfeitas como o silêncio…

 

Amadas.

 

 

FLRF

18 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

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