Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

21
Jun 15

Tenho medo de me sentar na esplanada

Junto ao mar,

Tenho medo de me apaixonar,

Pelo mar,

Pela madrugada vestida de mar,

Tenho medo dos sorrisos

E do luar,

Da noite,

Do dia vestido de noite,

Medo,

Medo de caminhar sobre as ervas daninhas e belas,

Medo das ervas menos belas,

E das estrelas

Em forma de velas,

Os barcos cruzam-se nas minhas veias,

Não têm marinheiros,

Mulheres a bordo,

Imagens de cadáveres espelhados

Na sombra da tarde,

Preparo-me,

Sem saber do que tenho medo,

Mas tenho medo do teu olhar…

Vestido de saudade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 21 de Junho de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:44

10
Fev 15

Desenho_A1_13.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

E voas sobre os telhados de vidro

desassossegas-te quando acorda a noite

e percebes que a tarde morreu junto ao mar

inquietas-te

constróis sorrisos fingidos

que só a madrugada compreende

e nunca tens medo de cerrar os olhos

e nunca tens medo das estrelas...

em papel

que eu te deixava sobre a mesa-de-cabeceira...

e voas

como as andorinhas travestidas de silêncio...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:55

10
Dez 14

Sou um estranho teclado

dentro do teu peito,

sou a manhã na boca da insónia...

e perco-me nas tuas mãos

como um pássaro em sofrimento,

surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,

pareces um cortinado invisível,

uma espingarda de papel...

 

sou um estranho teclado

dentro do teu peito,

sou os rochedos incinerados

que escondem as tuas palavras,

e nunca tenho tempo para abrir a janela

do teu coração,

sou um emaranhado de estrelas

sem passado nem canseiras,

 

Sou um estranho...

… no teu peito,

visto-em de negro

e confundem-me com a noite,

sou o silêncio dos teus cabelos

e a cartilha dos teus medos...

sou a clarabóia do teu sorriso

quando lá fora...

 

gritam o meu nome em vão,

e eu, e eu nunca tive um nome,

uma pátria,

uma bandeira,

 

nem... nem paixão...

 

gritam o meu nome em vão,

e o teclado estranho

que habita no teu peito...

chora... chora como a bala de um canhão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:47

05
Nov 14

O vigilante nocturno olha-me e alicerça-se aos meus braços,

sinto-lhe o esqueleto enferrujado a caminhar no meu peito,

ofegante,

alimenta-se dos meus velhos ossos com odor a madrugada sem luar,

peço-lhe um desejo...

e... e nada posso desejar,

o vigilante nocturno é como uma âncora de luz sobre as minhas pálpebras envergonhadas,

que as flores seduz...

e aos jardins oferece poemas,

e... e palavras de amar,

o amor enfurece as árvores sem folhas,

nuas como as gaivotas ao entardecer...

 

Depois acorda o silêncio vestido de cidade,

e eu sem saber o que fazer,

os comboios saltitam dentro dos carris desalinhados,

os comboios parecem corpos a arder...

há cinzas laminadas de sangue no sonífero poético,

alucinações desorganizadas em grande multidão,

uns que choram,

e outros... e outros que choram por prazer,

e sem perceberem...

há uma placa de zinco onde habita uma ponte,

nunca conheci o seu nome,

nunca vi um sorriso nas suas treliças,

 

Têm fome as estrelas de papel que brincam no tecto da minha aldeia,

lêem pedaços de nada e alguns cubos de sombra,

escrevem na incandescente memória o álcool sobejante da noite passada...

ressuscitam os outros vigilantes e demais arruaceiros sem gabardina,

e o meu corpo de aço... tomba sobre o ombro de um transeunte desconhecido,

a cidade é uma seara sem espigueiros,

desalojadas enxadas em luta conta a pobreza...

têm fome as estrelas e os planetas,

mendigos travestis correndo montanha abaixo,

e suicidam-se nos rochedos da infância...

triste, triste esta vontade de escrever...

sabendo que nem às pedras pertenço!

