Perdeste o sentido da vida. Alimentas-te de sorrisos e lágrimas e empunhas para mim o teu cigarro suicidado, tosco, escaldante Domingo na triste madrugada.
STOP… meu amor; STOP.
Fotografia censurada pelo Facebook
Perdeste o sentido da vida. Alimentas-te de sorrisos e lágrimas e empunhas para mim o teu cigarro suicidado, tosco, escaldante Domingo na triste madrugada.
STOP… meu amor; STOP.
Fotografia censurada pelo Facebook
O acrílico beijo
na tela do desejo
sem medo de perder
o acordar da madrugada
ele abre a janela
e percebe que afinal...
a madrugada é um fantasma
uma coisa de nada
sombras
silêncios
e
e abraços na escuridão
ela sabe que os dias morrem
e nas aldeias de granito
habitam pássaros de papel
coloridos
aventuras
sem destino
acorrentados aos gritos da caverna do adeus
ela sabe que os dias
poucos
nenhuns
absorvem a luz
disparada por um olhar invisível
e no entanto
o beijo transforma-se em fotografia
negra
como o poço da morte
na infância de uma cidade perdida
há nos seus lábios abelhas
e pincelados corações de pólen
e voam
poucos
nenhuns...
homens conseguem entranhar-se no seu corpo
e ela desaparece em cada avenida do sofrimento.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Março de 2015
As imagens tridimensionais da fotografia a preto e branco
há no seu rosto a melancolia da cúbica equação
as sílabas castanhas do primeiro amor
a equação em dor
a metáfora linhagem do sangue embriagado
cintilando
amar
não tenho vida
sou um desabitado eterno apaixonado...
pelas palavras
sorrisos
e riscos
havia outro comboio para regressar aos teus lábios
perdi-o passivamente
como um gladíolo adormecido
derrubei muros invisíveis
palhotas de silencio
antes de nascer o dia
fui habitante da cidade dos mabecos
menino desenhando círculos
na húmida saudade
que só a chuva consegue abraçar...
e hoje
hoje pertenço às imagens tridimensionais da fotografia a preto e branco.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015
(desenho de Francisco Luís Fontinha)
deixei de sentir a tua fotografia nos meus lábios
vi uma lágrima de vácuo galgando o teu rosto
em direcção ao mar
pertencíamos aos peixes sem asas
brincando sobre a árvore das palavras
havia uma tempestade de aço
sobre as tuas pálpebras amordaçadas
e não sabíamos que o amor era um fugitivo
um cadastrado destino
um homem suspenso na gravata dos cintilantes amanheceres
um cadastrado destino
acorrentado à tua fotografia
sem tu o saberes
perdemos os abraços
os beijos
e as caricias defeituosas da madrugada
perdemos o orgasmo literário de uma janela em Belém
sem tu o saberes
a noite construída de infinitos gemidos
e nem tempo tivemos para desamarrar o luar que nos cercava...
o fugitivo amor
um cadastrado destino
a noite construída de mimos
e armadilhas
e simples ruínas
como o vómito da cidade depois de acordar...
sem tu o saberes
o exilado casaco de couro balançando na ponte da angústia
o cheiro sulfuroso das avenidas em flor...
e da tua fotografia que vivia alicerçada aos meus lábios...
nada
desapareceu na neblina
talvez cansada
talvez... talvez
talvez ensanguentada nas mãos em ciúme.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015
(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sobre os meus ombros de xisto
tenho nos versos a enxada do silêncio
e no peito a espada do cansaço
sinto as tuas lágrimas de estanho
descendo a calçada
como uma fotografia
morta
rasgada
e a noite constrói-se no teu cabelo
sempre que um relógio engasgado
adormece no pulso da insónia,
não existem imagens nas minhas mãos
tenho medo da cidade depois de se erguer a madrugada
sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sinto as tuas lágrimas de estanho
nesta triste parede embriagada
pelo medo
pelo tédio...
morta
rasgada
uma algibeira sem nome
perdida na estrada
sem nome... esquecida na perpétua estátua da liberdade.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Dezembro de 2014
A lentidão do desejo sonífero
que mergulha nos teus abraços sem sentido
o espelho da insignificância em pedaços de papel
que do vento regressam os fios loucos do teu cabelo iluminado pelo luar
trazem alegria
trazem poesia...
