Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Mai 15

Fujo de ti,

Transformo-me em cinza

Ao anoitecer

Sem perceber

Que na minha mão

Morre,

Um cigarro,

A arder,

Fujo de ti

E sei que da noite apenas regressam as sombras

E o cheiro do capim,

Entre sílabas e imagens,

 

Entre barcos

E

E náufragos sem identidade,

Ignoro-me

E fujo,

Como fogem os lírios em cada pôr-do-sol,

Como fogem os corações em cada solstício,

Perdi-me,

 

E fujo.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 15 de Maio de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:28

15
Mar 15

o engate suspenso nos anzóis da tarde

à mão

regressa a caneta da solidão

e há nuvens de papel nos olhos do poema

és livre

de voar

sobre os corações de xisto

que habitam as imagens a preto e branco

do Douro

navegar

subir ao luar

e,

 

e abraçar-se aos vulcões de areia

dos homens

e das mulheres

de sombra,

 

imaginar

desenhar nas entranhas pálpebras de amar

o silêncio do beijo

à janela

o mar avança e nos leva

somos dois

talvez...

três

o engate

à mão

suspenso nos anzóis da tarde

a tarde... a tarde dos farrapos de vidro...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:35

13
Mar 15

No trajecto da insónia

um ponto embrulhado nas coordenadas do silêncio

percebe-se pelo movimento lento

que a parábola incendeia o pequeno quadrado

lá dentro o medo

viver ele

enquanto desenho na ardósia tarde

o significado das imagens nocturnas do prazer

o corpo é um pesadelo sem porto onde aportar

viver ele

no mar

e cansa-se do rasurado veneno que o vento semeou

 

a carta regressa

endereço insuficiente

ausente

talvez morto

talvez contente...

no mar

o luar pincelado de andorinhas marés

e ele

sempre ele

viver ele

e cansa-se

não o devia fazer

 

fugir

sem...

sem deixar um bilhete sobre a secretária

ou

ou apenas um traço no espelho embaciado da casa de banho

eu percebia

ausentou-se

foi-se

nunca mais voltará aos livros...

nunca mais acordarão as vozes das sílabas embriagadas

nos sonhos

da alvorada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 13 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:56

21
Jan 15

Pintura_74_A1_Nova.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

a náusea palavra aprisionada nos lábios da dor

trazes nas veias o poema de luz

que dorme nas raízes do medo

o silêncio do teu sofrimento

folheando um livro sem imagens

melancólico

abstracto

a ilha

sem árvores

sem casas de pano

como tínhamos no Inverno

sem percebermos o que era a saudade...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:53

08
Dez 14

Não sabia que o teu nome

era apenas um nome

uma solitária palavra

sem alma

sem coração

sem... sem barcos ao anoitecer,

 

não sabia que o teu nome

era apenas um nome

sem corpo

sem sombra...

 

não sabia que o teu nome

era apenas um silêncio

sem imagens

sons

ou... ou fotografias

em constante mutação,

 

não sabia

não sabia que o teu nome

era apenas uma assombração

uma cidade esquelética voando no pôr-do-sol,

 

(Não sabia que o teu nome

era apenas um nome

uma solitária palavra)

 

como as pálpebras do poema antes de ser o poema,

 

não sabia que o teu nome

era apenas um nome

um soluço mastigado nas sílabas do Diabo...

não sabia

que... que o teu nome

é como a areia húmida

e o mar apaga todos os seus desenhos

como a morte... apaga todos os seus corpos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:04

02
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Perdi o teu olhar na penumbra seara de trigo,

tínhamos descoberto o silêncios dos rios que dormiam nas nossas veias,

perdi o teu olhar das palavras por escrever,

e sentia em ti o desejo de partires,

à janela apareciam as imagens que tínhamos deixado do outro lado do muro,

havia um fino sorriso de melancolia e as tuas mãos tremiam como tremia a tua voz de centeio,

perdi o teu olhar,

e da penumbra seara de trigo apenas sobejaram as flores envenenadas dos beijos adormecidos,

Descemos a montanha,

dormíamos nas almofadas clarabóias das rochas graníticas,

líamos as estrelas junto ao cais das laranjeiras, e... e sentíamos o florescer da manhã com rosas,

sobre nós um papagaio de papel lançava pequenos grãos de areia e alguns favos de mel...

as abelhas descoloridas morriam,

como nós, hoje,

cadáveres de gesso suspensos nas amoreiras,

e havia sempre uma criança em ti que me fazia sonhar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 2 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:48

08
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não sei como és

não percebo das tuas sombras a neblina das rosas ao amor

não entendo a tua presença nas andorinhas em flor

não o sei

como és

ou... se o és

também

tu

uma flor

não sei como és

nuvem

ou simples pedaço de xisto

 

não como és

não percebo o porquê dos teus sete pecados mortais

das avenidas embainhadas

nas madrugadas

como és

ou se... és o que eu acredito que o sejas

uma gaivota disfarçada de veleiro

muitas fotografias esquecidas nos jornais

e no entanto

não sabendo como és...

