Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Abr 19

O fogo.

O belo que arde,

O feio que resiste à tentação da paixão.

As lâminas da solidão quando alimentam as madrugadas de Inferno,

O algodão,

A barriga negra, queimada pelo xisto abstracto da noite,

O cansaço da fogueira,

Que descansa na calçada,

As lâmpadas do sofrimento,

O belo que arde,

O fogo,

A fogueira onde brincam as flores,

Os pássaros e as abelhas,

Poisam docemente nos teus lábios…

Apenas nos teus; em mim, não.

O medo de arder enquanto chove na minha mão,

O medo de te perder enquanto chove no meu corpo salgado pelo Oceano do clitóris…

Amanhã,

Não.

O fogo,

O regresso das espingardas de cartão,

Pummmmmmmmmmmmmm….

Suicida-se a poesia nas lápides,

Suicida-se o poema nas palavras tristes das lápides…

E… PUM.

O tiro certeiro na cabeça do carteiro,

A revolução dos petroleiros que a maré vomitou,

Marinheiros,

Mulheres,

Gajas, gajos,

Embriagados pelo amor.

Eu não.

Nunca.

Pum.

Morreu o caderno negro.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:39

21
Jan 15

Pintura_63_A1_Nova.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

não imagino a tua ausência

meu amor

sou o espelho do sofrimento

da tua luta

imagino as tuas lágrimas de silêncio

no pergaminho sono da clandestinidade

vais morrer

e nada tenho para escrever na tua lápide....

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:51

06
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

 

uma lápide de silêncio sem sentido nos teus lábios

havíamos conversado quando nada o fazia acreditar

que a noite trazia as correntes verticais da chaminé do desassossego

havia uma janela no teu peito

e sempre que te visitava

desenhavas-me um beijo nas minhas mágoas de Salomão

tínhamos descoberto o olhar e os olhos e as pálpebras que escondem o olhar

quando terminava o dia e recomeçava o amanhecer nas coxas de uma flor esverdeada

tinhas-me desenhado com lápis de cor nas nuvens dos três ângulos

e eu sentia-me envergonhado por pertencer às estrelas sem nome

vagueando entre poeira e pedaços de madeira tristemente abandonadas

como o Céu onde pensavas que eu habitava

não não meu amor

sou alérgico ao Céu e aos habitantes do Céu

não não meu amor

sou alérgico às palavras e às lápides negras com bocas de porcelana

não

não meu amor...

uma lápide de silêncio sem sentido nos teus lábios

não quer dizer saudade

um cigarro na tua boca não significa tempestade

vento

beijos impregnados num lenço de claridade

não não meu amor... uma lápide é uma lápide

um beijo é um beijo

e a noite

às vezes

e a noite nem sempre é a noite

porque tínhamos descoberto o olhar e os olhos e as pálpebras que escondem o olhar

e descobrimos o verdadeiro amor...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

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