Jacarandá-africano ou mpingo, e o bicho empanturrado de bolachas com três dentes de marfim partidos, e o menino dá, o menino dá, e o menino à espera no portão pela chegada do avô Domingos, e o bicho preso por um cordel encostado às mangueiras, empanturrado, cansado de dar voltas ao quintal, o menino a contar os carros em direcção ao Grafanil, e o Grafanil já ali, com os bracinhos suspensos no pescoço do avô Domingos, o menino dá comida ao bicho, e o bicho acenava com a cabeça que não, não mais comida, e o menino teimoso a enfiar bolachas e restos de pão.
O avô Domingos estafado, cansado, o avô Domingos com um machimbombo preso às mãos a passear as ruas de Luanda, e todos os dias as mesmas ruas, e todos os dias o menino ao portão à espera de um abraço e a contar os carros em direcção ao Grafanil, e todos os dias o crocodilo em Jacarandá-africano com a boca recheada de bolachas, o menino dá, o menino dá comida ao bicho, e o bicho escondia-se na sombra do fim de tarde.
Jacarandá-africano ou mpingo, e o bicho empanturrado de bolachas com três dentes de marfim partidos, e o menino dá, o menino dá, e o menino à espera no portão pela chegada do avô Domingos, e o bicho vivo, hoje não bolachas nem restos de pão, o bicho hoje vivo, à espera da chegada do avô Domingos, e o avô Domingos ausente, deixou de entrar pelo portão, hoje não avô Domingos, hoje não carros em direcção ao Grafanil, hoje apenas um crocodilo em Jacarandá-africano que todos os dias diz ter saudades do menino e do avô Domingos.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
2 de Maio de 2011
Alijó