acredito nos espelhos com abraços em aço Janeiro

não como o és

 

mas... seres o vento

uma janela mal fechada

um pérfido edifício em ruínas

como tu

eu

o és...

somos esqueletos vagabundos mergulhados no mosto cerâmico da paixão

mas... seres o vento

o amanhecer construído por jangadas de vidro

montanhas encarnadas

ribeiras

feiticeiras

 

ou... simples palavras

adornadas nas esquinas prateadas

não sei

como

o

és

não percebo as acácias em flor

os julgamentos complexos por aviadores com capacetes de cartão

escrituras

letras e letras e uma mão sobre o teu rosto envenenado pela insónia

não sei como és

não percebo das tuas sombras a neblina das rosas ao amor

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 8 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:09

20
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Projecto-me tridimensionalmente no muro onde poisas, todas as noites, os cotovelos, seguras a tua doce cabeça com as pequeníssimas mãos de menina apaixonada, olho-te como se fosses uma imagem prateada tingida com pedaços de azuis cerejas que numa tela simplesmente mergulhada na noite desgovernada, ela, absorve-te, alimenta-se de ti como as abelhas do feminino pólen com sabor a masculino desejo, e depois de saber que és uma imagem prateada tingida..., os pedaços de azuis cerejas borbulham-se-te com cobertores suspensos numa janela dançarina, bailarina eu?

Bailarino, tu!

E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?

Bailarino, bailarino sem profissão conhecida, artista sem arte, Tímido, eu? Que me dera ser como tu, uma triste alga dentro do rio sonolento das varandas com gradeamentos enferrujados, tristemente, eles, dentro de ti, às sílabas farto eu escrever, Tímida ela?

Perdia-se-lhe os mínimos sons da sua voz nas pétalas doiradas das rosas transeuntes das ruas prostituindo-se como reles bancos de jardim, onde todos se sentam, e eles... apenas estão lá, não pelo prazer, apenas estão lá porque os obrigam a estar, porque se não fosse dessa forma...

Tímidos?

Os corpos reluziam como gaivotas, e das ripas em madeira dos teus ombros, as alegres asas de porcelana, meu amor, Tímida? Quando sei que o teu corpo é incenso que arde num prato de cobre, música alimenta-se em ti, e os versos

Bailarino, tu!

E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?

Versos no cardápio ao preço de vinte e cinco euros a dose, aprece muito, isenção de IVA, e com a oferta de uma bebida branca...

Bailarino tímido, eu, ou tu?

Tenho uma vida cúbica, tenho sonhos quadrados e sofro em círculo, sou um perfil geométrico, alimento-me de senos e cossenos, fumos tangentes hiperbólicas, e faço o amor com as equações diferencias..., afinal, quem sou eu? Um pedinte matemático? Um bailarino/Bailarina, Tímida? Um hipercubo com braços de esperma descendo escadas de cinzentos soníferos com orifícios a imitar as janelas de luar?

Bailarino, tu?

És um triste, és uma integral tripla sobrevoando o momento fletor dos teus livres seios na viga do desejo... oiço-te gemer, a musicalidade da tua boca é uma pauta com sons débeis, difíceis de engolir, fáceis de mastigar..., textos, palavras, livros bolorentos entre vacas e carneiros no centeio do tio Joaquim, vivíamos como dois palhaços embriagados pelos sorrisos das marés envergonhadas dos longínquos mares que descobrimos nunca terem existido..., e o vento

E o vento vai desalicerçar a tua singela estrutura de bailarina rodando em redor do teu centro de massa cuspindo momentos angulares como fazem as nuvens antes de adormecerem nos teus braços...

Ainda acreditas, que, eu, Bailarino... Tímido?

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:03

02
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Sento-me nesta cadeira de gente, só, pego nas palavras e semeio-as sobre uma fina toalha de linho, sentado, percebo que sou um ignorante diplomado, sinto que lá fora, no meu jardim, há pássaros novos, vê-se pela penugem, parecem ainda bebés, depreendo que nasceram aqui, e aqui vão crescer, até se fazerem homens, mulheres, e zás... desamarrarem-se do cais seus pais e nunca mais regressarão, ou talvez um dia, quem sabe... regressem, visitem as minhas já então velhas árvores, possivelmente, a figueira, deixara de existir, possivelmente, o pessegueiro recheado de atrozes, possivelmente, a cerejeira, essa, de coluna vertebral inclinada a quarenta e cinco graus, e nada, ou quase nada, que, eu, possa fazer para mudar o curso normal das coisas, estas, banais, e tudo, porque estou sentado numa cadeira de gente, só, pego nas palavras e semeio-as sobre uma fina toalha de linho, sentado, oiço-te quando gritavas o meu nome do outro lado da rua, havia casas rasteiras entre nós, um dia quis fazer de uma velha televisão um aquário para peixes, abri-a, e queria abrir o velho embaciado ecrã do televisor munido de válvulas e outros apetrechos, ligava-se e a imagem aparecia segundos, minutos, depois, como das palavras do outro digno Senhor “Precisa de aquecer as bobines e parece um poço a deitar música”, neste caso, imagens, a preto-e-branco, além de parecer uma bomba, fiquei com o rosto golpeado, tudo, porque o dito explodiu, transformou-se em areia, finíssima, como a tua pele doirada depois de bronzeada pelos dóceis dedos pertencentes à minha mão,

