Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Abr 15

O envidraçado corredor alimentado por fotografias e pensamentos, olho as fotografias, e sinto os pensamentos no corpo, sento-me, e levanto-me, caminho sem destino, volto a sentar-me, e levanto-me, durmo, tantas vezes que o cansaço me absorve, que figura

Os esqueletos de luz passam, e

Que figura, embriagado por uma cadeira, não sonho, invento bonecos de palha no silêncio da dor, e a morte mesmo ao seu lado…

Perdi-me em ti, meu amor, não sei quando acordará a manhã e tu, cá, vestida de insónias sobre a minha campa de palavras, o envidraçado, de vez em quando, sorri

Odeio o riso, odeio a luz e a noite, odeio as cidades e os rios e o mar,

Os barcos,

O que têm os barcos, meu amor,

Corpos,

Mortos,

Desenhos na caligrafia, os desenhos embrulhados às poucas palavras,

Nunca

Lhe

Ouvi

Uma apalavra

Nunca lhe ouvi uma palavra, disse-me ela enquanto tomávamos um café

O cigarro,

Apagado,

O dia terminado, sem que eu tenha alcançado as ruínas dos teus ossos, a cada sílaba retirada

Um ai,

O cansaço das árvores enquanto dormem, as pedras minúsculas do teu olhar, pregadas, à parede sem saberem que o dia nunca existiu

O meu irmão António

O dia nunca existiu, tu, tu nunca exististe, ela nunca existiu nem ele e ela alguma vez tenham existido,

Confusão, as tuas palavras, confusão, meu irmão, a nossa vida

Desgraçada,

António, amanhã vais ao terreiro e trazes meia dúzia de cigarros, três ou quatro fósforos… e fugimos, para longe, meu irmão, para longe, lembras-te, quando pedimos à mãe que nos levasse ao circo…

Não gostavas de circo, não gostavas de nada nem de ninguém, não pertencias a esta vida, o agora, o antes, porque o depois

Circo, António,

Porque o depois torna-se o agora e o agora transforma-se em ontem, e onde estiveste ontem, António,

No circo, no circo,

Do envidraçado, não via nada, nada, apenas esqueletos de luz…

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha - Alijó

Sexta-feira, 24 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:36

14
Set 13

foto de: A&M ART and Photos

 

existes porque eu quero que existas

choras

não porque eu quero que chores

abraças-me porque eu quero que me abraces

amas-me

não porque eu quero que me ames

existes

insistes

e não desistes...

choras porque há nuvens de azoto nas pálpebras do Sol

porque eu quero que tenhas asas

e que voes e que voes.., como uma gaivota em desejo

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 14 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:54

12
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Existes

porque eu desejo que existas

em mim

dentro do meu peito

 

Existes

até me apetecer que existas

como as árvores do quintal de Luanda

existirão elas ainda?

existes eu sei que existes

até eu o desejar

que existas

inventando-te para me abraçar

quando a manhã se transforma em silêncio...

existes

mas... e existirás até eu me cansar que existas...?

 

Existes e insistes existir

e oiço o longínquo emagrecer das pontes de aço

existirás amanhã e depois de amanhã?

não o sei... mas existes

porque o desejo que existas

assim... fictícia e invisível como as nuvens nocturnas

que poisam nos teus cabelos domesticados pelas pombas do rio apaixonado

existes não existes porque então insistes existir dentro de mim...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:13

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