Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Dez 19

Trago em mim a fome da saudade.

Não sei quem sou, nesta cidade deserta,

Cansada da verdade.

Trago em mim a fome da tristeza,

Quando o vento se alicerça nos teus lábios.

Trago em mim o silêncio da noite,

Quando um livro perdido, se levanta, e avança contra a escuridão.

Trago em mim o sofrimento do desejo,

Como uma cancela escondida pela geada,

E na montanha, tenho escondidas as lágrimas da calçada.

Trago em mim a morte,

A dor,

E o sonho de adormecer no teu colo.

Trago em mim a saudade,

A fome,

A vaidade.

Trago em mim a felicidade,

De um dia, voar,

Nas tuas mãos,

No teu sonhar.

Trago em mim a fome de sofrer,

Dentro de um relógio indignado com o tempo.

Trago em mim a fome de escrever…

Escrever palavras de alento.

Trago em mim a fome de ser,

Ser quem não sou,

Que sou ser,

Invisível,

Nesta Galáxia complexa da noite.

Trago em mim o prazer,

O sonho,

A vontade de viver.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

08/12/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:58

14
Abr 19

Recordações,

Equações diferenciais em construção,

Pedaços de silêncio suspensos numa mão,

A mão que assassina, a mão que escreve,

E nunca esquece, as planícies da minha infância.

Recordações,

Pequenos livros em promoção,

Livraria UNI VERSO,

Sempre em verso,

Nas palavras corações,

Nas palavras a clemência…

O silêncio verso,

O silêncio amanhecer,

De escrever,

Morrer…

Sem perceber,

Os dias da semana.

A fome em pedaços, em prestações,

O papel amarrotado,

Coitado, do papel, amarrotado,

Como as plantas,

Envenenadas pela voz da razão.

Um coração palpita,

Grita…

Junto ao mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

14/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:47

25
Jul 17

Uma janela esfomeada

Virada para o mar,

O cansado dia prisioneiro na janela virada para o mar,

Uma janela esfomeada

Na luminosidade obscura da cidade,

Entra um barco em soluços,

Embriagado pelo sal,

Uma janela esfomeada

Na sombra das árvores do quintal,

Um pássaro vestido de janela…

Procurando o cortinado do anoitecer,

A prenda,

O segredo de hoje,

Os indignados de ontem…

Com a notícia de hoje,

O prego enferrujado no “CU” de Judas…

Longe de mim,

Perto de ti…

Uma janela esfomeada

Sem coração,

Recheada de beijos,

Abraços…

E o carrasco enforcado na janela esfomeada,

Virada para o mar…

Termina o Sol,

Nasce a noite nos socalcos do cansaço…

E vai-se vivendo ouvindo as tuas palavras vãs…

O anão,

O eterno anão a “cagar” no deserto.

FIM.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:16

14
Jun 17

As máquinas infernais do sofrimento não cessam de chorar,

Escavam o corpo até que a madrugada surja no horizonte,

 

Os ruídos sinusoidais da pequena vergonha de viver

Adormecem como cães raivosos deitados ao luar,

Chamo por ti, meu querido mar…

E sinto na arte de escrever

O sinfónico e desgraçado monte,

 

Sou uma alma aborrecida.

 

Sou uma alma faminta.

 

Os pássaros quando brincam na minha janela

E lá longe acordam as planícies de cartão

Dos dias desesperados à luz da vela,

 

Sou uma alma sem coração.

 

As máquinas infernais do sofrimento não cessam de chorar,

Escavam o corpo até que a madrugada surja no horizonte,

Uma criança não se cansa de brincar…

Entre risos e papeis na casa do rinoceronte,

 

Sou uma alma faminta…

 

Sou uma alma aborrecida…

 

Sou.