Que parvalhão acreditaria na possibilidade de fazer um aquário do ecrã de um velho televisor?

Eu, sento-me nesta cadeira de gente, vejo-te entre a roldana do tempo e a corda das cinzentas nuvens de fim de tarde, oiço-te do outro lado da rua, das casas rasteiras, vozes, rádios vomitando músicas, e músicas inventando imagens na minha ainda cabeça de criança. Cerro os olhos, entro num longo túnel com muitas cadeiras iguais às que hoje me sento, cadeiras de gente, só, eu, pego nas palavras e levo-as comigo, sozinho, dentro do túnel com uma das mãos enfiada na algibeira, porque perder as sementes de palavras, certamente, o meu fim, assim, ainda me resta a esperança de sobreviver às magoadas paixões de silício, semicondutores, dentro de mim, aumentam-nos a velocidade, a aceleração multiplicada pela minha massa, sinto-me sentado, mas realmente há muito que não durmo, não como, apenas existo para guardar a algibeira das palavras, e consigo ver a força expressa no espelho

(Nunca duvidei que F=m * a)

E é tão feia, velha, serão assim no futuro as minhas árvores onde acabaram de nascer este belos pássaros?

Oiço-os, existe um melódico som como quando, às vezes, oiço pela trigésima sétima vez elevada ao cubo, o projecto Wordsong (AL Berto), e eu, sempre dentro do túnel, e eu, sempre de mão na algibeira, posso perder tudo do pouco que me resta, mas perder estas poucas sementes de palavras, minhas, inventadas para ti,

E pergunto-me?

Falo em ti e nem sei quem porra tu és...

És homem? És mulher? És pássaro, vento, madrugada, esplanada, beijo, púbis, coxas? Não... possivelmente não és nada,

E pergunto-me?

Falo em ti e nem sei quem porra tu és...

Sento-me nesta cadeira, de gente, só, embriagado pelo silêncio dos Deuses adormecidos, pego na mão, abro-a, começo, vagarosamente a semear as poucas palavras que me restaram sobre a fértil secretária de madeira, oiço o soluçar do teu corpo, e sinto-te, tu, do outro lado da rua, as casas rasteiras, tu, brincas com uma roldana, és a responsável pelo andamentos dos relógios de pulso, ou daqueles como o meu, suspenso na parede da sala, e de quinze em quinze minutos...

Horrível, o horror de saber que existes, do outro lado da rua, as casas rasteiras, e não sei quem és, como o serás nua, se és homem, se és mulher, se és pássaro, vómito, canção, poema, desenho ou apenas alguém a brincar numa roldana,

Sento-me nesta cadeira de gente, só, pego nas palavras e semeio-as sobre uma fina toalha de linho, sentado, percebo que sou um ignorante diplomado, sinto que lá fora, no meu jardim, há pássaros novos, vê-se pela penugem, parecem ainda bebés, depreendo que nasceram aqui, e aqui vão crescer, até se fazerem homens, mulheres, e zás... desamarrarem-se do cais seus pais e nunca mais regressarão, ou talvez um dia, quem sabe... regresses para olhares pela primeira vez a minha sementeira de palavras.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:08

01
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

Talvez um dia percebas porque dançam as minhas lágrimas

e navegam nos meus débeis braços os barcos de vidro martelado

talvez um dia entendas as personagens de mim

que são de ninguém

como sombras bailando debaixo da chuva

assim

como palavras entre linhas de um caderno negro

e os carris da saudade em direcção à minha caneta de tinta permanente

 

Talvez um dia o mar seja o nosso reencontro no mergulho do desespero abandono

que todo o pôr-do-sol sofre antes do cair a noite

e acordem milhões de parvas estrelas

que não falam

não escrevem

talvez um dia venhas a perceber quem sou eu

do que padece o meu empobrecido esqueleto

como um texto com duzentos e seis caracteres

 

Talvez... as minhas lágrimas

e navegam nos meus débeis braços os barcos de vidro martelado

que dos pomares de areia com sabor a amêndoa

do outro lado da janela

um menino embalsamado brinca com um parvo boneco

de nome chapelhudo

e talvez um dia um dia acordem as neblinas imagens de ontem

com as perfumadas sílabas de hoje...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

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