O desgostoso ancorado
Autómato desajeitado das tardes infelizes
O corpo fumado
Entre paredes de xisto e perdizes…
Da montanha de areia
Descendo pela veia
No braço do enforcado
O desgostoso
E desamado
Feitiço da madrugada
O corpo encostado
Aos pilares sombreados da falsa calçada…
E do rio vem a semiófora rebelião do desempregado
Malditos carneiros
Pastando na planície do amortecido emplastro desassossegado
A fotografia rima com preto-e-branco
Mais branco do que preto
Os olhos pintados de sonâmbulas bolhas de luar
O desgostoso
E desamado
Feiticeiro da noite
Volátil cansaço dos silêncios abandonados
Quando regressam os rochedos
Aos claustros fumados…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 30 de Abril de 2017
O sonho morre nas mãos do luar,
A insónia do meu peito, arde nos teus olhos,
E do sonho, pequenos panfletos de areia… voam em direcção ao abismo,
O papel onde escrevo alicerça-se aos teus lábios,
Fico sem palavras, também morro nas pétalas do sonho…
Fixando no olhar a tristeza do mar,
Assassino os meus dias com as pedras da solidão,
Cravo espadas na sombra da noite, como um pedestal apaixonado,
Louco,
O sonho morre,
Como eu…, aos poucos dentro da tempestade,
Sinto nas tuas mãos o poema em sofrimento,
Rodeado de finas lâminas de desassossego,
Nas mãos do luar,
Arde nos teus olhos,
Como um Deus desvairado…
Suspenso na madrugada,
Galgo as rochas do infinito adeus,
Percorro pirâmides de luz como uma espada queimada no meu peito,
E choro a ausência do esquecimento,
Da vida,
Da vida camuflada pelas marés de Inverno,
Os barcos cercados pelos anzóis da pobreza,
Marinheiros escorregadios…, saltam até ao próximo bar,
Bebem desenfreadamente os copos da alegria,
Sentindo no olhar a Cinderela manhã de inferno,
Escoa-se o tempo nas janelas do sofrimento,
Há nas pálpebras da doença o sentido proibido da morte,
As nuvens vão levar-me,
E a cidade desaparece no caderno onde desenho os teus beijos,
Como desapareceram todos os fantasmas do meu secreto olhar…
Francisco Luís Fontinha
domingo, 11 de Setembro de 2016
Vagueio no teu corpo como se eu fosse um mendigo
Em busca de pão,
Paz
E desejo da liberdade,
Quando regressa a noite ao teu olhar
Todas as estrelas se suicidam no teu sorriso,
E as minhas palavras ardem nos teus lábios…
Vagabundo e apaixonado,
Mendigo e iletrado,
Pássaro,
Avião,
É tudo o que eu sou… em busca de pão…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Outubro de 2015
(Francisco Luís Fontinha)
O amor entre quatro paredes em vidro
Pincelado por um louco,
O amor de tão pouco…
Em nada satisfaz a luz da solidão,
Um coração dilui-se na madrugada semeada nas palavras,
O livro que o louco tem na mão…
Arde como ardem os cigarros das quatro paredes em vidro,
Esqueci como era o mar,
Esqueci como enferrujado está o meu corpo,
Sem perceber a mendicidade nocturna das pontes entrelaçadas nos petroleiros do luar,
O meu relógio cessou de gritar,
Afogou-se numa esplanada de vento…
Quando o rio brinca nos meus lábios,
Sinto-te correndo em direcção às quatro paredes em vidro,
Escondes-te no meu peito,
Sofres,
E não sabes o nome da minha cidade,
O amor de tão pouco…
Louco travestido de alvenaria,
Entro, sento-me… e fico até encerrar a livraria,
A paixão é uma tempestade de saudade,
E nunca sei se hoje há literatura nas tuas coxas,
E nunca sei se hoje há coxas embrulhadas em literatura…
Porque tu és um quarto escondido entre quatro paredes em vidro.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Agosto de 2015
“Mãe, as pedras falam?
Um dia, um dia… meu filho!”
O silêncio adormecia em ti
Como adormecem todas as tristezas
Dos dias insignificantes
Entre poesia
E viagens ao desconhecido
Tínhamos todas as imagens do sono
Habitava em nós o cansaço
E a solidão da noite
Ouvíamos o ranger da janela
Em pérfidos orgasmos de prata
O silêncio das coisas inacessíveis
O sexo desacreditado
Numa cama de um qualquer hospital
As lágrimas
Nas janelas
Para…
O mar, mãe?
Um dia, um dia… meu filho!
No poço da penumbra
Os teus braços engasgados no medo
O amor
Quando inventado na madrugada de papel
E deixamos perder o luar
Amanhã, mãe, amanhã as pedras falam?
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 1 de Maio de 2015
O significado da paixão
De todas as noites
Só
Encerrado entre cinco paredes
Um pavimento
E tecto
Aluga-se
Meu amor
Barato
Farto das palavras
E do sindicato
Todos os Domingos
Feriados…
E… Domingos
Lembro-me de ti
Meu amor
Da carroça de bois
Penhorada ao silêncio
Das ervas
E
Dos cheiros
A morte alimenta-me
Sinto-a perto de mim
Como sentia o cheiro a “puta”
Quando…
Lisboa
Cais do Sodré
Fome
Não fome
E literatura
Farto-me
De ti
De mim
E deles
O significado da paixão
Pintado na parede da solidão
As palavras reduzias ao pó da insónia
Cresce
A
Noite
Em ti
Meu amor
Das palavras
E palavras
Limitada
Angola à vista
Apenas no mapa da infância
Meu amor
As sílabas apaixonadas do teu corpo
No meu corpo
O inferno
A chuva
Outra vez…
A paixão
O ódio das tristes tardes no jardim
Outra vez o jardim
E o beijo
Outra vez a vida
E o desejo
Em ti
Das minhas tristes palavras…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 30 de Abril de 2015