 

Sou

Uma alma

Sou uma alma sem tinta.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:31

12
Out 15

desenho_12_10_2015.png

Fontinha – Outubro/2015

 

Ouvi-los… nunca,

Estes loucos pássaros envergonhados e tristes,

Estes homens sem fronteira

Galgando a sombra de outros homens,

Na fome, na miséria beleza

Quando o mar se aproxima, e mata, e eles fingem morrer,

Junto à ribeira,

Com o medo de tudo perder,

Eles, os pássaros, eles, os homens sem fronteira,

Agachados nos riachos envenenados pelo dinheiro,

Rastejando no capim outrora fértil de palavras…

E hoje, e hoje Oceanos de lágrimas laminadas.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 12 de Outubro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:05

06
Dez 14

As migalhas do teu suor

quando há nuvens com fome

e esqueletos sem nome...

os tentáculos da tua dor

mergulhados na calçada do Adeus

há uma rosa

há uma flor

que a noite alimenta

e não quer

na lareira da solidão

mas só as estrelas conseguem

desenhar na tua mão,

há uma paisagem sem amor

no sorriso de um caixão

há jardins embriagados esquecidos na escuridão

as migalhas do teu suor

quando há nuvens com fome

e esqueletos sem nome...

há ossos de papel voando na madrugada

que só o amanhecer consegue parar

há barcos infelizes

e há barcos apaixonados...

mas as migalhas do teu suor

são os alicerces da cidade dos pássaros aprisionados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 6 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:35

30
Nov 14

A cidade a arder

quando os teus lábios se entranham nos meus lábios

alguém liga o interruptor da noite

e ela cai sobre os teus seios

como a tempestade

ou... ou a destruição do muro que nos aprisiona

e come a cidade a arder

e as ruas em fuga

para a outra margem

o barco escondido nas tuas mãos

nos leva

e desaparecemos na neblina,

 

A fogueira que há em ti

e faz do teu corpo o aço em delírio

o sino da aldeia nos acorda

e alimenta

e encanta...

como um jardim despido à nossa espera

tenho medo das tuas garras de serpente sem nome

envenenada pela paixão

a cidade a arder...

na cidade com fome

da cidade sem coração

da cidade dos rochedos em liberdade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 30 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:01

12
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Parecemos esplanadas de vento correndo nos algerozes das montanhas abandonadas,

penso se não existirá dentro de nós a melancolia dos barcos apodrecidos, como ossos molhados, como corpos cansados, como eu, e como tu, dois ventres desventrados, amorfos, humildes como sanzalas de granito, vadios...

parecemos dois loucos escondidos na sombra da madrugada ainda não nascida,

perdidos nas palavras ainda por escrever...

olhamos as estrelas que deixaram de brilhar,

comemos o pão como quem come a sombra de uma árvore...

indolor, infestados de giz depois do recreio escolar,

tu, e eu, debaixo de um busto sem nome,

 

Correndo, brincando... enganando a fome...

correndo, correndo calçada abaixo, até que acordava o dia, até que da tua bocas eu sentia a tristeza dos perdidos calendários de Fevereiro,

o medo,

o medo das clandestinas vozes da escuridão,

e no entanto,

sem o sabermos,

inventávamos estórias de adormecer,

sem o sabermos... estávamos mortos numa janela de esqueletos.

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:48

08
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Há uma fogueira sem nome que alimenta as lágrimas tuas,

há uma lareira em fome procurando os teus lábios mergulhados no nocturno sofrimento do desejo,

há em ti uma luz ténue que consome, que vive, que... que escreve no teu corpo os versos da solidão,

há uma fogueira que morre,

uma labareda dançando na calçada da vida, que vive, não vive... e sofre, e morre... morre como morrem as pétalas dos jardins de papel,

há uma fogueira sem nome dentro do teu peito anónimo, perdido, uma fogueira... com mãos de mendigo,

 

Há uma fogueira nos barcos que passeiam no teu rio, o rio que tens dentro das tuas vadias veias,

há um menino que chora,

há uma mulher que não dorme, e acredita nos telhados de vidro,

há lá fora um cão chato, que não se cala, que... e sofre, e morre... morre como morrem as pétalas dos jardins de ternura,

há um vestido suspenso no guarda-fato, “procura-se empregada doméstica”, menina séria, menina honesta,

há... há uma vida construída de pequenos aviões, sem motor, sem palavras... sem sonhos, nada, nada há nos teus sobejantes cansaços em delírios febris.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 8 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:18

