Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

25
Jan 20

Percorro estes montes de ninguém,

Na ausência do prometido poema,

Cansaço da madrugada,

Quando alguém me chama,

Me grita,

E me acena;

Triste é esta calçada,

Onde habito sem memória,

Sem história.

Na noite desgarrada,

Escrevo, pinto, o teu retracto,

Passeio-me pelo infinito amanhecer,

Sem perceber,

Que nas minhas palavras,

Vivem os esqueletos malvados,

Sem sono,

E, alicerçados,

Às palavras vãs,

No bosque,

As árvores, o silêncio da luz,

Que me traz a saudade.

Pinto,

Sinto,

Que todas as sílabas,

São balas assassinas,

Munições de esperança,

Quando acorda a noite.

Sabes?

Amanhã serão apenas sombras,

As tuas palavras,

Que alimentam a madrugada.

O silêncio da luz,

Nas mãos do poeta…

Perde-se,

Vive-se,

De quê…?

Sempre que amanhece,

Neste corpo zangado,

Filho e filha,

Passeando por aí…

Passeando ausente,

De mim,

E, de ti.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

25/01/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:08

03
Mai 19

A morte.

A tempestade dos cadáveres poéticos,

Quando do espelho, ao anoitecer, a mão do poeta sufoca o próprio poeta.

O comboio alimenta a morte,

O poema,

O texto.

O corpo do poeta evapora-se nos lábios de uma rosa,

Voa,

E chora ao anoitecer.

A morte.

A fragrância das palavras deitadas sobre a mesa,

Um candeeiro a petróleo vomita lágrimas de luz,

Escrevo,

Apago o que anteriormente escrevi,

Porque não faz sentido,

Porque a morte é parva, estúpida e ignorante…

A faca,

O pescoço alicerçado à lâmina,

O frio do aço que escorrega debaixo das mangueiras,

E nos braços, junto aos pulsos, a cratera do desespero,

Sem perceber o significado do sonho!

As nuvens suspensas na madrugada,

De hoje,

De ontem…

E de amanhã.

A morte,

A sagrada morte num corpo sofrido, silenciado pela sombra…

Nos teus braços.

Adormecer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

03/05/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:51

17
Mar 19

No futuro, amar-te-ei?

Escrevo-o no teu corpo de incenso.

 

A escravidão de amar.

 

STOP.

 

A carta que nunca recebi,

As palavras tontas, esfomeadas, que enviaste da cidade,

As ruas íngremes, sonolentas e cansadas…

 

Como eu, o assalariado poeta das noites perdidas,

Sentir no corpo o peso da tua sombra,

Quando descem sobre mim os candeeiros a petróleo,

Imaginados pela loucura,

Numa tarde de Primavera.

 

A morte.

 

A sorte de morrer, sem o sentir,

Sentir a morte, sem morrer,

Nos livros,

E, palavras.

 

O fim.

 

No futuro, amar-te-ei?

Escrevo-o no teu corpo de incenso,

O lanche envenenado pela solidão,

O pão,

O sorriso do teu cabelo,

Nos jardins de Belém…

 

A partida.

Para sempre; a morte, da morte…

Na morte.

 

E, as palavras.

 

As palavras da morte.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Março de 2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:06

04
Fev 18

Semeei o teu corpo numa jangada de vidro,

Vi partir o teu corpo em direcção ao mar,

Levavas os livros, levavas as memórias das noites perdidas,

E os sonhos vividos,

Semeei o teu corpo pensando que um dia adormecerias em mim…

E da tua partida,

Pela madrugada,

Algumas nuvens brincando na alvorada,

Palavras imensas, palavras dispersas em ti como um grito de alegria,

Hoje pertences às sombras do infinito,

Argamassadas no sombreado jardim de pedra,

E, no entanto, meia-hora depois, sentia o teu rosto na minha mão.

Ninguém apareceu à minha partida, fui só, apenas eu…

Como nas noites junto ao rio,

Perdidamente angustiado na solidão dos dias,

Escrevia no chão a revolta da doença,

Lançava lágrimas na escuridão,

Pobre, sem-abrigo, neste corredor de lume,

A lareira também ela, doente, infeliz e triste,

A cinza, o silêncio das fotografias, que poisavam no teu olhar.

