Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

16
Set 18

É noite, meu amor!

Sinto os teus braços entrelaçados no meu peito,

Um rochedo de saudade fundeado em mim,

Onde o peso da tristeza voa sobre o meu quarto abandonado pelas flores,

Sofrimento, a dor da fórmula matemática sem resolução,

Como a morte,

Ao final da tarde,

Os insectos poisados no teu corpo espelhado pelo nascer do sol…

É noite, meu amor!

Todos os dias são dias de insónia,

Tortura,

Desespero sombrio das cavernas habitadas por húmidas ardósias de espuma,

Desço o rio,

Mergulho nos teus lábios de poema adormecido,

O louco,

Adormecido,

É noite, meu amor!

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16/09/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

19
Nov 17

A noite começa a perder-se nas tuas mãos, entre montanhas sinto os teus lábios emagrecidos pela solidão, adormecidos, tristes… perdidos, abençoadas estrelas que me iluminam sem qualquer tipo de perdão, uma carta não escrita, algumas palavras semeadas no teu olhar, quando lá longe, oiço o assassino do mar, mãos ensanguentadas, lágrimas disparadas pela espingarda do sono,

Um canhão evapora-se debaixo do luar, escrevo-te para me sentir feliz, invento-te para me sentir livre, rebelde e desemparado nas ruelas nocturnas do cansaço, oiço-os

Vomitam insónias, dormem no desassossego dos pássaros envenenados pelos teus lábios, os livros sofrem, os livros morrem ao nascer do Sol, e tenho no corpo um solstício amedrontado, oiço-os

Marcham Calçada abaixo, rumam aos bares não iluminados, estátuas de sombra sentadas numa esplanada, debaixo, em cima, e, no entanto, sou um soldado desgraçado, moribundo, procurando barcos nas tuas pálpebras…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Novembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

30
Set 17

O invisível sono nas pálpebras tua dor, os beijos inventados pelos teus lábios nas gélidas noites de Inverno, o latido de um cão, solitário, na rua das traseiras, os teus lençóis suspensos na madrugada, enquanto nas minhas mãos crescem pedacinhos de esperança, serei capaz de cuidar de ti?

A serpente da dor…

As lágrimas envenenadas do teu sangue, as límpidas madrugadas sem destino camuflada pelo sofrimento, os ossos rangem, o cabelo voa em direcção ao mar, e longos silêncios de pequenos muros de xisto nos separam, o dia, a longínqua noite, a claridade das sombras dispersas no teu corpo,

Serei capaz? As nuvens desencontradas nas frestas do cansaço, as pequeninas sílabas de dor comestíveis nas nocturnas avenidas do sonho, e o maldito sono embriagado saltitando de casa em casa, e tu, e tu aconchegada ao meu ombro, sempre sonâmbula, e embrulhada num cobertor de medo…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Setembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

18
Mar 17

Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

As silabas estonteantes do sono

Que adormecem nas velhas esplanadas junto aos rochedos,

Vive-se acreditando na miséria do sonho

Quando lá fora, uma árvore se despede da manhã,

Um beijo simples,

Simplificado livro na mão de uma criança,

Um beijo,

No desejo,

Sempre que a alvorada se aprisiona às metáforas da paixão,

Sinto,

Sinto este peso obscuro no meu coração,

Sinto o alimento supérfluo da memória

Quando as ardósias do amanhecer acordam junto ao rio…

E na fogueira,

Debaixo das mangueiras…

Os teus lábios me acorrentam ao cacimbo,

Sou um esqueleto tríptico,

Um ausente sem memória nas montanhas do adeus,

Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

A uniformidade das palavras

Que escrevo na tua boca,

Sempre que nasce o sol

Sempre que acordam as nuvens dos teus seios…

E um barco se afunda nas tuas coxas,

Oiço o mar,

Oiço os teus gemidos na noite de Lisboa…

Sem perceber que és construída em papel navegante…

Que embrulham os livros da aflição,

Um beijo, meu amor,

Um beijo em silêncio

Galgando os socalcos da insónia…

Vivo,

Vive-se…

Encostado a uma parede de vidro

Como leguminosas no prato do cárcere…

Alimento desperdiçado por mim.

Desamo.

Fujo.