e tu pareces não perceber
que a lentidão do desejo
é uma digital fotografia
que arde
e que grita
a cada novo dia...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 4 de Novembro de 2014
A astronomia loucura do profeta
as paredes encarceradas do guerreiro desconhecido
à força e pela força
o cansaço espaço de luz nos confins rochedos da melancolia
a astronomia
embriagada pelos momentos sem pressa
numa carta de despedida
sem palavras
ou... ou remetente
uma aventura na escuridão da cama do sonambulismo
os cigarros absorvidos pela morte do fumo colorido...
e um caixão de espuma poisado nos alicerces da canção de revolta
cessem este destino
e o silêncio
da atmosfera encarnada em comestíveis soluços de desejo
a astronomia loucura do profeta
sentado em frente ao espelho da agonia
sem sentido
sem... sem melodia
antes de acordar o dia
o vento sofrido
o corpo mordido pelos meus dedos
o odor embalsamado do prazer
em finíssimos gemidos
e uivos...
e no entanto
não existem ruas na minha mão
casas
flores
nada
apenas... um rio adormecido numa fotografia
e um Domingo desorganizado e despido...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 29 de Novembro de 2014
foto de: A&M ART and Photos
Perspectivo-me sobre a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso
há uma linha transversal que nos separa e aproxima
como uma fotografia sem nome na mão do louco muro em xisto
desço às fronteiriças margens do desejo
desço até que sou engolido pelo cosseno de trinta e cinco graus dos teus lábios...
desejarás-me ainda depois das equações diferenciais dormirem dentro dos quadriculados cadernos?
Invejo-te a liberdade
e os voos nocturnos quando se esquecem de ti e tu
e eu
suspensos no estendal das sílabas poéticas que o veneno da tua boca alicerçou na tempestade
há em nós uma circunferência de luz com braços de areia
húmidas todas as palavras dos anzóis do medo das sanzalas com vozes de zinco
com olhos de fome...
e chove
chove sobre o teu corpo de nylon onde se abraçam os barcos desvairados quando o vento se entranha no amor e nos transporta para o infinito
e lá ao fundo... a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 5 de Janeiro de 2014
As mãos,
Vejo-as sobre a fina areia que o silêncio golpeia nos cascos moribundos de barcos ensonados, são vermelhas, as mãos, as mãos que o vento trouxe e semeou ao longo de um triângulo de luz, sem braços, cabeça, onde vejo apenas os tristes lábios de insónia, cruzo os braços, tal como eles o fizeram, e entrelaço as minhas mãos, para não as perder, para não me esquecer que tenho mãos, ou que um dia tive mãos, macias, de Cinderela, sumarentas comas as pétalas, como os vidros das janelas antes de ela os acariciar, as minhas mãos, escrevem, não tocam, mas inventam palavras nos muros de xisto,
Vejo-as e sinto-as,
No meu rosto coberto pelas tempestades de pólen que as abelhas transportam, de longe para longe, elas, as mãos infindáveis das tardes de Primavera parecem, aparecem, e
Desaparecem,
E deitam-se como se fossem palavras espalhadas sobre o papel branco, penumbro, e aos poucos, vou construindo o desejo, e aos poucos, eu e ela, vamos desenhando o prazer nas dunas sapientes dos distantes luares que nascem em África e vêm morrer na Europa com um Passaporte travestido de um outro transeunte, em migalhas, poucas, das velas dos veleiros doentes, elas, as mãos, poisam-se-me na face ácida, em chapa inoxidável e robusta, desaparecem
Vejo
Vejo-as,
As manhãs com ondas e espuma, oiço-as, a todas elas, espalhadas pela longínqua areia que os sonhos trazem, ou trouxeram de longe, e vão para longe, como voando à boleia do vento sem asas, livremente dentro de uma fotografia, a fotografia sem mãos, sem pernas, sem cabeça, apenas
Com rosas vermelhas, disfarçadas de mãos, as mãos do desejo em decomposição, putrefacto, o medo, o tédio, o nada, o nada quando elas, as mãos vestidas de botões de rosa, vagueiam, amam, desejam-se, como se desejam os homens, como se desejam as mulheres, as plantas e os animais, e Deus?
É esta a tua partida depois de morreres?
