Sobre o arame dos dias
Caminho silenciosamente para a outra margem
Poiso-me como se fosse um pássaro
Quando nos lábios emagrece a aragem
Das horas dos dias e dos meses,
O vento balança-me e sinto-me embriagado
Pela pasmaceira de estar vivo…
E continuar firme como um calhau lançado
Rabina abaixo.
Que quereis vós de mim senhores da terra?
Que me ajoelhe e vos lamba as botas
E engula as rochas da serra?
E nem a fome vergará o meu esqueleto decrépito
Porque o meu corpo poderá vender-se, e porque não?,
Mas a minhas convicções e ideais
Jamais se venderão,
Vender o meu corpinho sim
Lamber botas é que não,
Irrita-me dá-me nojo
Alergia e comichão.