As mãos trémulas, as mãos cansadas como pedras…

Fundeadas nos teus cabelos.

A noite, meu amor, a noite mergulhada na madrugada,

O metro entre curvas e pingos de luz, deixando a terra, caminhando para o horário nocturno das sanzalas de ninguém,

Em foco, as luzes que te incendeiam os lábios, em cada beijo,

Uma cansada palavra.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Fevereiro de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:54

17
Jul 17

Há-de crescer no teu peito a saudade,

O lívido Oceano vergado à tua sombra longínqua…

Que brinca nas minhas mãos,

Um dia regressará a mim a tua sonolência em forma de deserto,

As árvores do teu passado são hoje páginas argamassadas de poesia,

Livros dispersos sobre o mar,

Escondo-me de ti,

Tenho medo que digas que envelheci…

E que o rio deixou de respirar,

Há-de crescer no teu peito o feitiço da madrugada,

As correntes que me prenderão aos socalcos inanimados…

A máscara espelhada nos lírios da insónia,

Fragrância perceptível nas andanças tuas pernas subindo o Chiado…

E, eu sentado na penumbra disfarçado de sem-abrigo…

Cuidado,

Stop,

Amanhã aparecerás em frente ao espelho,

Triste,

Tão triste meu amor…

Pertencer a estes livros estacionados na berma da morte.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

05
Dez 16

Esta terra entranhada nas raízes do Diabo,

Sonolenta quando acorda o Inverno,

E uma lâmina de lágrimas brota do seu coração,

Saboreia as espadas da dor

No término da tarde onde inventa o silêncio do desejo,

Uma enxada poisa na sombra da terra lavrada,

E o vulto de cigarro em cigarro,

Como uma árvore deitada

Sobre a esplanada da paixão,

Dorme docemente…

Esta terra é íngreme como as montanhas do Adeus,

Sem sorriso,

E do cansaço brilham as estrelas da noite…

A casa gélida, triste,

Murmuram os candeeiros a petróleo nas cicatrizes da incerteza,

O absoluto orgânico melancólico cilíndrico…

Que o peso da lua deixa ficar sobre os envidraçados lábios,

Esta terra de beijos e moradas,

Esta terra queimada pelo incenso do amor

Que em todas as horas desperta como uma criança de luz…

Sinto o brilho dos teus olhos

Nas almofadas do desterro,

E as palavras que semeias…

Habitam este Inferno de viver.

 

 

Francisco Luís Fontinha

05/12/16

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:52

18
Abr 15

O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração

É o pedestal sem estátua

O amor é a lágrima da solidão

Descendo docemente o teu corpo

Enrola-se nos teus seios

Poisa pausadamente nas tuas coxas

E dorme no teu ventre

Crescem dentro de ti as palavras

E os Oceanos de Luz

Corre o rio da insónia

Que a noite leva

E come

Nas cidades sem pálpebras

O sangue

O teu

Voando em todas as Primaveras

Do calendário da paixão

Alicerça-se à tua boca

Como sargaços de aço

Em morte lenta

Junto ao barco do destino

A madrugada incendiada

Pelos teus lábios de inocência

Como os livros que nunca vou escrever

Uma noite

É o amor nocturno sem vagar para abrir as comportas dos líquidos sonoros do teu púbis

A janela sem cortinado

Lá fora

As miúdas de palha de patins em linha

Danças

Sobre a cama

Suspendes-te no tecto da saudade

Sem ter tempo para a saudade

Uma noite

O amor

Não tem saudade

É o volátil cansaço dos jardins em flor

Os tentáculos de marfim

Nos dentes de um crocodilo

Velho

Uma noite

Alicerça-se à tua boca

Como sargaços de aço

Em morte lenta

Os tristes poemas da amargura

O cais em engate

Como às cordas do silêncio

No pescoço da alvorada

No teu corpo

O corpo

Do cacimbo embriagado

Na tua mão

A enxada da poesia

E o medo toma conta de nós

Não percebo os segredos proibidos

Das clarabóias do infinito

Vejo no teu corpo

A lua recheada de poeira

Ao centro

Sobre a mesa

O teu corpo

Despido das pétalas em cartolina colorida

A sombra do teu cabelo deitada na almofada

O primeiro beijo antes da primeira palavra

(O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração

É o pedestal sem estátua

O amor é a lágrima da solidão

Descendo docemente o teu corpo

Enrola-se nos teus seios

Poisa pausadamente nas tuas coxas

E dorme no teu ventre)