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 5 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:57

11
Abr 14

Viajo pelos cinzeiros envenenados das manhãs de Primavera,

sinto a sombra deles impregnada na minha janela,

oiço-os e vejo-os nas palmeiras do quintal contíguo ao meu,

a manhã levanta-se e começa a cambalear nas tuas mãos de desejo adormecido,

viajo e sei que existem pálpebras encharcadas na neblina inventada,

à lápide o teu retrato, à lápide... o teu nome reescrito e escrito pelas estrelas da saudade,

sou um cadáver imaginário que habita na loucura,

corredores sem portas,

e tectos...

tectos descendo até não poderem mais,

cansados,

tão cansados que pedem licença ao rodapé...

 

(por favor... ajudem-nos)

 

e o rodapé de livro na mão...

 

(quero lá saber... do pavimento não passarão)

 

viajo dentro dos teus fluidos depois de te levantares do meu corpo,

sei que está um crucifixo a observar-nos... mas nada nos diz,

e apenas nos olha,

olha-nos como se fossemos dois pedaços de madeira em combustão.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 11 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:58

06
Abr 14

Inventava estórias para eu adormecer,

dizia-me que todas as estrelas tinham mãos, que todas as estrelas tinham... coração, amor, e... e paixão,

acordava cedo,

sussurrava-me palavras inaudíveis, palavras frágeis, palavras sem rosto,

nuas palavras em corpos vestidos de papel,

inventava estórias com sabor a chocolate,

e ouvia o som melódico da voz invisível,

tinha medo do mar,

e hoje, hoje... amo-o, amo-o como se ele pertencesse à minha vida,

corresse nas minhas tristes veias, nas minhas... tristes palavras,

e eu menino, acreditava nas suas estórias...

nas palavras de estórias que vagueavam sobre os telhados da cidade imaginária.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 6 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:27

11
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

és construção fictícia

és palavra engasgada na frase da alegria

és foguetão rumo ao luar de Inverno

és o inferno

a saudade

és a infância

a vaidade

és uma canção mergulhada na maré

és o amor

a fé

a saudade

és a infância

a verdade

és a madrugada quando se extinguem as luzes do silêncio

és a calçada com pulmões de naftalina

carvão

és menina

és a paixão...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 11 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:38

02
Set 12

atravessávamos o espelho do amor

e com a tua mão entrelaçada na minha

viajávamos como crianças loucas

em direcção aos pontos de luz

 

brincávamos com os teus cabelos suspensos no topo das estrelas

e um silêncio lânguido crescia no coração de uma flor

vivíamos dentro de uma seara sem fronteiras

e éramos livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

 

os rios emagreciam

choravam

 

e longas filas de mel

adormeciam nas janelas da noite

os rios emagreciam

como emagrecem os meus sonhos

 

(e tenho a certeza que nunca irei abraçar-te).

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:04

29
Ago 12

Friamente habitar no teu corpo

ardente

quando tropeço no mar

absorto

morto

sem vontade de acordar

 

friamente os sorrisos da alvorada

como cinco gaivotas envenenadas pelos silêncios da noite

amadas sobre o divã invisível poisado no pavimento sem esquinas de luz

nos corredores da morte

 

friamente o Tejo me engole quando mergulho dentro dos lençóis da solidão

um barco é impossível

nas coxas de um cacilheiro em direcção ao Seixal

e entra em mim o cheiro suficiente para me fazer sonhar

há a possibilidade de eu acordar no solo lunar da margem Sul

sentado numa pedra a imaginar palavras nas ardósias do infinito

 

serei feliz assim?

 

Metade de mim xisto

e a outra metade

pequenos grãos de pólen

nos desejos das abelhas

 

serei amado?

 

Quando todas as portas se encerram friamente

no sono das estrelas preguiçosas

alegremente

 

assim?

 

Serei?

 

Quando tropeço no mar

e de uma rosa de papel

um beijo acorda

abraçado a fios de nylon...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:57

26
Ago 12

Pelo poema, pelas palavras... embrulhados na música, o amor, o amor desce do céu ilimitado, o teu céu abraçado ao meu mar...

E eu imagino um veleiro sem velas galgando os socalcos do douro, e imagino o teu corpo iluminado de sonhos e os sonhos vestidos de beijos, e os beijos, e os beijos nos meus lábios à espera da tua boca e a tua boca, e a tua boca adormecida no meu peito à espera que o céu se apague, e a noite, e da noite desça a tua mão embrulhada em estrelas de papel...

 

(Obrigado Pedro)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:05

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