Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

16
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Não sei quem és, como te vestes e o que pronuncias, não sei se és um pássaro em decomposição, uma árvore solitária que habita os jardins da cidade adormecida, tão pouco se és a madrugada, o Domingo quase a terminar, a noite a nascer, não, não sei o que és e quem tu és,

Como posso eu sorrir às tuas lágrimas? Percebes-me agora? O Domingo em término, a noite quase noite, a crescer e a erguer-se na tua boca de cristal, e quase não oiço as tuas palavras de porcelana, e quase, a janela da paixão a encerrar-se eternamente, para sempre e só..., hoje tu, amanhã eu, depois as pedras e os canteiros, as flores, os pinheiros de uma infância entre o mar e a montanha, sinto-me prensado, sinto-me um muro argamassado pela tristeza,

Quem sou?

Não sei, nunca soube, talvez... talvez no Domingo que vem, talvez amanhã, talvez no descanso das roldanas, uma corda em direcção ao sexto andar, subo as escadas, sinto-me cansado, os cigarros, a idade, a saudade, novamente os cigarros,

Oiço-os como testemunhas de uma fogueira em evaporação,

Cigarros vadios, como-os vivos, oiço-te e não sei

Quem sou?

Sim, e tu, quem és, o que fazes aqui, aqui dentro de mim?

Uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras,

E eu, eu sem poemas para ti,

Quem sou?

O vento, sim o vento, pensas que eu sou o vento? Sim, penso, imagino-te sentado na esplanada vazia, apenas uma mesa e quatro cadeiras, conversas com duas ou três sombras, bebes uma bebida invisível, pegas num livro, voltas a poisa-lo sobre a mesa, depois vais à gabardina e puxas de um pequeno caderno, acendes o cigarro, desorientadamente...

Quem sou?

O cigarro acende-se a ele próprio, ganha vida como as tuas palavras, sofre e chora, e acredita na tristeza como acredita que tu, sim tu

O vento!

Sim eu, percebo que me imagines como o vento quando se alicerça na minha pele, sim como o vento, quando rodopia em redor dos meus seios, e tu, e tu

Eu?

Oiço a voz, oiço-os a arder na escuridão de um final de Domingo, amanhã, amanhã talvez..., amanhã talvez “uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras”, e eu, e... eu,

Só, eu e uma corda em direcção ao sexto andar...

E eu, eu sem poemas para ti,

Quem sou?

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 16 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

16
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Como acreditar... como confiar... como? Apenas acreditando e confiando..., apenas navegando, apenas, sem mais, nada mais do que, como? Apenas, e muito, os livros e as personagens dos livros, os livros e as estórias dos livros, os livros, as mulheres, as mulheres e o corpo das mulheres, sós, apenas, como?

Como ser feliz quando não se é feliz, como, como acreditar... como confiar... como?

Sendo,

E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando?

Sendo, parecendo ser e não o ser, esperar, esperar, só, sentado, numa banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas

Palavras?

As loucas palavras?

Sendo, eu sei, voando, se eu soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e ficando, e deixando

As loucas palavras?

Como retirara venda dos olhos, se ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas dos céu, servindo, como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores, as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo como tu, apenas, assim... como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos na fogueira, sendo, acreditando e

Palavras?

As loucas palavras?

Sofrendo, e ardendo em ti quando transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?

Acreditando,

E

E como confiar?

Confiando,

Não o sei, apagando esse fogo, ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e

Acreditando?

E acreditando...

Acreditar? Brincando como palavras sós, desejosas de serem desejadas, brincando, brincando sós, nós, entre árvores e rios, e socalcos como telas envelhecidas das paredes novas do amor, acreditando?

Acreditar... que, talvez, o amor, viva como vivem os homens e as mulheres, brincando, e sofrendo, e acreditando... confiando, vendo e sendo, uma noite vestida com pregos e tábuas finas, e as lâminas de água, e os barcos envenenados com saudade e o silêncio,

Confiando?

Como confiar se amanhã pode não ser Sábado?

Sendo,

E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando? Acreditar, sim, sim sendo, sentados como ontem, sentados a ver o mar, a regressar de longe, apenas e sós, sendo, eles,

Acreditando,

Acreditando?

Acreditando que assim sendo, amanhã, amanhã regressará para nós, os ditos sonhos, que vimos fugir, que vimos partir... como um tornado correndo montanha abaixo, sós, nós

Acreditando?

E em acreditar... eu... sofrendo, sofri, não dizendo que... amanhã poderá não ser Sábado,

Quem o garante?

Ele?

Ela?

Ou... vós, vós que sois cortinados de uma janela à beira do precipício...

Esperando

Acreditando que acreditar,

Não,

Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nãos mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos desejando, corpos... acreditando.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:38

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