A primeira palavra

Antes do primeiro orgasmo

A sílaba no teu primeiro poema

Escrito no meu corpo

Ensanguentado de veludo

E de fotografias de mortos

Aleatoriamente dormindo na montanha da melancolia

A ardósia tarde partindo em direcção ao mar

Leva-te

Leva-te como são levadas todas as manhãs da minha secretária

O teu corpo

No meu corpo

Invisíveis marés de espuma

O sémen desenhando círculos no teu olhar

E dizem-nos que o impossível

É possível

É comestível

E no entanto

O amor é uma lâmina de pedra

Cravada no coração…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:16

09
Abr 15

A ferocidade do teu corpo

O destino mal calculado

O erro equacional dos orgasmos invisíveis

Sofrimento

Meu amor

Subir as escadas

Chorar

No corredor

Sentar-me na sombra dos cabelos

Perdidos

Nunca mais voltarão a brincar no silêncio

Os teus beijos

 

Embrulhados na clandestina manhã

O sofrimento

Meu amor

Os corredores

Um… um horror

Marés de líquido

Nas tuas veias

Rios

Mares

Salgados barcos

Nos sonhos do teu sonho

Navegar

 

O sofrimento

Meu amor

Navegar nas sílabas da tua boca

Quando caí a noite sobre Lisboa

Os anzóis do sofrimento

Sofrimento

Meu

Amor

Navegar nas tuas nádegas

O comboio escondido entre as urbes embalsamadas

Não me vou perder

Juro

 

Meu amor

Os jornais empilhados junto à lareira

O som melódico do poema

Deitando-se nas labaredas da insónia

Sabes

Meu

Amor

Amanhã serei um vagabundo

Um triste cadáver

Sem palavras

Mudo

Sem braços nem canetas

 

Fujo das tuas garras lunares

Porque sei que amanhã

Meu amor

O poema terá morrido de overdose

Os triângulos das tardes

Na ceara dos lírios

Não quero

Meu amor

Caminhar sobre esta eira de luz

E ouvir

Ao longe

O sino

 

Vê tu

Meu amor

Ao longe

O sino

Vagueando no teu púbis…

Quero o retracto do teu corpo em vinil

Tatuado com Wordsong…

Tento ouvir as arestas da geometria

E da tua pele

O endereço do paraíso…

Em shots

E shots.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 9 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:49

28
Fev 15

Não penso

não imagino as palavras semeadas nos relvados da saudade

não penso

não durmo

acreditando nas marés de vidro

descendo da montanha

imagino...

riscos suspensos na alvorada

crianças de luz gritando pela liberdade

e nada

nem ninguém

nas ruas desta cidade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:38

24
Fev 15

Desenho_A1_056.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

quando as palavras semeadas no papel envelhecido

morrem

aquele que as escreve

despede-se

entre lágrimas e falsos sorrisos

um desenho insignificante

poisa docemente no vulcão da madrugada

sem mágoa

ou... ou paixão

abraça-se à noite dos tristes aconchegos

grita pelos sonhos

e... e em vão...

 

percebe que a vida é um triângulo de luz

voando nas ruas húmidas do desejo

tenho medo do silêncio

e do cansaço dos dias junto ao rio...

aquele que as escreve

despede-se

e parece um vadio

esmiuçando ossos e cigarros

ou... ou talvez não...

porque tem no corpo um vazio

um buraco negro recheado de insónias e imagens sem nome

como têm os pássaros nos prismas imaginados por uma árvore doente...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:51

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