23
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Começávamos a alimentar, primeiro os porcos e as galinhas, depois eles, e nós, quase sempre, os últimos da ninhada, nunca chegava, parecia-nos pouco, ou nada, sentávamos-nos sobre o tanque do terreiro e olhávamos o silêncio repatriado das papoilas navegantes das caravelas em bolor, sentíamos a ondulação da tristeza a entranhar-se-nos como facas de um velho faquir no tronco da velha árvore do recreio,

Recordas-te ainda dos arvoredos infelizes que dormiam em nossa casa?

O velho faquir tinha uma mulher que costumava aparecer junto a nós, sempre de branco, talvez porque ela apenas vivia de noite, porque ela era filha da noite, poderia eu perguntar-me se ela era a minha mãe, pois eu

Adoro viver de noite, queria ser a noite sem interrupções, lanternas mágicas ou... cortinados com estampados de verniz e cansados nos arames verticais das ruas entupidas de lixo, mendigos, nós à procura de outros mendigos

O Velho?

As facas gemiam quando entravam na fina casca da madeira e não sabíamos que o velho faquir usava uma máscara de vidro para que ninguém o reconhecesse... ao que parece, ele

Eu sou o filho da mãe noite, eu sou a faca que rompe a madrugada, eu sou a roseira que quando chora

Dela brotam as pequenas gotículas de sangue que a saudade esconde na sombra das mangueiras dos quintais longínquos das esplanadas viradas para o mar, o filho da noite, eu, eu não sabia que existiam eléctricos, não sabia o significado de eléctrico... e dizia ao meu pai que o autocarro da carreira se apelidava de

Machimbombo,

Eu sou o filho da mãe noite, eu sou a faca que rompe a madrugada, eu sou a roseira que quando chora, ouvem-se-lhe os picos em aço inoxidável infestarem a velha árvore do recreio, rompíamos as calças, e usávamos joelheiras em napa para disfarçarmos os tentáculos e húmidos buracos da Primavera,

(começávamos a alimentar, primeiro os porcos e as galinhas, depois eles, e nós, quase sempre, os últimos da ninhada, nunca chegava, parecia-nos pouco, ou nada, sentávamos-nos sobre o tanque do terreiro e olhávamos o silêncio repatriado das papoilas navegantes das caravelas em bolor, sentíamos a ondulação da tristeza a entranhar-se-nos como facas de um velho faquir no tronco da velha árvore do recreio, e não sabíamos que havia dentro de nós uma fina tábua, quase invisível, recheada de prego, e durante a noite, o velho faquir...)

Adormecíamos acreditando que tínhamos o estômago cheiro, estávamos fartos, tão fartos que até inventamos uma sanzala em papel só nossa, a nossa sanzala de papel com pequenos charcos para durante a noite

Chapinávamos nos charcos da sanzala de papel inventada por eles e acreditávamos que éramos felizes assim,

Assim,

Como?

O machimbombo,

A chuinga estremecia-me a dentadura de marfim que tinha partido do jacaré em pau-preto, havia uma imagem que nunca esquecemos, os barcos zangados rompendo pela cidade como animais ferozes e envenenados pelas castanhas ondas que o abismo desenhava em nós, e tu, e eu,

Dormíamos,

Sou teu filho, tu, a noite que me acolhe, alimenta, afaga o cabelo,

Branco?

Não negro,

As roseiras?

Não às bolinhas,

Esqueci-me da cor do meu cabelo, esqueci-me que a minha mãe dorme enquanto eu, eu sonho, e invento palavras para te recordar dentro de uma lápide sem nome, idade, como o poema escrito e deixado sobre a mesa... depois de fazermos amor... voavam os campos de centeio que zumbiam em Carvalhais, olhávamos as espigas do doirado milho...

E não sabíamos que Machimbombo era autocarro da carreira...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

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