Cada dia uma esperança, cada segundo um minuto, um minuto de eternidade, distância, ausência do vazio, e lá longe, no fim do destino, sim, aí mesmo, a minha ilha; a ilha que me viu crescer, aos poucos, umas vezes atinadinho, outras, outras é melhor não falar…
Ao fundo da rua, fica o casebre onde se vende sexo por encomenda, pizzas e demais mercadoria. Também temos café, chã, torradinhas, pensamentos tristes…, e entregas ao domicílio.
Closed.
Amanhecer. E ela não vem há janela. Odeio esta janela. Uma vezes fechada, outras, nem aberta nem fechada, as pestanas de cetim parecem bailarinas a interpretar o bailado; o lago dos cisnes! Piotr Ilitch Tchaikovsky.
Lindo, belo, belíssimo.
Vou passar a chamar-lhe, à tua janela, o acordar do amanhecer, e tu não vens, estás ausente na constelação de Peixe voador, e das oitenta e oito constelações, tinha logo que ir para esta. Tão longe…
Na minha ilha andam a passar-se coisas muito estranhas, analfabetos são doutores e engenheiros, os sem currículo são bem-vindos, bem-vindos ao nosso estabelecimento comercial, os incompetentes são promovidos, isto há cada coisa…
Tão longe, nem à velocidade da luz chegava até ti. Impossível.
E na distância ficarás perdida eternamente, ausente entre dois segundos de nada, e eu, continuarei a caminhar, sem correr, devagar, até novamente encontrar outra constelação, das oitenta e oito, menos tu, são oitenta e sete…
E eis que da cabeça de alguns da minha ilha, como se acontecesse um milagre divino, pois também existem outros milagres, o nevoeiro deita-se cuidadosamente no jardim, e ao fundo, aparece envolto numa túnica amarrotada pelo tempo, El Rei. El Rei do burgo.
- Viva o Rei! Viva.
- Vassalagem a sua Majestade.
Que se foda o Rei. Cada dia uma esperança.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
Alijó