Alcanço o inalcançado…

E morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/03/17

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:06

10
Set 16

Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:29

23
Fev 16

As quatro esferas de quartzo

Desalinhadas na estrada da insónia

A simplicidade do silêncio mergulhada no meu corpo

Até que ele cai no poço da alvorada

Não sinto nada

Sou indolor

Como as manhãs de Inverno

Recheadas pelo sono da madrugada

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 23 de Fevereiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

16
Fev 16

Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,

Sabíamos que tínhamos uma viagem para alimentarmos a alma,

E nenhum de nós se aventurou,

Olhávamos os sorrisos da morte…

E os pregos do inferno,

Estávamos acorrentados ao desejo

Como duas loucas gaivotas poisadas no mastro de um barco,

Flutuávamos no infinito da solidão

Sem percebermos que do outro lado do rio

Um cais nos esperava,

Cordas,

Âncoras de amanhecer com odor a nostalgia,

O silêncio das garças embainhado nos nossos corpos suados

Como bandeiras por hastear…

Baloiçando o amanhecer,

Comendo pedacinhos de sol e algumas flores adormecidas pelo frio,

Tínhamos na algibeira o rochedo dos sonhos

Que todas as manhãs nos acordava,

Tínhamos nas mãos as pétalas em papel dos lábios de uma cegonha,

Envergonhada às vezes,

Atrevida, outras,

Debruçávamo-nos sobre o poço da insónia junto ao quintal,

E assim ficávamos até voarmos em direcção à montanha…

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:53

13
Fev 16

A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim

Assassinadas pelo coração do poema

Absinto

O mínimo tempo consagrado aos insectos

Que poisam no teu olhar

Imaginávamos o silêncio

Nas treliças da saudade

Sempre em desespero

Neste labirinto de espuma

Camuflada pelas mandibulas do cansaço

O louco sorriso

Nas avenidas do sofrimento

Que absorvem a cidade do medo

O teu corpo disperso na escuridão

Descendo do luar

Até à minha mão

(A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim)

Mortas

Trémulas segurando uma velha esferográfica

Escrevia em ti o sentido lapidar da timidez

Como um rochedo de insónia

Navegando no Oceano

A morte

Vivida a cada segundo de luz

A morte

Vivida a cada milímetro de tristeza

E voava nos teus braços

E voava nas tuas coxas

Até adormecer junto ao mar

A noite

O labirinto da palavra

Despedindo-se das uniformidades da sentença escrita

Morte

Até que as lágrimas se transformavam em flores assassinas

O dia inventado nas pequenas limalhas do desejo

Acordávamos sobre os lívidos secretos da angústia

E terminávamos nos limos do corpo

Desejado

Indesejado

Do corpo

No corpo

Do majorado envenenado

Observávamos as gaivotas construídas no papel pelas mãos do pôr-do-sol

E nada mais tínhamos nas veias

Apenas sangue sofrido

E pedacinhos de areia…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 13 de Fevereiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

08
Dez 15

O tempo cessou de vomitar

As horas os minutos e os segundos

Estou só

Aqui

Converso com um invisível copo de uísque

Recordamos os momentos passados junto ao Tejo

O embriagado soldado

Subindo a Calçada da Ajuda

Com o Doutor Vijago debaixo do braço

Não sei se o tempo me quer

Ou se eu quero o tempo

Estou só

Aqui

Neste convés sem janelas

Neste mísero abraço

Aqui

Estou só

Converso com todos os fantasmas da noite

Reparo que um deles odeia-me

É tão fácil odiarem-me

Aqui

Olhando o sonífero luar nos términos da insónia

Sou pobre

Nada telho para te oferecer…

Apenas beijos e livros

Coisas insignificantes

Sem destino

Quando menino dormindo na sombra das mangueiras

O musseque fervilhava de paixão

Havia sexo

Orgias

Orgasmos

E gemidos

África é um Paraíso

Sem nome

Sem morada física

Como eu

Aqui

E só

Escrevendo parvoíces

Coisas que ninguém lê

Palavras

Palavras

Palavras do Diabo

Sem dono

Sem ser amado

A felicidade acorda nos teus lábios

Framboesa das manhãs sonolentas

Dos castiçais amedrontados do templo do amor

As aventuras das crianças pretas meus irmãos também

A morte regressava-lhes de vez em quando

E sorriam

Cantavam

Beijavam-me como se beijam os Coqueiros nas fotografias

E o tempo cessou de vomitar

As horas os minutos e os segundos

Estou só

Aqui

Só…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 8 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:22

29
Nov 15

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

Sento-me e espero o regresso do teu olhar

Que vem do outro lado do Oceano

Trazes-me o sonho e a saudade dos musseques sombreados

Trazes-me a voz e o desejo

E eu sentado nas asas em papel que inventaste apenas para mim

Olho-as e vejo nelas a desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade

Uma criança entre baloiços e sobejantes sorrisos prateados

Espera-te junto a um portão imaginário

Entras

Ela abraça-te e afogas o cansaço do dia na minha face

 

Não tenhas medo do mar

Nem dos barcos invisíveis

Não tenhas medo das árvores

Nem dos pássaros amestrados que brincam nas mangueiras

Desenha na terra húmida os círculos os quadrados e os triângulos da alegria

Depois vais conhecer o amor

E a paixão de amar

E a solidão do amanhecer

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

E pareço um marinheiro aportado em Cais do Sodré…

Vendendo insónia e coisas enigmáticas de chocolate.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 29 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:22

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