E da espuma há neblinas que cobrem as cidades, embrulham-se nos edifícios esfomeados e de alicerces apodrecidos, há jardins com bancos de madeira onde se sentam os amantes, trocam palavras – Amo-te muito, meu querido! - do mar um som em forma de farrapo percorre distâncias inseparáveis e atinge o jardim dos amantes – Eu também, eu também! - e ambos sabemos que numa fotografia sem mãos, pulsam os nossos corações, e a minha pele sobeja da pele dela, e na boca, em ambas as bocas do jardim dos amantes, um desequilíbrio de espuma escorre pelo canto da boca, molha os lábios e
Nasce o desejado beijo,
O beijo da fotografia sem mãos.
@Francisco Luís Fontinha
(Texto escrito para o desafio de: Maria Mendes: Alguém consegue escrever um texto para esta linda fotografia?)
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/
(Alijó)
foto: A&M ART and Photos
Imagens, solstícios de imagens descem metodicamente do tecto do impostor prazer que a luz provoca nos corpos negros, absorvidos pelos espelhos e pelos cortinados de espuma, onde te ajoelhas, onde te deitas, onde
(me masturbo)
Imersas minhas mãos nos solavancos que os vidros de areia escrevem nas paredes de barro depois das chuvas dos finais de tarde, lamento informá-lo mas
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
Mas ficou-nos sobre a mesa-de-cabeceira as fingidas pétalas dos perfumes embriagadas depois de caírem sobre as lajes de granito os melancólicos ossos da paixão dos peixes, havíamos construído e declarado guerra aos apaixonados cansaços vestidos de sobretudo encarnado, circulavam pela cidade, durante a noite, em busca de imagens, comida e simples jornais desvairados que alguém tinha deixado nos caixotes do lixo, um dos títulos anunciava a possibilidade da queda do governo, e se ele cair, que caia, mas que não se aleije, salvo seja, senhores das imagens que entram pelos meus olhos, eu nua, eu com uma câmara fotográfica em busca de um passado desperdiçado nas clareiras águas salgadas das praias com varanda para as traseiras, íamos à janela, e suspendíamos os seios no peitoril cinzento com saliva esverdeada, perguntávamos-lhe o que tinha, e ela respondia-nos
Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo)
Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço... todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer Dona Menina Amélia... olhe
Seja o que Deus quiser,
E se ele não quiser, paciência, venham as imagens esquecidas, venham os bancos de jardim com ripas de madeira, venham eles e elas, todos e todas, a luz e a escuridão, o silêncio e a algazarra, o branco e o negro, e as pedras, e
(os barcos de papel com melodias entrelaçadas nos dedos)
E as flores, todas as flores, não falando nas algibeiras com a laje apodrecida, as moedas, poucas, caem até se estatelarem na cave, sombria, e sem janelas e sem abraços, coitadas, infelizes, aqueles e aquelas, pobres miúdos de porcelana com sorriso de nuvem embebida no sono longínquo das amendoeiras em flor, e se eles caírem?
(Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço... todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer Dona Menina Amélia... olhe), um dia perceberás a minha cabeça, um dia perceberás que sou tão normal como todas as outras pessoas que circulam à nossa volta, como são as moscas, como são as abelhas, como são todas as imagens, e todas as palavras
Normais,
Sou normal como qualquer árvore do jardim de Luanda, ou como qualquer machimbombo ou como o Mussulo, normal, sou, como a estrada para o Grafanil, ou
Normais,
Ou o cheiro da terra depois da chuva, e um dia, um dia perceberás que apenas a mulher da máquina fotográfica, essa sim, louca como os comboios em direcção ao Tua
(pare, escute, olhe... atenção aos comboios)
Proibido fumar, peço desculpe PROIBIDO O TRÂNSITO PELA LINHA,
E o Tua morto,
É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair
Caiu como vão cair os finos fios de luz das mandíbulas empobrecidas, loucas, loucas, loucas como uma montanha de areia, com braços de aço e olhos de plástico, simplesmente, se caírem que não o façam sobre mim,
(É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair)
O importante são as imagens, e por muito que eu o descreva, acredite em mim, só vendo, consegue vossemecê imaginar uma mulher nua dentro de um quarto escura a fotografar sombras? E junto à mulher um escadote com acesso ao infinito? Consegue?
É claro que não, Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo),
Ou por falta de luz...
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha